terça-feira, 30 de setembro de 2008

O Sal de Maria e Mabel


Não vou porque estou enrolado no xale da doida aqui no interior. Quem está na Bahia, é de lei!!!
Tá rebocado quem não for!!!

domingo, 28 de setembro de 2008

Biboca

Vera chega em casa toda animada:-"vou ficar rica!". Ai, meu Deus, lá vamos nós.-"uma butique de verduras na Pituba, onde só tem madame com dinheiro". Junta-se com Cristina que também acha que vai ficar rica. Rodaram a Pituba atrás de um ponto, uma garagem.-"vai ter prateleiras" avisava uma, "podemos fazer delivery" concordava a outra. Os maridos começaram a se preocupar. Na época eu fazia formação em psicanálise e Gilson era o Diretor Médico do Hospital S. Rafael. Sem ponto em vista, tiveram a brilhante idéia de construir o empreendimento. Seria uma original barraca de madeira, num terreno baldio no final da rua ao lado do Apart Jardim de Alá, em frente ao edifício de Gilson e Cristina. "-Pertinho de casa" se animava a outra sócia. "-vai se chamar BIBOCA, não tem um ar de simples e chique?". Em dois dias a Biboca estava de pé, em tábuas sem lixar e coberta de eternite. Dava logo pra ver que não tinha pose de butique de madame, nem que fosse pra vender verdura! No esquema proposto, as sócias se revesavam no turno da manhã e adivinhem quem ficava à tarde? Eu e Gilson, sem direito sequer de discordar daquele negócio ( nos dois sentidos). Verduras adquiridas na CEASA, arrumadas nas prateleiras da Biboca, começa a venda. Eu levava a coleção de Freud pra estudar mas era interrompido a toda hora pelos clientes, 100% vindos da favela a cem metros dalí: " moço, me dá 2 real de pimenta". Eu metia as mãos em conchas e entragava o equivalente a 20 reais de vez, contanto que acabasse logo aquele estoque e a situação. Confesso que a competência delas não permitia que nenhuma das duas coisas acontecesse. Mas as vendas não aumentavam, a Biboca não acontecia. A solução era humilhante: promoção. Aquelas sacolas/redes de plasticos com: um ovo, dois quiabos, dois maxixes, dois gilós, um pedaço de abóbora, outro de repolho, uma cenoura, uma batata e ficavam as sacolinhas penduradas no frontispício da Biboca. " quero uma promoção", alguem da favela pedia e às vezes eu morria em outras dava vontade de matar as duas. Sempre que passava um carro eu me abaixava ( Gilson idem) com receio de ser um paciente. Via pela fresta do barraco o carro se afastar; às vezes vendia assim mesmo, abaixado, Freud na mão. Um dia a Biboca foi arrombada e roubada. Um saucero: choro e ranger de dentes das sócias, agora menos ricas. Claro que eu e Gilson fomos, em caravana com carro da polícia de sirene ligada, à Delegacia prestar queixa. Outro dia foram convocadas pelo dono do terreno ( houve uma denúncia de "alguém que está com inveja do nosso negócio" a desocupá-lo em 24 horas, sob pena de demolição. Compareceram as sócias no escritório do dono, o IAPSEB, representado por sua implacável diretora, Dra Ivete. Quando a secretária chamou na ante-sala pelas "invasoras", quase não acredita nas madames, uma de óculos de grife, a doutora, outra espevitada num tailleur de tweed, a psicóloga, ambas funcionárias graduadas da Secretaria da Saúde, conforme se apresentaram. Foram expulsas do terreno alheio, a despeito dos argumentos choramingados de Cristina de que " a senhora não acha que tantos anos de contribuição ao IAPSEB não nos daria este direito?" Foram expulsas de lá e em 24 horas a Biboca estava no chão. Para sempre, espero.

OOOlha a batatinha!!!



Minha mulher vive pensando numa maneira de ganhar dinheiro. Da página de uma revista, um anuncio botou cifrão nos olhos: carrinho de batata frita. Diz pra mim toda animada que "com isto fico rica!". Mandou buscar no Rio Grande do Sul, trocou o carro por uma caminhonete pra carregar o trambolho. A esta altura eu ainda não desconfiava de nada, quero dizer, da minha inserção nos negócios dela. Vale lembrar logo que naquele momento eu estava com minha mão direita engessada por uma fratura. Chega a encomenda e o troço -doravante será chamado assim- é armado na sala do apartamento para o treino da fabricação. Um carrinho do tamanho de uma barraca, com toldo, bujão de gás, tacho, saco de batata de 60 kg, lata de óleo, saquinho de papel. Tudo foi armado, como se estivesse na praia. Na sala. No que o óleo começou a ferver, seguindo as instruções do manual, carrega-se o saco, joga-se as batatas dentro do troço, gira um outro, que sai cortando as ditas em tirinhas e cai no tacho. Pensem na fumaça dentro do apartamento. E o carrinho se treme com o movimento do cortador de batata. Um inferno. Vera sempre pronta a se defender pela idéia: " na praia vai ser melhor". Desarma-se aquela merda toda.
Domingo, 8 horas, carrego a caminhonete com o troço e todos os apetrechos (com dois sacos de batatas, a espectativa era enorme!), paro a caminhonete na praia mais movimentada da Bahia: Piatã dos caminhoneiros! Mão quebrada, um sol abrasador, empurrar o carrinho na areia fofa, disputar o ponto com outros colegas ambulantes, "ooolha a batatinha!!"...Juro que me preocupei mais em me esconder atrás dos coqueiros; morria de medo de me bater com meus pacientes. Vera também é médica.
16:h - mão inchada, cabeça idem, saldo da venda: 8 saquinhos de batata frita a $0,50 cada. Nova defesa da fábrica de fazer fortuna: " na praia não é bom, melhor em porta de escola". Fugi desta nova empreitada logo que a porta da Ebec da Pituba foi a escolhida. Com um assessor oligofrênico arranjado num posto de gasolina, ela foi e eu não. Fui trabalhar- meu trabalho não envolve tantos riscos! De lá, logo recebo um telefonema da empresária de batatas, aos gritos, que estava havendo problema com ela e o carrinho de batatas. Corri prá lá a tempo de ver a baixaria: a baiana do acarajé rodou a própria e chamou a polícia pra prender a mulher que queria roubar o ponto que ela mantinha há 20 anos na porta da escola.
Ali se deu o fim do sonho de ficar rica vendendo batata frita. Mas não terminou meu suplício, aguardem a próxima idéia dela.
Em tempo: ela conseguiu vender o carrinho por um preço maior do que comprou. Mas não pagou minha indenização por perdas e danos.


foto do sitio do mercado livre

sábado, 27 de setembro de 2008

Cosme,Damião, Kiko e Cocô.



Acordei com o pensamento em Cosminho. Além do aniversário de meu sobrinho Kiko e da prima Maria Cocô, junto com as juninas, é a festa que mais tem a cara do interior. Gosto muito. Caruru, Cariru, Caruréu, não importa como chamem, muda pouco por região. Só não suporto o tal do purê de abóbora; pra mim é que nem botar caruru em acarajé. Pode ser ignorância minha mas só acho que seja certo o que aprendi no meu interior - (só como aipim com manteiga e açúcar, chamo bodoque de badogue e uso por que de no lugar de por causa): caruru, vatapá, efó, farofa de dendê, arroz de auçá, xinxim de galinha, feijão fradinho e pipoca. Pode servir um pouco de cana de rolete, cortada. Hoje me empanturrei, só como caruru nesta época. Altas gofadas de dendê, é ótimo.


Pois bem: Kiko é filho de EDUARDO, meu irmão que foi assassinado no ano passado e ainda não tive a coragem suficiente de postar algo sobre; é um homem com alma de menino e o nome pesado do avô: Carmilton. Ficou Kiko. Mais um filho que ganhei.


Maria Cocô é o apelido mais que carinhoso de Maria Paternostro, de nome tão lindo e apelido que insisto em manter. Minha irmãzinha. Deve ficar puta porque abri seu apelido para o mundo( se metade dos leitores de Maria Sampaio lerem meus posts, Cocô tá ferrada!).


E para fazer a melhor homenagem aos meninos santos e não santos, achei da artesã Dinorah Oliveira, a senhora das pequenas coisas, que é a mãe de Edu ( Monólogos na Madrugada), este belíssimo trabalho para Missa Pedida para Cosme e Damião. Não conheço coisa mais bonita que um trabalho desse. É a cara do meu interior.
foto de edu o.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Por falar em Roma...


Chegamos em Roma de trem, vindos do Aeroporto Leonardo da Vinci, o da unha encravada. Desembarcamos na Estação Termini e corremos, literalmente, para o Hotel Coliseum ali pertinho, com Juvita voando atrás do carregador disparado que segundo ela, estava roubando nossas malas. Eu nunca vi uma chegada daquela. Tudo conspirava para um desastre. Chegamos à noite e do terraço do hotel assistimos a movimentação da sexta-feira santa no Coliseum, com João Paulo II e tudo. Nem dava pra sair porque Juvita estava morta.

Pausa para explicação: além de Vera, viajaram conosco minha irmã Mena, minha sogra Juvita e minha tia Naju. Nem digo qual mas a mais nova tinha quase setenta.

Na primeira manhã, depois do banho descemos para esperar as meninas para o café. Elas não davam um peido sem que eu e Vera estivessemos junto pra cheirar; só sabiam dizer buon giorno. Mas não sabiam pedir café. Todas desceram menos Mena. Ela é assim: demora pra caralho para se arrumar. No meio do papo, entre nós e o balcão da recepção, passa aquela coisa pequenininha feito um raio, mal dando pra distinguir "o que" era. Era Mena, o raio. Passou lotada por nós, atravessou a porta de vidro como se não existisse porta e saiu quase nua para o frio de 2 graus e quando me levantei ela já entrava de volta no hotel agarrada, abraçada, lívida, à sua pochete. Sabe aquelas pochetes de viagem que todo ladrão sabe que está debaixo da roupa? Estava nos peitos de Carmeninha, agora voltando a cor aos poucos.

O que foi aquilo?

-"depois do banho, resolvi limpar a pochete; segura na mão esquerda, com a direita dei a passar a escova de cabelo, na janela, admirando a vista. Na terceira escovada a pochete voou. Só tive tempo de olhar meus dólares, liras e o passaporte caindo, caindo e esperei só o tempo de saber se caía na marquise ou na rua. Caiu na rua, entre dois carros. Desci os cinco andares de três em três degraus, nos ultimos pulei cinco, voei pela porta a fora mas consegui. Ai meu Deus!
Por que vocês estão com tanta roupa de frio?"

Antes do final da viagem, ainda caiu na banheira e quebrou uma costela.


quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O italiano capenga


Unha encravada: prefiro morrer rápido! Sofro desta peste há séculos. No momento de maior desespero um colega me convenceu, ô arrependimento, a operar. Anestesia é injeção e injeção no canto da unha, até prova em contrário, é tortura. E torturador deve morrer! Morra, Genésio! No outro dia, o que era um dedão anestesiado passou a ser uma perna a ser arrancada, de tanta dor! Eu sou frouxo pra dor, confesso. O pé ficou no colo, ninado como um bebê inchado e era assoprado como se tivesse asma. São dores que não se esquece. Pouco tempo depois, encravou de novo. Genésio, nem pensar, eu o matei lembram? Todo o processo outra vez mas agora ninguém me pega no bisturi. Infeccionou. O dedão ficou como a cabeça de uma tartaruga atingida por uma hélice. Pior, a oito dias de viajar pra Itália. Só que esta viagem era esperada há quarenta e tantos anos, para conhecer a cidade que minha avó nasceu. Fantasiava minha chegada à Roma, minha segunda pátria, eu quase um italiano. O dedão tinha de se aguentar. Algumas providências foram tomadas: antibióticos, antinflamatórios, alpercatas abertas e macias. Diminuiu mas não curou. A tartaruga agora parecia atingida por um remo. Desembarque em Fiumicino, mil dificuldades: troca dinheiro, carrega as malas, pede informação e não se entende a resposta. Sou mais brasileiro do que pensava e os italianos não me deram a importância que eu esperava. Vera, Mena, Naju e Juvita esperando tanto de mim e de repente, a traulitada! dei uma porrada com o dedão, claro que tinha de ser o encravado, no carrinho cheio de malas. O sangue compareceu na hora! Fiquei ali mesmo, no chão, acalentando o pé, à beira da morte! Berrava, esperneava, as meninas ficaram catatônitas e ninguem entendia que eu queria um simples curativo. Me salvou, mais uma vez, minha irmãzinha: ela o sacou da bolsa e assim fiz minha entrada na Itália: mancando e com um absorvente higiênico Care Free amarrado de barbante no dedão. Me fudi mas não perdi a pose.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Iara


A mãe escreveu sob a foto:
-...num doce balanço
a caminho do mar!


EU GRITO:

SERÁ QUE NINGUÉM ESTÁ VENDO
ESTA MENINA SOZINHA NA PRAIA ???!!!!!



iara no morro, 08/08: foto de maira

Mena


Aeronauta quer conhecer Mena e Maria fez uma postagem sobre tia Norma. Bateu a vontade de escrever sobre minha mãe postiça.
Mena recebeu o nome de vó Carmena, nascida Carmela na Italia e teve seu nome aportuguesado quando se registrou no Brasil. Mena sempre demonstrou orgulho do nome pouco comum. Quando nasci, ela já estava com 15 anos e ajudou minha mãe a criar os três ultimos filhos. Virou meio-mãe de todos. Casou e nunca teve filhos: dobrou o papel de irmãe. Sempre foi a maior referência afetiva na família. Com a morte de nossos pais, foi alçada naturalmente ao papel que já era seu. Vieram os sobrinhos e todos os irmãos lhe entregam o primeiro filho em batismo.Dinda Mena. Separou, casou de novo. O primeiro marido, um Vadinho com apelido Toinho, lhe levou a juventude. O segundo, Dr. Teodoro Madureira com outro nome pomposo, médico, fera em otorrino, catedrático da Faculdade de Odontologia da Ufba, lhe deu o que merecia mas enloqueceu no final e tentou sufocar sua vida. Mandou andar, saiu com a roupa do corpo para ser feliz. E tem sido. Sozinha de marido mas feliz. Tem tanta alegria de viver que nos ensinou a aprontar. Saía na noite, brincava carnaval como ninguem, fitinha na testa e brandindo sua indefectível mamãe-sacode para espantar urucubaca, sempre mijando nas pernas e lavando com cerveja; foi no brega com a gente, deu birro de carreira em barraca de festa de largo, tomou todas, correu da polícia por pregar cartaz na rua no tempo da ditadura, dava festas homéricas, tem mais de 100 afilhados (cadastrados!), e quando alguem dizia -Vamos? ela nunca contava até três. Mena topa tudo, em nome da farra. Nos veraneios do Morro de S. Paulo, encabeçava os roubos noturnos e as visagens pra matar Ieda de medo.É uma figuraça. Maria a chama de Dôidia (doida com pronúncia baiana).
Agora em novembro faz setenta anos e vamos levá-la, a pedido da própria, a Buenos Aires. Eu, Vera, Maria e Juliana. Vamos aprontar nos pampas.
É uma paixão em minha vida.
E isso tudo com apenas 1,50 m de altura.



mena em foto1 de tio mirabeau; foto 2 de bernardo

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O "63"



Em todos os ultimos casos aqui relembrados por mim e Maria, sempre aparece o nome de Mena. Carmeninha, Carmena Maria, minha irmã mais velha Mena. Não vou descrever a figura, ela tem sido descrita aos poucos por nós. Na maioria dos casos ela é a protagonista, talvez a mais louca de todos nós. Casada pela segunda vez com um renomado médico baiano, professor da Ufba, uns 30 anos mais velho que ela, carregou para o casamento toda a rede de familia e amigos, que não era pequena! As festas no sítio da Estrada Velha do Aeroporto ficaram na história: os bailes à fantasia com concursos, invariavelmente tinham os jurados subornados por Maria, ao se sentir ameaçada por Nanan. Casamentos e separações ali aconteceram. Todo domingo tinha uma feijoada para cerca de 30 pessoas e Mena capitaneava todos os eventos. O marido dela assistia a tudo, impassível. No fundo ele gostava da esculhambação, era a oportunidade de alegrar a vidinha bunda que levara até conhecer Mena.


Belo dia ela resolveu que queria conhecer um puteiro de verdade. Escolhido o 63 que com Maria da Vovó, era dos mais famosos da Bahia. Ladeira da Montanha, 63, lá fomos nós. Eu, Morena, com quem era casado, Mena, Beto e Maria Sampaio. Na porta, estacionada garbosamente, a kombi do marido doutor famoso. Lá dentro, as novatas estavam maravilhadas. A casa antiga, bem conservada, tinha um bar, um salão de dança e mesas ao redor. Sentados em uma delas, sob intensa luz negra, só se via os dentes das meninas e os zoião verde de Maria. Todo mundo adorava luz negra exatamente para ficar de olhos verdes e dentes branquíssimos. E ainda se fazia questão de vestir branco pra ficar todo aceso! Bebidas na mesa, deslumbradas, as três começaram a receber os convites para uma parte. Sendo dois homens com três mulheres, eu e Beto tinhamos de nos revezar para avisar aos clientes que as moças já estavam acompanhadas. A sorte é que puteiro é o lugar mais respeitoso que existe e os cavalheiros se comportaram como tais. Dançamos, bebemos e fumamos muito. O certo é que as três saíram do brega virgens como entraram. Só não sabemos se a kombi do doutor marido famoso foi reconhecida por algum colega que por ali passou.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Loló


Muitos foram os pedidos de esclarecimentos sobre o binômio calçola x loló. Cedo às pressões. Loló, todo mundo cheirava, ao menos enfiava o nariz no pano e fazia cara de paisagem. Lança-perfume era rara e cara. Conseguir um frasco de Universitária era ganhar passaporte para a fama, entre os descolados. O carnaval da Praça Castro Alves era onde a gente se encontrava; o ponto era a Barraca S. Jorge, primeira à esquerda para quem está de frente para o poeta. Lá adiante, a Escadaria do Desbunde, no prédio do Palácio dos Esportes.

Três meses antes do carnaval, começava o rebuliço para se organizar a loló. Contatos para os fornecedores das receitas para éter, clorofórmio, o diabo que botavam naquele troço. Tinha um com cheiro de tutti frutti. Era uma desgraça, a ressaca mais violenta que jamais tive, pior que a de vinho D. Bosco. E a bandeira? depois de cinza o hálito de chiclete ficava por três dias entregando quem cheirou. E ninguem levava lencinho pra rua: usava a manga da mortalha, um pano amarrado no pulso, o pano dos garçons enxugarem as mesas e, eventualmente, como neste caso, uma calçola, por que não? O problema é que se tratava de uma estranha, de passagem pela barraca. E a iniciativa coube, a bem da verdade, a meu irmão Leonardo mas compartilhamos todos. Lapsos de memória mostram a moça sentada no colo dele, arrancando a calcinha usando os polegares, com uma categoria invejável, sem piscar, com cara de pastel. Ela estava em outra encarnação. Os mesmos lapsos ( ah, como é efêmero o barato da loló! ) me recordam o pano preto ( sim, a calcinha era preta ) crescendo em minha direção com pequenos pontos brancos parecendo pingos de vela grudados nos fundilhos. Entenderam porque hoje agradeço ao fato da loló ser desinfetante?
Maria, como disse, não viu nada, estava furando os zóios.
foto: cartaz da almanaquecomunicacao.com.br

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Maria, carnaval e cinzas.


Minha primirmã Maria Sampaio é conhecida por sua, digamos, pouca coordenação motora. Quase uma paralítica cerebral. Já vi criancinhas melhores.
Carnaval dos anos 70, Praça Castro Alves ( sim, jovens, o babado acontecia lá). Pode parecer pouco provável mas eu e Maria bebíamos todas, nos bons tempos. No sábado, exageramos. Eu, de minha parte, posso contar a extravagância: tomei um porre de loló na carçola de uma transeunte da praça. Ainda bem que aquele troço, o maná dos deuses, era também desinfetante. Pedi e a moça tirou a calçola em plena barraca e alí mesmo encharquei a dita e a moringa! Maria, ao lado, nada via e nem podia, ocupada que estava em encher a própria cara. Coisa rara, embebedou feio. Apesar do tumulto, sempre aparecem os ensinamentos:
-"Levanta a cabeça!"
-"passa gelo nos pulsos!" - como pode alguem pensar que isto resolve? só bêbados.
-"mete o dedo na garganta e bota pra fora o excesso!"
Desta ela gostou e aí, fudeu! deu-se o embate entre a mulher e a bêbada, entre a bêbada e a paralítica cerebral. Fatal. Sentada num tamborete, alguem segurando a cabeça pra não vomitar nos peitos, e com o dedo em riste, virou na direção onde ela imaginou estar aboca aberta e...Poft! enfiou o dedo no olho, e caiu pra trás já gemendo. Nocaute. Carregamos para o QG, morta.
No dia seguinte, domingo, acordamos Dr. Humberto Castro Lima que gentilmente abriu o Hospital de Olhos do Canela para consertar o estrago que a unha fez: Maria havia arrancado um pedaço da córnea, às gargalhadas. Fim de carnaval, para todos. Daquele, bem entendido.
O olho? taí, bem verde, bem lindo, pra confirmar a estória.
foto de luciano? arquivo de maria sampaio

sábado, 13 de setembro de 2008

Lília

Hoje não quero conversa.
Fui visitar uma amiga muito, muito querida e a encontrei numa cadeira de rodas.
Derrame.
Paralisada a mão que faz aquarelas maravilhosas, a mesma que segurava a minha, ensinando a mistura das tintas.
A voz não sai, a mesma que me berrava " mais água! mais água" e depois caía na gargalhada.
A amiga que me ensinou que os boçais falam " tupiniquim arcaico", uma lingua que não nos interessa.
Os olhos verdes estão tristes e choram à toa.
Meu coração está partido.
Só volto ao normal depois de Lília.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Que carro é este?


Um dia meu pai me disse que a gente sabe que está ficando velho quando ganha o primeiro par de chinelos no aniversário. Felizmente ninguem jamais se atreveu a me dar tal presente. Mas os sinais aparecem, e a gente vai se dando conta devagarinho, como a velhice é. Quando o primeiro menino de sinaleira me chamou de tio, tive uma leve desconfiança. Quando uma menina que você joga charme diz que você está ficando um coroa bonitão, é uma derrota. Vontade de ficar mais em casa: patognomônico*! Dizer " no meu tempo...Arghhh!" Outro sinal bárbaro é a chegada de folhetos para viagens de navio: batata! pense naquele navio com as velhinhas americanas com chapéus de flores de plástico!! e você dançando com elas, mandado por um animador! Me poupe.

Hoje tive um. De volta do Shopping onde fui comprar o presente de aniversário de Vera ( é hoje, 12 de setembro) me dei conta que perguntava o tempo todo a Jango: "- que carro é este?" e dele me responder:-"porra, meu pai, você não conhece mais nenhum carro não?" É isso: não conheço mais os carros depois da "abertura dos portos". Só me lembro daqueles básicos das 4 fábricas tradicionais. Quando misturam com os importados...
Outro dia tomei uma baixa da caçula Nana porque chamei uma banda de conjunto. Esta foi forte. Até eu me toquei dois segundos depois mas já era tarde, eu já estava bem mais velho...
PS: me mandem os seus sinais para que eu me atualize e pague mico menor.


*diz-se do sinal ou sintoma cuja presença é suficiente para estabelecer um diagnóstico; foto: cleber rocha

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Curtas

Alguns textos que escrevo podem parecer loucuras ou até mesmo mentiras. Não são. Os fatos aconteceram rigorosamente; sim, mijava no Caixa Eletronico mermo! o episódio da noite de Boxe é absolutamente verdadeiro.


Sobre o post Nocaute: algumas pessoas não acreditaram na estória. Minha filha Lua chegou a me chamar de mentiroso; só posso creditar ao fato de estar parando de fumar. Ela está histérica, quase louca, ameaçando matar o coitado do Edu. Corra Edu, corra! A unica coisa que alterei foi para diminuir, nunca para aumentar: o naiz do promotor da luta, p.ex., era formado por duas nozes, pus uma para economizar texto. E as vaias também foram maiores e piores que a relatada.


Sobre política: recebi alguns pedidos locais para fazer uma analise da eleição daqui de Ituberá. Não o farei. Tô nem aí. Só me meto em eleição americana. É otimo dar porrada em americano. Se quiserem, posso falar de argentinos, também. Adoro! A Cristina Kirschner é uma graça, com aquele sorriso meio torto. A propósito, as mulheres políticas atuais são o que há em matéria de sensualidade: Bachelet, Dilmão e a favorita, Angela Merckel, todas gatas. A mulher do Sarkosy não conta: ela não é política.


Hoje assisti uma prova de natação da Para-olimpíada. Vi um chinês nadar sem os dois braços. Aquilo devia passar em horário nobre, repetindo de hora em hora. A turma já ganhou mais medalhas que os atletas-que-todo-mundo-sabe-os-nomes e que aparecem na TV o tempo todo, fazendo comercial de desodorante. Não vão querer anunciar com quem não tem os braços.


Nilson: obrigado pelas palavras; volte sempre. Tentei contactar vc e não consegui. Acho que devido à minha idiotia internautica.


Aos que relataram gargalhadas com o episódio do Boxe, digo que só riram porque não aconteceu com vocês. Sério, quase me caguei.


segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Nocaute! *

* Uma deixa de Miro Paternostro


2005, eu era Sub-Secretário de Saude de Dias d'Ávila. Final de tarde a Prefeita me liga, que Popó, o lutador, ia promover uma noite de boxe no Ginásio. Luta demonstração, nada muito sério. Nem desconfiei. Só queriam um médico para dar assistencia; os promotores avisaram: sem médico, sem show. Procurei nos Postos e no Hospital e todos deram desculpa. Ainda sem desconfiar de nada, eu fui;. Levei um técnico em enfermagem e um veterinário, e até hoje me pergunto por que.
Na porta do ginasio me recebe um homem enorme, com a gravata maior ainda e o nariz que era uma noz e pergunta: -" o senhor tem experiencia em UTI? traumatismo barra-pesada?". Gelei, mas não perdi o prumo. -"Claro", respondi nem sei por que. E ele: -"Serão quatro lutas e alem do juiz, só o senhor pode parar a luta, olha a responsa". Perguntei qual seria o critério de parar, e ele, com a voz de trovão, que nem precisava, quase berrou: -"NÃO PARE POR BESTEIRA!". Porreta essa. O que seria besteira numa luta de boxe? Os pés fugiram.
Casa cheia, a tribuna com a Prefeita, Deputado e até um Senador, cheiro de sangue no ar, facas nos dentes. Tres cadeiras para a equipe médica junto ao ringue. Uma gostosa sobe com um cartaz de 1º ROUND. Bléiiin! "Meu Deus, bate devagar desgraçado, é uma demonstração". Eles não ouviam meu pensamento. Um dos lutadores toma um pau, o juiz para a luta, me chama e alguem me empurra -" vai lá!". Passei debaixo das cordas ( nem pensei em saltar por cima) e já recebi a primeira de muitas vaias da noite. Ensurdecedora. O lutador, beiço partido no meio, me sussurra com ódio: -"se me desclassificar te pego lá fora". Meu assistente, o veterinário, estava verde. Dei uma olhada e percebi que ele estava com as luvas trocadas, com um dedo sobrando; aquilo era sinal de pânico. O tecnico de enfermagem havia sumido desde o primeiro gongo. As vaias não diminuiam. Cada round, cada luta era um sofrimento. Todos os lutadores me ameaçavam com os olhos. Foram DOZE lutas de cinco assaltos, quatro nocautes, duas toalhas e NENHUMA DESCLASSIFICAÇÃO MÉDICA. Acho qu nunca sofri tanto na vida. Se algum daqueles filasdasputas tivessem tido algo sério, poderia acabar com minha carreira. No final o homenzarrão do nariz de noz me deu um tapinha nas costas e Popó me perguntou se eu não queria seguir carreira no boxe...
Pedi demissão pra não matar a Prefeita. Desde então me recuso a ver luta até na TV.

Boitaraca News


Boitaraca é um povoado de pouco mais de 50 familias remanescentes de um antigo quilombo, que junto ao de Jatimane, abrigava os fugidos da Fazenda Mutumpiranga, que anos depois veio a ser nossa. É um lugar bucólico, com casinhas, uma igreja e um cemitério. Só. Nem Posto Médico tem, daí se vê a importancia que os podres poderes têm dado a estas comunidades historicamente isoladas e, portanto, discriminadas. 80% das pessoas se chamam Rosário de sobrenome, como Rosário dos Pretos, a igreja do Pelourinho. O motor econômico é o beneficiamento da piaçava, trabalho desgraçado que acaba com a saude das pessoas, emprestando mais 40 a quem tem 30anos. O lugar de maior movimento é o bar de Carapicum. Rosário, evidente.


Todas as casas têm antenas, comuns ou paranóicas, como se diz por aqui, que pegam até o Amazonas. Programa preferido: assistir e comentar depois, as novelas. Tentei saber algo da história do povoamento e entrevistei: Maicon, Maxwel, Estephane, Railan Diego, Maikele e Marlon. Todos Rosário, evidente. Ninguem sabia nada. Zumbi se revirou três vezes no túmulo.

Em tempo: os nomes são verdadeiros, copiados dos prontuários médicos.

sábado, 6 de setembro de 2008

O Jumento e o Elefante


Nem gosto de americanos a ponto de falar daquela eleição complicada, que cada vez mais, entendo menos. O Partido Democrata de lá, parece o nosso PSDB, só que o simbolo é o Jumento. O Republicano, algo como o nosso Demo, é representado pelo Elefante. E todo mundo está tomando partido na campanha alheia. Aqui no Brasil, virou febre a torcida pelo Obama. Com cara de brasileiro, a imprensa corre a defini-lo como " o primeiro negro a chegar à presidencia do mais importante país do planeta", a despeito do próprio evitar a "etnização" da disputa. Mas a imprensa ignora isto, quer ver um negro chegar lá. E depois? que diferença isso fará? Ele será apenas o Presidente do país deles lá, o ufanismo permanecerá, o protecionismo também. E o McCain? parece que o "herói" é um vilão aqui, o homem que pode impedir o negro de "nos" representar. Herói de guerra, branco e velho: prato cheio. Vamos cair de pau no McCain.

Nas leituras que fiz, apenas John Edwards tinha um discurso mais próximo do respeito à autonomia dos países e uma proposta mais interessante de aproximação com a América dos Pobres. Sartou fora, não aguentou o tranco. Tia Hillary resistiu pelos mesmos motivos do Barak: " a primeira mulher..." Ganhou o Negro. Questão de cotas, acho.

Agora, a unica diferença que vi entre os dois foi: McCain quer continuar batendo no Iraque. Obama acha que a porrada deve ser no Afeganistão. Questão de diferença ideológica partidária americana. McCain, o Elefante. Obama, o Jumento.
Foto do site yahoo notícias; sem crédito

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Jango

Obrigado a todos pelos votos de recuperação de meu filho.
Felizmente o susto passou.
As cirurgias hoje são uma maravilha. Ele operou ontem à noite, foi pra casa hoje de manhã e meio-dia já estava no restaurante comigo, a pedido.
A cabeça, no entanto, ainda está vazia.
Adeus.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

EMERGÊNCIA!!

Meu filho João acaba de sair de uma sala de cirurgia de emergência. Foi ontem pra Bahia fazer uma Ressonancia no pé, por causa de um atropelo no carnaval. Atirou no que viu, acertou o que não viu. Na estrada, voltando pra casa, atendo o telefone e tomo o soco no estômago: -" Pai, Jango vai ser operado agora: apendicite!" Alguem aí, faça alguma coisa direito depois de uma dessas. Estou a 200 km de distancia do Hospital. Sei, não faria nada se lá estivesse, mas queria segurar a mão dele. Não é mais pequeno, com 27 anos, tem uma mão maior que a minha mas é meu filho, eu colocaria, então, minha mão dentro da dele. Talvez até ele me acalmasse...
Médico é mais dramático que os mortais: a gente sempre parte do pior para o menor dos males. Fica pensando na anestesia, na cabeça do cirurgião, na cânula esterilizada (?), ou até mesmo na esmeraldite ( a Lei de Murphy aplicada aos profissionais de anel verde). Vá saber. Prefiro estar lá, esperando o acordar grogue, para ele se sentir em casa. Os outros filhos e Vera me aconselharam não pegar estrada à noite e têm razão. Acabo de falar com ele, com aquela voz de bebum. Graças a Deus tudo correu bem e amanhã cedinho vou correndo pra lá, pra lamber a cria.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Aqui, não!


Vejam como são as coisas: há poucos dias mostrei minha casa, e as fotos ainda podem ser vistas aqui no blog. Recebi um monte de comentários com elogios. E é mesmo de elogiar; fica num terreno de 2.000m², com dezenas de árvores que fazem o isolamento acústico, e tem comedor para passarinhos. O sabiá já vem comer mamão na janela da cozinha.Aparece sanhaço, tapiranga ( sangue-de-boi) com o vermelho mais bonito já impresso em um ser vivo, bem-te-vi. São todos tratados a pão-de-ló. Eles já perceberam que podem ficar seguros por aqui e ficam. Pois todo esse sossego correu sério risco há pouco tempo, e ainda corre. Um vizinho imbecil, daqueles que lembram os das revistas em quadrinhos, tem um galpão a poucos metros da minha cerca dos fundos, onde por sinal fica o meu quarto com o gabinete, local em que passo 50% de minha vida quando estou em casa, principalmente à noite. 30% passo na varanda da frente e o resto por aí. Pois o cretino, pra fazer média, ofereceu o dito galpão para o ensaio de uma banda! Pense na visão do inferno! Banda de novatos, meninos com testosterona nos ouvidos, e que tocam arrocha!!! Pra quem já confessou que não gosta de música...No primeiro dia estranhei mas ainda me contive, mas, como no poema de Maiakowski, não reclamei, os passarinhos se calaram e eles avançaram, tocando até as 22 h. Resmunguei a noite toda e de manhã fui tomar informações. Soube quem era o band leader; ele que me aguardasse. Quando voltei do trabalho às 17 h, já ouvi de longe a som de Nara Costa! fui pra casa esperar a hora que terminariam. Às 20 h, aporrinhômetro no nível vermelho, já saí de cueca (boxe, claro ) e arrombei a festa! O menino gaguejava tentando me convencer que tocariam mais baixo e eu lá de cueca, esbravejando. 1 X 0 pra mim. Saíram, devem estar povoando outro bairro com o som de Silvano Sales. No outro dia, os passarinhos cantaram diferente. O sabiá chegou a dois metros de mim, virou a cabeça pra me olhar de frente e foi procurar o que fazer, dar um rolé.


foto: aves do brasil; tapiranga, sangue-de-boi, tiê-sangue.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

E o teatro?


Já que comecei, vou até o fim: também não vou mais. Nem posso dizer que não gosto de teatro, até fiz parte do grupo da Faculdade de Medicina, quando atuamos em várias escolas com relativo sucesso. O problema é com o chamado "teatro interativo". Aí o bicho pega. Feio. A ultima peça que assisti foi A Bofetada, no dia em que comemoravam 10 anos em cartaz. Isso já faz mais de dez anos, acho. Naquele dia estava com humor de cão; quem me deu "bom dia" ouviu como resposta: "por que?". Achei até que um teatrinho desopilador poderia me ajudar. Qual o que! Quando aquele pessoal desceu do palco para escolher um pato, gelei! Sou mal humorado mas não consigo ser mal educado, esse era meu dilema: que faria se me "escolhessem"? Simulava um ataque cardíaco na hora! Ou epiléptico, por ser mais teatral. Nunca mais voltei.


Algum tempo depois, uma amiga me contou que havia assistido a uma peça em que os atores desciam pelados do palco, e "interagiam" com o público, assim, como se estivessem na privada. Ela comentou que chegou a sentir o cheiro dos pentelhos de um ator coadjuvante que se postou, com os pés sobre a poltrona, a terríveis poucos centímetros de seu nariz! E se eu não conseguisse controlar minha educação? ou ele a ereção?


Para completar a tríade, também não vou mais a shows musicais, a partir da invenção nacional do acompanhamento das músicas com palmas, ou com corinho. Só se for João Gilberto. Aí ele dá um esporro por nós dois.


Espetáculo, para mim, qualquer que seja, deve ser: pago para assistir! Caso contrário assumo:




VÁ AO TEATRO


( mas não me chame )


xeudizer:

anotações livres, leves, soltas