sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O Rei

A trilha sonora de minha infancia é de bolerões, com Angela Maria, Nelson Gançalves, Elizete Cardoso. Um dia ouvi Roberto Carlos e achei minha turma. Nem demorou tanto, surgiu a Bossa Nova e achei que tinha duas turmas, até ouvir a mais nova dizer que a gente não podia fazer parte dos dois grupos: ou vc é bossa nova, ou é jovem guarda. O sofrimento durou muito, quase toda minha adolescencia, ou enquanto durou meu tempo de assumir que gostava mesmo era dos dois: João e Roberto. Tom e Erasmo. Mas era quase errado dizer que se gostava de Roberto. Chegou um tempo em que era quase uma crime ouvi-lo. Passei a ouvir escondido, cantarolando só na minha cabeça e baixinho, suas canções tão bonitas, prum vizinho vigilante não me denunciar. E como havia patrulha naquele tempo! Um dia dei um basta e passei a bradar que gostava mesmo de Roberto. Cagando e andando pra quem achasse ruim. Meus veraneios no Morro eram embalados pelo Rei, às vezes ( e tão somente assim) desafinando pelas pilhas fracas do toca-discos de plástico cujo alto-falante era a própria tampa. Era tempo de dizer, com todas as letras, como é grande o meu amor por você. Qual o problema de dizer ao mesmo tempo que eram coisas que só o coração pode entender? O amor entendia e não se preocupava de onde vinham os versos. Os marrentos ficaram lá atrás, uns torcendo o nariz pro outro grupo. Eu estou aqui hoje, assistindo o especial do Rei. RC ao lado de Caetano, Nelson Mota, Rita Lee, Neguinho da Beija Flor. Eu e Vera. Bonito ver o Rei cantando com Zezé di Camargo. Vera não gosta de Zezé e sai da sala. Ainda bem, não gosto que me vejam mareado.
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foto da web.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Vocês viram?


Acabo de assistir a entrevista de Maria ao jornalista Inimá Simões no programa Sintonia da TV Câmara. Vocês viram? tirante a tietagem genética, achei o máximo! Show de bola! Maria é uma excelente entrevistada, e a gente percebe pelo comportamento do entrevistado; eu já tinha sacado isso, no programa de Marília Gabriela. Ela fica à vontade, como se fizesse aquilo todo santo dia. Acho que foi Dôia quem disse que ela fica "de carçola no quintal". O máximo esta frase de Dodôia. Carequinha, os óculos inconfundíveis que já ficaram a sua cara ( uma lente redonda, outra quadrada, como ela). O sotaque baiano lhe transforma numa personagem da prória Maria Sampaio. Gesticula como um corno, outra marca sua, só faltou chamar alguem de feladaputa. E se entusiasma, os oinhos faíscam quando fala de suas criações e diz sem culpa alguma que não sofre nem um pouquinho ao escrever. Desde pequenininha escreve, desde pequenininha escritora mas tinha tanta coisa pra fazer antes na vida, que deixou esta função pra depois dos cinquenta. Melhor pra nós que fomos recebendo suas artes em doses homeopáticas. Imaginem o que não vem por aí! Uma renca!
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foto de bernardo

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Camamu

Mais notícias do interior:

Fiz esta foto hoje de manhã e achei tão bonita que resolvi mostrar a todos. Dê um clique nela. É uma panorâmica de Camamu, cidade onde passarei mais tempo agora, e que já estou curtindo muito. Em primeiro plano, o rio Acaraí, o cais, a cidade baixa, o comércio; a Igreja matriz dominando tudo na cidade alta ( sim, é assim mesmo que todos se referem). No horizonte, à direita, a baía de Camamu e o relevo já no município e Maraú.
Não consegui o casarão tão desejado mas a vista desta foto, é da varanda do apartamento que entrou na fila!
foto de bernardo

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Mudança


Mudar em movimento
mas sem deixar de ser
o mesmo ser que muda,
como um rio.

Thiago de Mello




Novo sofrimento com as mudanças. Vou ficara a semana toda em Camamu e preciso fincar o pé mas não quero largar minha casa em Ituberá. É como querer ficar com a mulé e a amásia. Entre les deux, mon couer balance. Mandei ver uma casa pra alugar e fiquei superexigente, querendo uma igual à de cá. Mas vi um sobrado do sé. XIX, que se o dono der o sinal verde, me mudo de mala e cuia, vendo a casa, faço qualquer negócio. É de babar, pra quem gosta, naturalmente. Eu sou fanático e não morro sem morar em um casarão mal-assombrado. Vou sempre a Minas e em Tiradentes, fico fantasiando ter uma casa daquela pra mim. Já tenho até umas mobílias que vim ajuntando nos meus anos, pra botar lá dentro: um armário de Pharmácia que virou oratório, um genuflexório, dois sofás de palhinhas com as respectivas cadeiras, uma penteadeira com espelho longo, uma cristaleira com vidro nas portas, uma mesinha com tampo de mármore rosa, um aparador de jacarandá e Tia I + Dindinha que parecem ser móveis de enfeitar, mas são elegantes como as tias que gentilmente lhe cederam os nomes, as tias de Maria, irmãs de tio Mirabeau. Estamos todos aqui, temporariamente, à espera da nossa casa definitiva.
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foto:largo do rosário,ouro preto

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Aviso aos navegantes!




Estou na área, no mar, bem no olho da baía de Camamu. Navegando numa lancha rápida. Podia ser um saveiro, uma lancha pô-pô-pô mas é uma lanchinha veloz pra cacete. Não rasga o mar, toca as cristas das ondinhas, balançando um pouco o meu buchão, prontamente servindo de apoio aos braços. Tem uma água de coco a bordo, singelo agrado do proprietário. Primeiro, no rio Acaraí, não há tombos. Deslize no espelho d'água, fazendo curvas, seguindo o canal. Primeira parada: Ilha Grande. Alguém aí conhece? A igrejinha dá as boas vindas. Segunda parada: Cajaíba, povoado com um numero enorme de estaleiros, de onde saem barcos, escunas, lanchas, encomendadas de todo país. Estou trabalhando.
Desde que anunciei que assumiria a Secretaria de Saúde de Camamu, muitos, todos me desejaram felicidades. Pois seus votos pegaram. Esta viagem é de trabalho. Sério! São duas Unidades de Saúde que foram visitadas e já saíram na prancha de reforma/recuperação/reequipamento. Trabalho duro. E que não me venha seu Celso Chorik reclamar que meu trabalho é mais moleza que o seu. Né moleza nada. A paisagem é que não é igual. Eu já fui a Sampa, adoro Sampa mas fui, vi e voltei. Escolhi Camamu pra trabalhar.
Uma vez por mês, farei supervisão àquelas Unidades, para acompanhar a realização dos serviços.

(Bocejos!...) estou insuportável!..
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fotos de bernardo: baía, ilha grande e cajaíba.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Receitas populares



Receitinha caseira do interior, para tirar cisco no olho:

Pegue a pálpebra como num beliscão e esfregue em movimentos circulares enquanto repete por três vezes o seguinte mantra:

Santa Luzia passou por aqui,
com seu cavalinho comendo capim.

É batata. Se não der certo, procure um oftalmologista.
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sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Mudar, pra que?


Não sei lidar com mudança. Minha casa deve sempre ficar do mesmo jeito de como começou. Não gosto que mudem a mobília. Um dia, um amigo decorador esteve aqui em casa; como eu não estava, resolveu me fazer uma surpresa e trocou tudo de lugar. Quando cheguei, empaquei na porta, até Zé voltar tudo como dantes.
Mudei a fachada do blog, mas fiquei inseguro. Sinceramente, não estou preocupado com os comentários, se melhorou ou piorou. Querem saber? o que passa é o seguinte: acho que ficou melhor, é mais bonito que o outro, mais limpo, as letras ficam mais bonitas, as fotos se destacam, fundo branco é outro papo. Mas logo depois da mudança, bate a nóia: por que mudei? é preciso mudar? é como se eu tivesse abandonando quem esteve comigo tanto tempo. É uma traição. Daí fico um pouco com o pé atrás com o modelo novo. Se alguém, ou a maioria disser que gostava mais do outro, fico arrasado, volto correndo pro modelo velho, cabisbaixo, e apartir daí vou pensar que ele vai ficar desconfiado comigo, tipo: -"me deixou, não deu certo e agora volta, né?" e a outra nóia de ficar abrindo isso aqui, pra todo mundo ler? não, já disse que não gosto de teatro e o mundo não acabou. Pergunto a vocês que já mudaram de modelo: aconteceu alguma coisa a vocês? Me ajudem a superar este momento difícil!
Não vale sacanagem, o momento é grave
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foto:carlos tavare

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Eduardo


-"ItálicoOh, amigo, se esqueci!"

Devíamos ter quatro ou cinco anos. Cada um corria numa direção ao redor da mesa e nos encontrávamos do outro lado; um abraço apertado e repetíamos esta frase que ninguem sabia porque. Caíamos na gargalhada, e começava tudo de novo. Os adultos se cansavam, a gente também mas no outro dia estávamos lá, eu e Eduardo: -Oh, amigo,se esqueci, até se cansar novamente. Não consigo mais lembrar desta frase sem chorar, nomo agora.

11 de dezembro e meu irmão não está mais aqui e o dia se transformou no dia mais triste; não há mais aniversário. Eduardo está morto e me parece impossível escrever estas palavras: Eduardo está morto. Foi assassinado no ano passado enquanto dormia, em sua casa em Valença. Relutei tanto em escrever sobre o assunto mas a tristeza tomou conta e não consigo pensar em mais nada. Não sabemos até hoje quem o matou, nem a polícia. Maria acha que foi coisa de mulher. Tambem acho. Mulher mandou mas pelo menos dois homens atiraram. E ainda tentaram nos matar tambem, deixando a arma junto ao corpo para simular suicídio. Suicídio uma ova. Foram três tiros. Ninguem se mata com três tiros. Não sei o que se passou no seu ultimo momento e me torturo por isso. Não queria que o tivessem morto. Agora é tarde. Ele era um ano mais velho e agora eu vou ficar mais velho do que ele. Não é justo. Não há vantagem em não envelhecer. Nós tinhamos combinado envelhecer juntos e ver nossos netos brincarem. Não conheceu minha neta. Ontem estive com os netos dele e senti tanta pena. Dele. Queria ensinar a Geovana e Iara a se abraçarem longamente e dizerem rindo: -"Oh, amiga, se esqueci." E eu e ele ficarmos olhando, bestas, sem entender nada...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Florbela Espanca




Bice, uma amiga querida escreveu um verso num livro meu e quando li, tive vontade de conhecer mais. Era um verso de Florbela Espanca. Poesia, para mim,é como um quadro ou uma música: gosto ou não gosto, não importa de quem seja. Daí que curto Salvador Dalí, Miró ou F da Silva, com seus monstros coloridos. Adoro QUASE todas as músicas dos compositores reconhecidos e de vez em quando me pego assoviando uma melodia que ouvi na voz muito bonita de Zezé di Camargo. Mas na poesia é diferente, ou eu sou mais maluco do que penso: de meus poetas preferidos, não conheço uma só poesia que não goste: Thiago de Melo, Paulo Leminski e Florbela Espanca. Acho que é porque não sei dizer o que sinto; à vezes, só com poesia se consegue, e eles falam por mim. Não tenho a pretensão de comentar uma poeta. Apenas leiam estes versos da que se chama Florbela d'Alma Conceição Espanca, nascida e morta ( por escolha própria) no mesmo dia 8 de dezembro. Em seu diário, as ultimas palavras escritas foram: -e se não haver gestos novos nem palavras novas?

Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só...
Beijá-me as mãos, Amor, devagarinho...
Como se os dois nascessemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...
Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei pra minha boca!...

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver !
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida !

domingo, 7 de dezembro de 2008

Papai Noel


Joãozinho foi meu primeiro amigo. Seu pai morreu quando tia Elza estava grávida de 5 meses e terminou de criar os filhos sozinha, quer dizer, com suas irmãs, as irmãs Ramos, da Escola Ana Nery. Moravam vizinhos a nós, no Caquende, num casarão conhecido como a Casa das Ramos: um monte de tias, seis ou sete, só duas casadas, além de tia Elza, viúva. Os meninos dormiam no mesmo quarto, mais parecido com uma enfermaria, com as camas na ordem: Joel, Jorge, Jomar e João. O sobrado, antiquissimo, de dois andares, assoalho de madeira. As tias, católicas praticantes, transformavam a casa numa extensão da igreja: santuário, altar, incenso, orações e um silêncio monastérico. Todas falavam baixinho. Joãozinho vivia lá em casa. A casa de vô Chimbo merece um texto exclusivo: era uma África! além dos parentes, vivia cheia de aderentes, um quase mangue. Lá as crianças podiam gritar, fingiam tomar banho, comiam fora de hora, dormiam mais tarde e iniciavam nas vivências sexuais com as muitas domésticas em rodízio nas três casas do 235.

Papai Noel existia. Até o dia em que eu e Joãozinho fizemos o trato: vamos ver papai Noel chegar. Mas na noite de Natal eu permaneci na minha casa zonada e ele teve a ceia com as tias, logo depois, cama. Nem preciso dizer que apaguei, só acordando com ele me chamando, feliz com a descoberta.

Como foi domir cedo, acordou assim que ouviu os pasos de Papai Noel no assoalho do sobrado. Os irmãos dormiam. No canto do olho entreaberto, viu tia Elza entrar no quarto com uma enorme bandeja de prata cheia de pacotes, depositando nas camas, por proximidade da porta: Joel, Jorge, Jomar. Quando a pobre se inclinou pra deixar os pacotes nos pés da sua cama , Joãozinho quebrou o silêncio sepulcral aos berros:

-" Aí, hein Elza?!!"

O casarão veio abaixo, com a bandeja prum lado, os meninos correndo sem saber pra onde, tias chegando de camisolão, e tia Elza dando de chinelo na bunda do maldito, que não parava de rir; mais ela batia, mais ele ria!

Papai Noel estava morto, e o canalha, às gargalhadas. Ele sempre soube. Ele sempre sabia das coisas antes de mim.
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foto humorbabaca.com

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Fashion é pouco!


Não gosto e não sei comprar roupa. Vera sempre compra pra mim. Eu acho que é porque não suporto experimentar roupa. Não suporto e pronto. Nem quando a bendita chega em casa. Vai pro armário e no dia que resolvo vestir aquela peça, isso pode acontecer séculos depois, enfio e...nem sempre cabe mais; não passa da coxa ou a camisa fica justa. Onde já se viu que tem buchão usar camisa colada? Tabem não sei combinar nada. Várias vezes fui mandado de volta pro quarto, pra tirar ou a camisa xadrez ou a calça de listas, ou ambas. Vera me chama de Agostinho da Grande Familia mas quando eu me visto, me acho lindo. Semana passada resolvi comprar. Fui com Vera, a fins de duas calças, a minha única está puída. Na arara da loja de departamentos ( jamais gasto mais do que o razoável num produto que detesto!), verifiquei: -46, serve.
-" Vá experimentar!"
-"Não vou!" Na fila de pagar, Vera me chega com um par de sapato.
-"Experimente!".
-"Não; 40, serve". Começou o buxixo de fila:
-"Vixe meu marido é igualzinho". A outra enxerida que não foi chamada na conversa:
-"Pois se o meu fizesse isso, eu é que não comprava; ficava nu!". Fuzilei com os olhos e fui embora.
Dia seguinte voltei decidido a comprar mais roupa. Seis camisas. Rodei, rodei, uma dúvida terrível...Não sei comprar roupa mas resolvi calar a boca da torcida lá de casa. Tomei foi vaia: as camisas, todas, eram rigorosamente iguais. Mas não é isso que se faz quando a gente gosta de alguma coisa?
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foto de agostinho: megafashionist.blogspot.com

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Clovis


Meu pai foi piloto nas décadas de 30 e 40. Teve um aluno, depois colega-amigo-compadre, Milton Pompílio. A amizade dos dois foi até depois de suas mortes. Eles nos criaram na certeza de sermos todos parentes; nós chamávamos de tios Milton e Anita e os filhos destes, Silvio, Clóvis e Tingo, chamavam de tios nossos pais. Primos, ponto. Meu pai era uma espécie de ídolo da família já que, além de tio Milton, todos os tres filhos seguiram a aviação como profissão. Silvinho morreu jovem, de infarto, após sair de uma academia onde se exercitara. Tingo parou de voar após um terrível acidente que lhe seccionou a traquéia, dando-lhe uma voz quase inaudível para sempre. Clóvis continuou piloto; era exímio e fazia o diabo com um avião e cansei de ouvir meu pai dizer, do alto de sua experiência de instrutor, que viajava tranquilo com Clóvis; ele nascera com o dom. A aviação fora feita para ele. Começou em monomotores e chegou a Boeing. Foi pra Vasp, fazendo linhas nacionais.
Dia belíssimo de sol no Morro de S. Paulo, meu pai refestelado na varanda em frente ao mar mas vivia perscrutando o ar, seu eterno ambiente. De repente, um grito:
-"Puta que pariu! este é Clóvis! Clóvis seu filadaputa!" e caiu numa gargalhada seguida de acesso de tosse de fumante, e concluiu: -com esta ele se fudeu!
Do horizonte se via um Boeing enorme, se aproximando de frente, voando quase rente ao mar, balançando as asas no cumprimento entre pilotos. Clóvis saiu da rota do Rio e anunciou aos senhores passageiros que eles iriam conhecer um dos lugares mais belos do Brasil e passariam sobre a casa do maior piloto de todos os tempos. Quase arranca as telhas da Casa Rola.
24 horas depois foi demitido. Sempre que alguem se referia a este episódio ( da sua demisão) ele deixava muito claro que "o que valeu mesmo foi ter cumprimentado tio Carmilton com um Boeing".
Este era Clóvis Revault de Figueiredo e Silva, meu primo, desaparecido no mar de Maraú. Foi pro céu de avião.
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foto: avidaebela.com

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

15 Anos

Entrar de penetra em festa de 15 anos era quase uma profissão para os frequentadores da década de 60. Os principais acontecimentos debutantes se alternavam entre o Hotel da Bahia, a Cabana da Barra e o CIREX ( este EX era de Exército ). Me desculpem os mais jovens mas nem vou contar onde ficavam estes salões de festas, mas era tudo de milico, como tudo neste país nos anos de chumbo. Entrar de penetra era uma instituição, faltando apenas o regulamento. O uso de paletó era obrigatório, portanto, penetra que se prezava, tinha paletó descansando no armário. Gravata fininha. Terno "caneta parker" era quase sempre proibido por sugerir um improviso de penetra-de-meia-tigela. Circulavam estórias formidáveis de penetras bem sucedidas e casos escabrosos de fracassos, uns trágicos e outros tantos, cômicos.
Dois casos merecem registros por acontecerem com amigos próximos.
Caso 1: Raul, sempre acompanhado de Mula Gaza, além de conseguir entrar, tinha de garantir a bebida do fim de semana. Era feita uma aposta e ele ganhou com louvor. Cirex, orquestra se acabando no palco, valendo um engradado de cerveja: dançar com a aniversariante. Nunca foi de bom tom dar mala. Ela aceitou e em poucos segundos percebeu um cheiro terrível que vinha do parceiro. Tentou se soltar mas ele a segurava firme para completar os 3 minutos contratados pela aposta: dançar todo cagado. Levou a cerveja. Mula Gaza nem bebeu porque não conseguia parar de rir tres dias depois.

Caso 2: Salão de festas do Hotel da Bahia. A gangue de penetras calculou tudo para roubar o peru. Nº 1: apaga a luz, o nº 2 : próximo do objeto do furto, pega o peru a arremessa a meia distancia para o nº 3: do lado de fora da janela recebe o lançamento e o nº 4: na rua, com o motor do carro ligado. Ao sinal do nº 2 a luz se apagou. Segundos de suspense, um corre-corre e as luzes são acendidas. Lá fora os canalhas atônitos, se olham antes de disparar noite adentro. No salão, bem juntinho à janela, uma senhora empoada, sentadinha e perplexa, sem saber como aquele peru foi parar no seu colo.

Post em homenagem a meu primo Clóvis, piloto porreta e penetra profissional ( o nº 3 do caso acima ), desaparecido há poucos meses num acidente de avião em Maraú. Seu corpo está sepultado no mar.
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foto: clubedelanacion.net

domingo, 30 de novembro de 2008

Mena, 70


Mena
Vou repetir o post para homenagear minha irmã. Mas o post de Maria está melhor, recomendo
Bateu a vontade de escrever sobre minha mãe postiça. Mena recebeu o nome de vó Carmena, nascida Carmela na Italia e teve seu nome aportuguesado quando se registrou no Brasil. Mena sempre demonstrou orgulho do nome pouco comum. Quando nasci, ela já estava com 15 anos e ajudou minha mãe a criar os três ultimos filhos. Virou meio-mãe de todos. Casou e nunca teve filhos: dobrou o papel de irmãe. Sempre foi a maior referência afetiva na família. Com a morte de nossos pais, foi alçada naturalmente ao papel que já era seu. Vieram os sobrinhos e todos os irmãos lhe entregam o primeiro filho em batismo. Dinda Mena. Separou, casou de novo. O primeiro marido, um Vadinho com apelido Toinho, lhe levou a juventude. O segundo, Dr. Teodoro Madureira com outro nome pomposo, médico, fera em otorrino, catedrático da Faculdade de Odontologia da Ufba, lhe deu o que merecia mas enloqueceu no final e tentou sufocar sua vida. Mandou andar, saiu com a roupa do corpo para ser feliz. E tem sido. Sozinha de marido, mas feliz. Tem tanta alegria de viver que nos ensinou a aprontar. Saía na noite, brincava carnaval como ninguem, fitinha na testa e brandindo sua indefectível mamãe-sacode para espantar urucubaca, sempre mijando nas pernas e lavando com cerveja; foi no brega com a gente, deu birro de carreira em barraca de festa de largo, tomou todas, correu da polícia por pregar cartaz na rua no tempo da ditadura, dava festas homéricas, tem mais de 100 afilhados (cadastrados!), e quando alguem dizia -Vamos? ela nunca contava até três. Mena topa tudo, em nome da farra. Nos veraneios do Morro de S. Paulo, encabeçava os roubos noturnos e as visagens pra matar Ieda de medo.É uma figuraça. Maria a chama de Dôidia (doida com pronúncia baiana).
Agora em 29 denovembro faz setenta anos.
É uma paixão em minha vida.
E isso tudo com apenas 1,50 m de altura.

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foto de bernardo

sábado, 29 de novembro de 2008

Cadê minha japonesa?




Há uns posts atrás me denunciei como uma figura anacrônica, fora deste tempo, quando reconheci que não conheço mais as novas marcas de carro, além das "quatro grandes". Hoje quase tomo vaia dos filhos quando perguntei por minha sandália japonesa. Eles ficaram atônitos por uns segundos até explodirem em gargalhadas. Daí passaram a apontar a quantidade de palavras digamos, fora de uso, que ainda teimo em usar. Acho que devo muito disso à minha convivência com minha prima Maria. Como meu ídolo incontestável, sempe procurei imitá-la e sempre achei o máximo a sua preocupação em guardar o nosso baianês- inclusive, ela é uma das colaboradoras do delicioso e hilário Dicionário de Baianês, de Nivaldo Lariú. Reparem na linguagem dela. Hoje mesmo nos trouxe duas pérolas: cozinhado e matéria-plástica! Adorei! ela chama vento frio de cruviana, FM de Fêmê e lap top de portátil. Ela é o máximo e está coberta de razão. Acho que o baianês está intimamente ligado à conservação das expressões não só antigas, mas próprias de nosso povo. Banda de música ainda é conjunto; esmalte é fátima, sutiã e calcinha já foram aqui denomimados califon e calçola; orinar e obrar não precisam tradução. Maria tá com tudo e não tá prosa. Enquanto isso, vou me arriscando a ouvir ozadias por pedir minha japonesa. Mando tomar no furico. Ou no toba. Ou no fiofó.

Quer saber? Boa noite, Osvaldo!

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foto inbopil.com.br

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Para Marcus




Sempre renovei minha Habilitação em Salvador e agora resolvi fazer por aqui mesmo; com o universo on line já é possível, sem precisar transferir o prontuário, como antigamente. Tirei um dia e parti para Valença, a capital do Baixo Sul, munido de paciência. Fui recitando o mantra da compaixão a viagem todinha, para o caso de acontecer comigo o que aconteceu com Paulo, meu irmão. Na véspera, ele me contou que tenta sua renovação há quatro meses, porque toda vez que lá chega, a funcionária descobre algo faltando. Ela vasculha os documentos como um policial farejando cocaina num baculejo. Cheguei cedo, 8:30, e peguei a primeira fila: era pra pegar uma senha. Vinte mantras, ficha 16, escrita a mão. Outra fila para pegar o Laudo, num buraco na parede, onde só se via os olhos e os dedinhos gordinhos de outra funcionária. Ela atendia cada pessoa durante 60 mantras. A 120 de chegar minha vez, uma voz do buraco anuncia:

-"Caiu o sistema". Eram 9:40. Uma de farda chega e declama, com as perninhas assim, e os bracinhos balançando:
-" Meio dia a gente fecha e volta uma e meia". Um rapaz magrinho, apavorou:
-"E nós que moramos em outro município, eu moro na roça e não trouxe dinheiro pra comer". Os ombros subiram como resposta. Convidei o rapaz.

Chega meu irmão, com todos os documentos relacionados pela própria farejadora, da ultima vez em que se digladiaram.

-"Este comprovante de residência não vale, tem de ser do mês atual". Consegui tirar Paulinho de lá antes do ataque apoplético. E na parede bem acima da mesa da funcionária, estava em letras garrafais: Art. N do Código Não Sei das Quantas: Desacato a funcionário no exercício da função ( rs...), 6 meses de cadeia e multa. Uma passada no escritório da Coelba ( muitíssimo bem atendidos ) saímos com a conta atual. Ela ainda fuçou por uns 15 mantras. Uma e meia da tarde, outra fila, o sistema on, pega-se o laudo, tira-se uma foto na frente de todo mundo ( aí a gente fica com cara de cachorro que caiu de mudança), atravessa a cidade, fila do Banco, paga-se, outro rumo, fila na Clínica, que letra é essa? com o outro olho, já se operou? não? pague no balcão. Volta ao Detran, outra fila, entrega-se a papelada crescida ( são 4:30 da tarde) e a fuçadeira, sem olhar pra você:
-" Daqui a 15 a 20 dias, telefone pra saber se já está pronta. Só falta agora levar os comprovantes numa Auto Escola pra fazer o curso ou uma provinha".

Saí de lá com a certeza que a fuçadeira não tem mãe. E foram 735 mantras no total. Mas terei minha carteira na mão por mais cinco anos ( quantos mantras serão?...)

Anime-se Marcus!
PS escrito em 27/11 para não haver dúvidas: a despeito do aviso na parede, pintei-lhe o diabo com a fuçadeira!
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foto do detran.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O Morro não tem vez...


Volto do Morro sempre com o mesmo sentimento: absolutamente dividido entre o mal estar de ver o que acontece por lá e a imensa e eterna paixão pelo lugar. Vontade de tirar ( quase) todo mundo de lá pra ver se ainda salva. Impossível. Vai é piorar. A lógica do comércio se estabeleceu de forma inexorável e ninguém pensa diferente. Assisti a uma conversa entre dois " moradores", onde se discutia não a melhoria do meio ambiente ou da vida das pessoas mas sobre o que seria melhor para atrair mais e mais turistas, e os mais e mais endinheirados. O turista comum já não os interessa, gastam pouco, sujam muito. Precisam focar naqueles que chegam de avião, cheios de euros, se entocam nos hotéis com piscinas (?!), contratam umas putas, fuc, fuc, cheiram até poeira dos aparelhos de ar condicionado e vão embora pra voltar paroano. Nem aprendem a dizer bom dia na lingua local, muito menos obrigado.

Por outro lado, tem o lugar, as praias, o intenso e cada vez menor verde, que são verdadeiramente apaixonantes. Apesar da ocupação, - vê-se casas dependuradas em qualquer corte de terra, daqui a pouco vão ocupar as palhas dos coqueiros- ainda é um lugar belíssimo. Eu ainda daria meu braço direito, se houvesse alguem disposto a pagar o que eu acho que vale, para morar no caminho da Gamboa.
Enquanto isso, vou engolindo os sapos com o descaso com o patrimônio, vou revirando o estômago com a ocupação desregrada, vou fazendo das tripas coração para continuar indo lá e passando por cima da minha indignação, afinal lá estão partes de mim: duas filhas que ali trabalham, e minha neta que ilustra este post -cujo sorriso na foto foi a pedido da Menina da Ilha- e representa a esperança.
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foto de edu, o genro-pirata.

domingo, 23 de novembro de 2008

Tia Norma


Há 39 anos morreu, nesta data, minha madrinha, tia Norma. Já tive oportunidade de escrever aqui mesmo sobre ela, mas nunca será o suficiente. Ela tinha uma relação especial com os parentes, os sobrinhos e comigo, por ser seu afilhado. Gostava muito de presentear. Tive um perfume Lancaster (verdadeiro, claro!) que ela me trouxe da Argentina; uma máquina fotográfica portátil, super-prática, toda de plástico,vinda não me lembro de onde; de sua ultima viagem com Jorge e Zélia, já doente, me deu um relógio russo BOKTOK, que fez o maior sucesso, imaginem, em pleno 1969! Era uma transgressão e tanta possuir e exibir objeto tão comunista. Depois que passou a ficar no leito, em junho/julho, resolvi fazer minha primeira viagem para fora da Bahia: cinco dias em Aracaju. Estudante, sem grana, apelei para a madrinha. Mandou comprar um livro de ouro e todo mundo que ia visitá-la, mandava assinar pra ajudar o afilhado na viagem. Tirei toda a grana que precisava.

Antes houve um episódio mais interessante ainda. Comecei a fumar aos 13 anos e aos 15/16 a pressão aumentou muito na família para largar. Numa visita domingueira à madrinha, me comunicou que estava fazendo uma rifa de um gravador portátil, de rolo, de Maria, ela não queria mais; se eu fosse o sorteado, deixaria de fumar? O desejo de ter aquele gravador, uma pérola da tecnologia, falou mais forte: topei na hora. Vendeu bilhete a torto e a direito, a todo mundo que conhecia. E quem foi o ganhador? Deixei de fumar na hora que recebi o tesouro das mãos dela. Anos depois, soube por Mena que, claro, ela havia manipulado descaradamente o resultado do sorteio para ajudar o afilhado na empreitada, que ela sabia ser tão difícil: fumava até quase queimar as unhas.

Eu não poderia ter tido madrinha melhor.
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foto do blog de maria

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Casa Rôla


Indo pro Morro de S.Paulo e quando digo qué pra ver Iara, as filhas bradam! -"Ele agora só quer saber da neta". Elas fingem que é verdade e eu finjo que é mentira, em nome da harmonia familiar, mas é claro que quero estar com todos.

Temos casa no Morro desde 1967, quando ainda era um povoado de pescadores com veranistas de final de ano. Meu pai herdou uma ruína de vô Chimbo, que recebeu de seu pai, nosso bisavô Wenceslau Guimarães, o tirano. Este contruiu a casa e pôs o nome de sua esposa, para sempre conhecida no Morro como Casa Rôla. Claro que o nome dava panos pra manga e demorava muito explicar tudo isso. O apelido pitoresco rolou (ops) na imaginação de qualquer um. Meu pai fez uma autêntica casa de veraneio, sem trancas nas portas, janelas sempre abertas, dia e noite, e durante anos nunca houve o menor problema. Todos os vizinhos se conheciam, apesar da segregação. Os veranistas da vila e os da Prainha até depois da Casa Rôla eram " os pobres"; dalí em diante, começava a "Vieira Souto", com os bem-nascidos da Bahia que faziam questão de não se misturar com nosotros. Eram os de sobrenomes estrangeiros, socialites, grandes empresários, geralmente ligados -quase todos- ao esquema político dominante, leia-se ACM & Cia. Alguns descolados de ambos os grupos procuravam se misturar; eu mesmo me casei com uma que passou a fronteira, sendo eu o coiote. E assim transcorriam nossos veraneios. Um dia, dois deles lá se desentenderam e um matou o outro. A viuva se mandou, transformou a casa em pousada e o resto, quem quiser, vá lá ver no que se transformou. Os gringos tomaram conta (uma e duas), os nativos foram sendo substituidos lentamente. Eu não conheço mais ninguém, mas só vou lá pra ver Iara. E Maira, Luana, Eduardo...
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eu e iara na pousada morena; atrás, semi-encoberta por mim, a casa rôla. foto de maira

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Amnésia Alzheimer da Silva


Fofoca é apelido desde pequenininha, hoje já nem sei mais porque. A cara da mãe, filha do irmão que nos tiraram, nos deixando mais quatro filhos. Minha afilhada, Maria chama de Rosinha mas é Daniela. Fofoca. Nem sei mais porque. Faz aniversário junto com tio Mirabeau, 18 de novembro e eu não costumo esquecer estas datas, e outras também; aliás, termino decorando telefone, placa de carro, CPF, o diabo que me contam. Coisas do TOC. Tenho raiva desta "capacidade" de sair decorando coisas, justamente quando o velho alemão insiste em baixar. Por que guardo porcaria e me estribucho para decorar um poema? Estou perdendo a memória recente mas mantenho a pregressa. Sou capaz de me lembrar com uma nitidez cinematográfica as coisas que me aconteceram no século passado e morro de boca dura tentando lembrar do lanchinho da tarde de ontem! Isto é uma merda.

Pra que esta história toda? só pra desabafar e confessar que finalmente o Dr. Alzheimer conseguiu me alcançar: literalmente ME ESQUECI DO ANIVERSÁRIO DE DANIELA!!! Primeira vez na vida. Aqui posto, na tentativa de conseguir o perdão dela ( sequer me ligou pra dar bronca). A aqui posto para a posteridade, para reconhecer que começo a dar tilt, a falhar, a comer mosca e engasgar com cuspe, a envelhecer. A porra da velhice se instalou de vez. Azar o meu, vira-se uma página.
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foto de bernardo

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Atenção, meninas!


Hoje estou um aeronauta: nas nuvens. Já li aqui e acolá, tratados, resenhas e textos explicando (?) o que quer o homem ( Pardon, Lacan). O que consegui foi que nós queremos mesmo é um carro! Fazemos tudo para ter carros. Matamos por carros. Traimos por eles. Conseguims até lavá-los, concessão só permitida aos iniciados no gênero. Vocês, mulheres, jamais nos entenderão - fica aqui nossa definitiva vingança. Não se ponham entre nós e nossos carros. Ah! algumas dirão, conheço fulano que tem um carrinho velho, nada poderoso. E quem está falando em poder? Abaixo a velha máxima da relação carro/poder. Passemos à pós- moderna carro/prazer aí talvez vocês se aproximem de nós, e deixem de pensar que gostamos mesmo é de um bom e novo controle remoto. Carro. Gostamos de carro.

Hoje recebi meu carro novo; é semi-novo mas não nos importamos com estes detalhes nada técnicos pois o que nos importa é justamente o quanto ele é tecno, ao contrário das meninas que escolhem nosso objeto pela beleza ou pela economia que fazem! Sonhei minha meia-vida inteira em ter este carro que hoje chega e nem ao menos posso tocá-lo ( no sentido de dirigir). Estou aqui no interior e a loja só o liberou hoje e quem vai pegar é Jango, meu filho. Golpe dos golpes. Nem tento explicar o sofrimento de não estar lá para receber meu carro (semi)novo. Vocês, afinal, jamais entenderiam. Jango, cuidado com meu carro!
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foto: mitsubishi

terça-feira, 18 de novembro de 2008

O que não pode ser



Não sei fazer resenha, não sou crítico literário. Nem mesmo "entendo de artes" como muitos. Das coisas que vejo, ouço ou sinto, gosto ou não. Se não gosto, tambem não cuspo em cima, já me serviu de alguma maneira; pra alguma coisa, tudo nos serve. Se gosto um pouco digo que é assim assim. Agora, quando gosto muito, faço um escarcéu! Foi o que aconteceu com o livro de Renata Belmonte, a Senhorita B. a que deixa vestígios em nossos blogs. Seu livro me deixou bem mais que isso, me deu alegria em saber que esta meninada está escrevendo melhor que gente grande. São contos muito bons. Um tem um suspense angustiante: Quando o circo se foi; outro me fez chorar pra valer: Das coisas e dois elefantes azuis virados de costas. Quando escreve Máquina de cantar, descreve sentimentos de homem como se homem fosse, como um Chico Buarque às avessas. Eu fiquei embasbacado e esta não é uma expressão de crítico literário; sou apenas um leitor que foi arrebatado. Como gostei muito, queria que todos vocês conhecessem Renata. A gente nunca se viu mas já se trata por primos; acompanho seu blog com atenção, e me foi recomendado por Pablo Sales, que a conheceu quando ela ganhou o prêmo Braskem Cultura e Arte em 2003 e me disse:

-"leia, meu tio, ela é muito boa, escreve bem pra carilho e ainda por cima é uma gata!"
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foto do livro, no blog de renata: vestigios da senhorita b.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

domingo, 16 de novembro de 2008

Pode, mãe!



Terça à tarde é dia de atender pediatria no Posto de Saúde. Pra chegar ao consultório passo distribuindo boas tardes aos pacientes sentadinhos na sala de espera. Naquele dia um pequeno me chamou a atenção, ele dissse em voz alta e com muita ênfase:

-"Pode, mãe! viu que pode?" Fiquei curioso.

Na sua vez de ser atendido, o pequeno se aproximou de mim e tocou a manga de minha camisa. Era uma camiseta rosa e eu uso sempre a manga enrolada estilo anos 50. Hábito antigo. Por este motivo, minha tatuagem fica meio à mostra; pensei, portanto que o pacientezinho estava curtindo e perguntei:

-"gostou da tatuagem?" .A mãe desfez o equívoco:
-"não, doutor, ele está curtindo é a camisa; tem mais de um mês que esse menino me enche pra comprar uma camisa desta mesma cor e eu fico dizendo que meninos não podem usar cor de rosa".

Aliviado, o menino abriu um sorriso lindo.
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foto de bernardo

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Embrulho no estômago


Me deu Embrulho no Estômago o post de hoje de Personagem Principal, intitulado "Filhos de Chocadeira", onde ela descreve a atitude de "homens" que se valem da estatura física para assediar as mulheres. Como homem me sinto envergonhado e como ser humano repudio incondicionalmente estas atitudes. Qualquer pessoa que se utilize de uma condição superior para subjugar outra, merece nosso desprezo.

Ontem à noite, por exemplo, voltando da Pituba, na altura de Armação, me chamou a atenção de longe uma luz piscante de carro de polícia. Ainda brinquei com Vera que se tratava de blitz da lei seca e trocamos de lugar: minha carteira está pior que a de Marcus Gusmão: vencidíssima ou pior que o coador de café da mãe das meninas blogueiras: fracassada. Chegando perto, Vera diminuiu a velocidade e pude testemunhar uma cena degradante: um policial, troncudo e truculento, ameaçava um rapaz com o dedo no nariz do outro berrando "se comporte, se comporte comigo!"; o rapaz estava em posição péssima: na pista, documento na mão trêmula, a namorada ao lado, calada de morte, o policial no passeio se colocando mais alto, e uma viatura com mais dois policiais de longe asssistindo e adorando a cena, provavelmente.
O que fazer? parar o carro e defender o rapaz é assinar atestado de morte. Ligar pra polícia? eles SÃO a policia. Denunciar? a quem? ainda corremos o risco de termos o telefone anotado. E o rapaz? quem vai apagar a humilhação? quem vai dizer à sua namorada que ele não foi um covarde? e o que lhe aconteceu? não estou conseguindo me perdoar por não ter ficado lá, ao menos minha presença PODERIA ter inibido o troglodita que de repente deixava o rapaz ir embora depois da demonstração de força. Por que aquele policial -e tantos outros, tratam as pessoas assim?
Não sei porque, me veio à lembrança a campanha de trânsito na Itália para inibir os "machões" que querem demonstrar "virilidade" com a velocidade. São outdoors com fotos de mulheres com os dedos indicador e polegar mostrando que uma pesquisa comprova que quem se mostra tanto, tem o pinto des'tamanhinho!!
Viu, seu guardinha?
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blog do vinna

sábado, 8 de novembro de 2008

Rio de Alma


Minha cidade, é banhada por um belíssimo rio. Imbecilmente oficializaram seu nome como sendo Jequiezinho. Ridículo. Pra todos nós sempre será Rio de Alma ou Rio das Almas. É ele que nos separa de Taperoá. Tem um curso quase reto, de curvas pequenas e surpreendentes, uma floresta de Mata Atlantica exuberante lhe beirando, com muitas ilhotas e corredeiras impressionantes. Alguns trechos tem prainhas de areia alva. Estamos organizando um grupo interessado em percorrer toda sua extensão, descendo de bote. Gosto mais de agua doce do que salgada; Iara mais que sereia, Oxum mais que Iemanjá, bôto mais que golfinho, pitu mais que lagosta, cachoeira mais que marola, canoa mais que barco, banho de rio é melhor que banho de mar.

Na minha infancia meu rio me era proibido. O Rio de Alma é também um rio que leva quem se arrisca; correnteza não perdoa quem não sabe nadar. Sempre morria um nas suas águas, que o devolviam quilômetros abaixo, já beliscado por goiamum. Crianças eram preferidas pelo rio escuro, sabe-se lá porque esta preferencia mórbida. E o rio era o mundo de diversões da cidade que não tinha mais nada a oferecer. Como a gente morava na fazenda que tinha rios e cachoeiras e ofereciam quase nenhum risco, meu pai decretou: -"pode-se fazer de tudo por aí, menos tomar banho no Rio de Alma". Quando estávamos na cidade, as brincadeiras terminavam no banho de rio e nós, eu e meus irmãos, ficávamos só olhando. Desobedecer a ordem do pai, não, nunca, jamais. Adulto, já casado e com filhos, numa lavagem do Bonfim todo mundo se jogou no rio. Na hora "H" não consegui, empaquei no cais, como numa ordem pós-hipnótica.
Mês passado, voltando pra casa e passando pela ponte parei o carro. Eram nove horas da noite e não havia ninguem. A lua cheia já ia alta e clareava como um refletor; o rio cheio, transbordando. Me arrisquei. Tirei a roupa e nu, pulei da ponte, nadei, mergulhei, bebi água. Fiz as pazes com meu pai; me encontrei finalmente com meu rio, lavei minha alma.
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foto da web, s/autor

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Motos e mentiras



Dois posts atrás comentei en passant algo sobre motos. Eu as adoro. Meu pai foi piloto de avião, numa época de aviação perigosa (amanhã falo sobre isso). Com medo do que poderia acontecer aos filhos, e como pouco proibia diretamente, vivia falando aos botões mas em voz alta, que se dependesse dele, filho algum seria piloto, entrava na política ou andava de moto. Como ninguem ousava sequer discutir o assunto, tomávamos os grunhidos por esporro. Jurávamos de pés juntos uns aos outros que jamais faríamos que o velho não queria. Era tanta convicção que alguem mais atento devia ter desconfiado.


A aviação sempre esteve em meus sonhos até os 7/8 anos, quando o meu oftalmologista descobriu que eu tinha um defeito congênito irreversível, sem visão central no olho esquerdo, que o fez decretar: -"vida normal mas não pode ser goleiro nem piloto de carros ou avião". Não tenho qualquer noção de profundidade; não me jogue nada que não aparo; para estacionar um carro, ou bato no da frente ou deixo mais de metro de distância; descer degraus já me causou algumas luxações e uma fratura de tornozelo. Acho que ali nasceu a outra escolha, a medicina.


Meu pai morreu em 1987.


Sempre participei de militancia política, desde 68 quando aos 15 anos fazia pequenos serviços aos companheiros, isolados no Severino Vieira. Mas daí a ser candidato, foi só em 2004 e vi o que é praga de pai. Desta, estou livre.


A moto veio logo depois. Comprei uma Honda Bros e sempre andei feliz, pra baixo e pra cima por estas estradas. Usava como justificativa o fato de morar no interior. Estou comprando uma maior agora e a meta é uma Harley em dois anos. Neste caso, como a praga podia ser fatal, ele deixou passar e vez em quando tenho a sensação de que meu pai está na minha garupa, curtindo um vento no rosto, sonhando com seus aviões, me avisando suavemente,


-" mais devagar, parente!..."
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foto bernardo

Tatuagens II


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Para fechar o assunto tatuagens.
A segunda, que está no braço direito, eu mesmo desenhei: as iniciais dos filhos JmnL - João, Maira, Nana e Luana, que permitiu uma simetria esteticamente interessante, sobre letras V de Vera, disfarçadas é claro. Se ela me arriar um dia, digo que são uns urubus voando. Ficaram tão disfarçadas que até hoje ela não se reconhece lá.
A terceira, em volta do braço esquerdo, mandei imprimir o Mantra Budista da Compaixão, em alfabeto tibetano, com os simbolos: Om Mani PadMe Hung(pronuncia-se om mani peme rum), cada sílaba correspondendo a um caminho para a perfeição: generosidade, ética, tolerância, perseverança, concentração, e sabedoria. Vou tentando um a um...

A próxima será o nome de minha neta Iara, com desenho feito por mim mas quase um plágio de Carybé (é difícil não tentar imitá-lo).

E depois de engordar tanto ( me formei e casei com 48 kg, hj tenho 88), aumentou o espaço para mais. Como os descendentes tem coincidentemente nomes em ordem alfabética, I J L M N, adiante posso escrever mais netos: Hamilton, Olga ou Hermenegildo, Oto...
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fotos e desenho meus

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Tatuagens

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A frase de Chico "quero ficar no seu corpo feito tatuagem" pode ter me influenciado de alguma forma, ou melhor, prefiro dizer que foi assim, por causa de uma poesia. Mas as razões são muito mais prosaicas: me tatuei, do mesmo jeito que resolvi fazer muitas coisas que não fizera antes, ou antes de morrer. Andar de motocicleta foi outra, comecei aos 50 e a vantagem, neste caso, é que diminuem as chances dagente fazer besteira.

Meu papo com tatuagem é muito simples: faz quem quer, quem não gosta, não faça mas não enche o saco de quem faz!

Minha filha Maira é a que mais se parece comigo. Fisicamente, é a cara da mãe. O resto, parece que estou me vendo num espelho. Quando fez quinze anos foi logo avisando: quero uma tatuagem de presente. Antes que a mãe bradasse - e as mães, como bradam! levei-a secretamente ao mestre Binga, na Barra. Saiu de lá toda feliz com uma rosa tribal na virilha. Quando a mãe bradou, já estava tatuada. Não parou mais, já tem cinco ou seis.

Em 2000, visitando os filhos no Morro, Jango me mostrou um peixe tatuado na face posterior do ombro direito e disse que queria que eu tivesse a mesma marca. Nem titubeei. Sonho antigo, adiado até Deus sabe quando, era só dizer que foi meu filho quem exigiu! Tasquei um peixe nas tetas. Nos primeiros dias me torturei um pouco com a idéia de ter alergia à tinta, virar um câncer de pele ou que a tatuagem só teria serventia para reconhecimento no necrotério. Coisas de paranóico. Me acostumei, hoje sinto um prazer enorme de ter a mesma marca que meu filho.

Depois de Maira, Luana fez duas, Jango já tem seis e Nana pediu uma mas a mãe bradou. Dia 13 de março que vem, de desenho já escolhido, vamos juntos ao estúdio; presente de 18 anos.

E eu tenho mais duas, perto de fazer mais uma. Mas aí já é outro post afinal, cada tatuagem tem uma história...
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foto da tatuagem: bernardo

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Bon bini *


















* Benvindo!
Ano passado nesta mesma época, estava num dilema terrível: onde torrar dinheiro? Eu e Vera decidimos que todo ano devíamos fazer uma viagem. Levante a mão quem não gosta de viajar. Se alguem arribou o braço, vaia nele! A gente fica, então futucando a internet atrás de promoções e com paciência a gente termina encontrando umas massas. Foi o que fizemos. O desejo era ver Paris, nem que depois a gente morresse. Fizemos as contas e não achamos de bom tom gastar muito e ver pouco com a grana que dispunhamos; projeto adiado. Temos milhagem pra percorrer qualquer pais da America do Sul mas a gente queria mesmo uma praia, muita praia. Pesquisamos, pesquisamos e achamos: de avião até Santiago, (com as milhas), de lá para o Taiti, via Ilha de Páscoa. Ah, o Taiti...fizemos todos os planos e roteiros: Taiti, Moorea, Bora Bora. E tome a olhar fotos na net. Que lugar! quanto mais víamos mais tinhamos vontade de ver. Varamos madrugada olhando, mar azul, pesquisando, mar azul, onde ficar, mar azul, o que comprar. De repente a conclusão: enjoamos de tanto mar azul e pra comprar só achamos uns califons de coco! Não vou deixar minha senhora desfilando por alí naquelas enjoadas praias alvíssimas, com os peitos sobrando nos cocos. Taiti, não. Onde ir? Aruba? e lá fomos nós. Depois de sermos tratados como inimigos em Bogotá, sendo revistados três vezes, chegamos ao paraiso.
Aruba é do tamanho de Itaparica, com mais de 300 hotéis, uma estrutura formidável, e um povo muito, muito agradável, com uma lingua, o papiamento, engraçadíssima, uma mistura de inglês, francês, holandês, espanhol e português. Todo mundo termina se entendendo. Vera se esbaldou: praia e compras. Eu, nem tanto. Voltei sem saber a temperatura da água e comprei uma camisa Havai 5-0. Por que não tomei banho de mar? o Caribe foi feito pra se olhar; pra tomar banho, temos o Morro de S. Paulo. Lá sopra uma cruviana 24 horas, sempre na mesma direção. As árvores são tortinhas pro outro lado. Tem um buzu de grátis. Adorei tudo mas no mar só molhei os pés. Tabaréu no Caribe...

Blog também é cultura. Se for à Aruba, saiba ao menos:

-"Bon Tardi, kon ta bai?" Boa tarde, como vai?

-"Mi ta bon, danki." Eu vou vem, obrigado.

-"Pasa un bon dia" Tenha um bom dia
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fotos de bernardo e vera em aruba: vera e cristina japa

sábado, 1 de novembro de 2008

Zambiapunga



Em muitos anos, hoje deixei de assistir a apresentação da Zambiapunga em Nilo Peçanha. Desde menino quando lá morava, adorava ver a Zambia. Ela sai às três/quatro horas da madrugada do dia primeiro de novembro. Como morava fora da cidade, na fazenda, ia dormir na casa de amigos, e era difícil pegar no sono. O medo dos caretas se misturava com o prazer do som, de acordar na madrugada, de participar de uma aventura de grandes. O grupo percorre toda a cidade com cerca de 60 homens mascarados, com roupas e capacetes supercoloridos, que tocam percussão: enxadas, tambores e búzios soprados. Não dá pra se descrever o som. É alucinante e altamente contagiante, puxando de criança a velho. Gilberto Gil conheceu e convidou para o PERC PAN; durante muito tempo abriu a Caminhada Axé; Regina Casé fez um programa especial com o grupo; Naná Vasconcelos pirou, foi lá e tocou com eles. Se eu fosse mais sabido, gravava um pedacinho e tocava aqui procês conhecerem um pedacinho mais de mim.
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fotos:flickr e fundaçãocultural

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

IAPSEB


Centro Administrativo da Bahia, 4ª Avenida, Plataforma A: Secretaria de Saúde do Estado. Trabalhei naquele prédio de 1983 a 1990 e foi ali que desenvolvi outro de meus hábitos estranhos: o uso do sanitário. Já contei, sem o menor constrangimento, que faço os Caixas Eletrônicos de mictório. Xixi é sopa, a gente solta em qualquer lugar. O resto não faço em determinados lugares nem sob tortura!

Eu sou tão maluco...

Quando eu entrava no sanitário da SESAB para lavar as mãos, escovar dentes ou fazer xixi, sempre havia algum engraçadinho que fazia piadinhas com quem estava fazendo coisa séria, e com muito esforço. Às vezes era exatamente o sinal deste esforço que dava motivo às brincadeirinhas de mau gosto.

-"comeu cachorro morto!"

-" pode rezar pela alma que o corpo está podre!"

Eu odiava aquelas pessoas e cada vez que presenciava aquilo , crescia em mim a certeza de que jamais passaria por aquela situação. Mas, trabalhando em tempo integral, como faria numa urgência? Foi quando me ocorreu a saída genial. O medo era apenas que as pessoas fizessem piadinhas comigo, sendo identificado como o personagem esforçado. Se ninguém me conhecesse, não teria problema.

Eu sou mesmo muito maluco.

Sempre que me ocorria uma urgência intestinal, descia o elevador, atravessava o estacionamento, cruzava as duas pistas, outro estacionamento, mais um elevador e ia concentrar meus esforços no ultimo andar do IAPSEB. Lá, ninguem me conhecia e as piadinhas, nem parecia que eram comigo. Aquilo sim, é que era paz de espírito. Hoje toda a família já conhece o dizer, mas na época Vera era minha única confidente e disfarçava quando perguntavam por mim.
E continua a paranóia. Se formos a um encontro, todos conhecidos, encontro dos blogueiros por exemplo e me ouvirem dizer "-vou ao IAPSEB", não me sigam. Nem comentem nada depois!
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foto: secbahiablogspot.com; ex-iapseb

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A volta de quem não foi


Estou me sentindo como aquele imbecil que trancou as meninas no apartamento pra dar um susto, depois foi fazendo merda até não saber mais como voltar e meio mundo de gente ficou do lado de fora berrando: "-saia! saia!..." Fez o que fez.

Olhando bem, fiquei apenas dois dias sem postar! Aeronauta já ficou mais de cinco, Sampa, dois ou três de calundu, Marcus já vi sumir até seis, Jana idem e vcs caem de pau nimim?! Injustos! Tive um ataque de pelanca, sim, mas tenho direito. Vera me chama de mascarado quando ela me pede pra dizer ou fazer alguma coisa e eu me recuso. Agora estou esperando a alcunha: "-Mascarado!" Né nada disso; foi uma crise, braba, mas as brisas a estão afastando de mim. Graças aos bons ventos! Fico emocionado e grato pela força e tentativas de me arrancarem da nuvem má, que estava me levando pra longe, na verdade para além da própria Pasárgada. A partir de agora, escolho minhas nuvens.

Outro motivo, este mais terreno, me afastou do vício. Minha amiga Ioná foi eleita Prefeita de Camamu, derrotando dois coronéis donos de currais e me convocou, sem direito a recusa, para ser seu Secretário da Saúde. Topei e agora estou enrolado no xale da doidia, como diz a prima-gênita. Estou em viagem-relâmpago à Bahia, à cata de recursos para botar nos eixos a saúde daquele lugar lindo. Nas minhas elocubrações já pensei até que, se me aporrinharem muito por lá, chamo a Menina da Ilha, já famosa na Chapada e em Tinharé, para ser também a heroína da Ilha Grande! Levo Maria para Secretária de Planejamento, Marcus de Comunicação, Aeronauta da Cultura e Jana, Secretária de Truques! Ah!, Miro será nosso Secretário de Relações exteriores, Luli do Meio Ambiente...
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ilustração: vivaladesign.com

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Vou voltar?

O texto que teimou em não sair!
Depois que aprendi o caminho pras nuvens, não me arrisco a descer; lá embaixo tá russo! Marcus, ameaçado, se vê na possibilidade de jamais voltar ao Morro, o que é um castigo e tanto. Judith, desesperada, noivou-se sozinha; comprou uma aliança e o noivo, de tão longe, nem pode se defender. Maria se recusa a ler qualquer coisa além de jornal e se queda nos dengos de Juliana; Luli ameaça mudar tudo na vida e isso pode ser perigoso; João foi reeleito; Miro está congelando em Berlin, com Gordon doentinho e deixando-o isolado do mundo; Aeronauta leu meu livro, gostou, fez uma resenha belissima e pede um exemplar pra gente importante ler, um escritor de verdade; Marcus berra de um lado: -quero o meu!, Janaina, a sem-livro, ameaça não falar mais comigo se não receber o dela, lá nas Alagoas ou nas Paraibas; Renata deixa Vestígios que tambem quer o seu; a Menina da Ilha, se a gente não agradar, dá porrada! e eu não sei como atender este povo todo. Vou passar a bola pra Judith resolver - se ela já tiver resolvido o imbroglio noivístico com o galego lá dela; Sei não...acho que vou-me embora pra Pasárgada.
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sábado, 25 de outubro de 2008

Nas nuvens

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Hoje não consigo escrever nada.

Quem quiser ler alguma coisa minha, visite o blog da Aeronauta.

Estou besta.

Hoje quem está nas nuvens sou eu.
foto: dudu mazzocato
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sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Frases perfeitas II

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Meu irmão Eduardo em lua-de-mel em Salvador, passa as duas primeiras noites de núpcias no sítio de Mena, na Estrada Velha do Eroporto. No terceiro dia, vai à cidade visitar meu avô Chimbo. Apresenta a nova esposa. Vô Chimbo pede à Diva que "leve a menina à cozinha para lhe servir uma merenda". Tão logo ficam sozinhos, vem a pergunta, cortante:
- "Já tem amante?"
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Vô Chimbo, lembrado hoje no blogue de Maria.
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Cão baldio *

* sugestão de Nelson Magalhães.

Zulu está de volta. A rede de informações funcionou. Ironicamente quem o localizou foi quem menos queria que o traste voltasse: meu compadre Raul. Me acordou às 6:30 aos berros:

-"o demônio está no Posto de gasolina!"

Demorei uns quinze segundos para concatener as idéias, defenestrar o mau humor e engolir o desejo de retrucar quem era o "demônio". Depois me lembrei que vou almoçar com ele e achei melhor não dizer nada; meu compadre adora envenenar um desafeto.

Acordei Zé, voamos de carro e só quando avistei o meliante me dei conta que estava de cueca mais uma vez! está se tornando um hábito enfrentar problema de cueca. Zulu estava em companhia de um tipo, um cachorrinho destamanhinho mas com uma cara de quem conhece as coisas. Deu pra ver quem era o chefe. Acompanhava-os uma cadelinha digamos, simpática. O cachimbo estava inchado mas uma cara de satisfeitíssima e percebi logo o motivo da fuga em massa. Ela é quase uma Jessica Rabitt canina. Ponto para os meninos. Desfeito o triangulo, caminho de casa. Antes, passamos na delegacia onde o fugitivo foi devidamente identificado e registrado o BO. Depois, um banho, comidinha ( deve estar farto de lixo), um esporro e cama!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Nana


Nana disse...
Incrível pai. O ciclo da vida surpreende. Enquanto uns se vão, levando consigo tristezas e saudades...outros chegam repletos de sonhos e alegrias. Gostei do encaminhamento temporal da história, ficou dez!!saudades...

ps.o resultado do colégio saiu. Sua caçulinha tá de 2º grau completíssimo!
23 de Outubro de 2008 16:04



Minha filhota caçulinha, me faz duas surpresas: comenta com muita personalidade o meu texto e me dá a boa notícia de que está prontinha para o vestibular. O que teremos aqui, uma médica ou escritora?
Parabéns filha, e obrigado pelo comentário.
eu e nana, foto de vera

O fugitivo

PROCURA-SE

Nome: ZULU
Raça: ROTWEILLER
Idade: 1 ANO E SETE MESES,
Desapareceu de sua residência desde segunda feira, cão acima identificado. Foi visto pela ultima vez na casa de meu compadre Raul, onde matou um galo, uma galinha, seis pintinhos, deixou à beira da morte seu desafeto Timão, um Street Dog que meu compadre insiste em chamar de "policial" e ainda tomou a namorada de Doc, um Little Steet Dog baixinho e simpático. Zulu deu-le umas xapuletadas, também. A secretária do lar chamou a polícia mas o meliante evadiu-se do local, fugindo pelas sombras. Informações dão conta que se iniciou uma busca como nunca dantes se viu em Ituberá: eu de carro e Zé de bicicleta. Nem sombra. Meu compadre ficou muito puto, nem sei porque tanto, afinal sobrou um pintinho e dá pra começar uma criação com um pintinho. O "policial" na verdade, recebeu o que merecia: andava atacando as gentes que passam pela rua; Já o Doc, este não merecia nem ser corno. De todo modo, mandei anunciar na rádio uma recompensa para quem o localizar. O cão, apesar de meio louco -não suporta criança, odeia negros, não reconhece Vera sempre que chega de viagem, é meu cão e gosto dele.
Quem avistar, favor ligar para mim.
E PAREM DE ACHAR QUE TUDO QUE ESCREVO É MENTIRA! QUERO MEU CACHORRO!!!

foto de bernardo: zulu

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Interiores


Vida de médico no interior me proporciona o inusitado. Hoje morreu um conhecCor do textoido, mas não tinha intimidade suficiente para ir ao velório. Além do mais continuo achando esquisito, médico comparecer a velório; fica parecendo que foi conferir seu erro, mesmo não sendo. No mínimo todos pedem para medir a pressão. Não escapei. Fui pego pelo braço, na rua, chamado às pressas: o defunto estava respirando! "Podia ser pior", pensei, já que respirando é que não deve estar mesmo! Na dúvida, não levei o tensiômetro. Velório do interior: fora, os amigos bebiam o morto descaradamente, em homenagem ao biriteiro que partia. Dentro, a família louca para me ouvir dizer que, realmente, o morto estava vivo.
- Tá saindo umas bolhinhas pelo nariz, pocando assim: poc...poc...Ajeitei os óculos e conferi: saía, de fato, umas bolhinhas tipo de sabão, do nariz do defunto.
Quem tem sangue fraco, interrompa aqui a leitura.
Havia secreção nasal, que os gases internos, já produzidos em profusão, transformavam em bolhas. poc...poc. Explicação científica dada, uma pelota de algodão em cada narina e, missão cumprida.
Parece mentira de contista, mas tenho dezenas de testemunhas: fui novamente agarrado pelo braço, na porta, por um rapaz desesperado:
-Doutor, minha mulher está parindo! Seis casas depois de uma morte, uma vida chegando. Cheguei a tempo de avistar a jovem de 17 anos, pernas abertas, cara de pavor e uma cabeça pra fora. No instinto segurei a cabeça e ela rodou. Duas manobras e o menino já estava sobre a barriga da mãe. Feliz e aliviada, ela nem sentiu quando tirei a placenta. Deus protege os inocentes: primeiro filho, um casebre de tábuas, sobre uma cama, uma unica lâmpada para toda a casa e um médico na porta. O garoto chorou bonito e a menina não teve uma rotura sequer! Gente pra ver o caco, na porta, metade vinda do velório, esperando o resultado. Quando ouviram o choro, pipocaram a aplaudir. Do Posto de Saude mandei vir o estojo de curativos e terminamos os procedimentos. Na saída ainda tomei uma, com o pai todo orgulhoso. Entrando no carro, recebi o pagamento pela voz trêmula de Leidiane, saindo pela fresta da parede:
-Deus lhe abençoe. Dia ganho.
quadro: lição de anatomia, de rembrandt

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Frases perfeitas I


Ouvida no serviço de som do navio Lobo Dalmada, que fazia o percurso Belém-Manaus, em 1974:

- Atenção senhores passageiros da premêra crasse: dirijam-se ao salão de refeiçãos, onde será servida a referida!


Maria Sampaio é testemunha auricular.

20 de outubro


Há dias para se comemorar e dias para se esquecer. O que fazer com os que nos dão motivos para os dois? Neste dia perdi minha mãe, na mesma data em que comemoramos o nascimento de Meninha. Para quem já conhece as histórias de Mena, a irmã, apresento -lhes a sobrinha, a quem coube receber o nome da outra.


Sobrinha, adotada recentemente como filha, passou o dia ontem todinho preocupada se eu lembraria seu aniversário. Sabendo disso, fiz um misteriozinho, e só à noite bati na sua casa. Uma torta de palmito, outra de chocolate, Fanta Uva - tudo que gosto na vida e todos os presentes descobriram que a comilança era pra puxar meu saco. Na saída, se entregou:


- Ô meu tio, pensei que ia sair no seu blog!


Dei mais uma disfarçadazinha. Amanhã eu posto, hoje não, estou de barriga muito cheia, capaz de só falar da comida, que estava divina. Amanhã eu posso dizer, e ela vai ler bem aqui, que ela é a filha que eu escolhi.

xeudizer:

anotações livres, leves, soltas