quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Loló


Muitos foram os pedidos de esclarecimentos sobre o binômio calçola x loló. Cedo às pressões. Loló, todo mundo cheirava, ao menos enfiava o nariz no pano e fazia cara de paisagem. Lança-perfume era rara e cara. Conseguir um frasco de Universitária era ganhar passaporte para a fama, entre os descolados. O carnaval da Praça Castro Alves era onde a gente se encontrava; o ponto era a Barraca S. Jorge, primeira à esquerda para quem está de frente para o poeta. Lá adiante, a Escadaria do Desbunde, no prédio do Palácio dos Esportes.

Três meses antes do carnaval, começava o rebuliço para se organizar a loló. Contatos para os fornecedores das receitas para éter, clorofórmio, o diabo que botavam naquele troço. Tinha um com cheiro de tutti frutti. Era uma desgraça, a ressaca mais violenta que jamais tive, pior que a de vinho D. Bosco. E a bandeira? depois de cinza o hálito de chiclete ficava por três dias entregando quem cheirou. E ninguem levava lencinho pra rua: usava a manga da mortalha, um pano amarrado no pulso, o pano dos garçons enxugarem as mesas e, eventualmente, como neste caso, uma calçola, por que não? O problema é que se tratava de uma estranha, de passagem pela barraca. E a iniciativa coube, a bem da verdade, a meu irmão Leonardo mas compartilhamos todos. Lapsos de memória mostram a moça sentada no colo dele, arrancando a calcinha usando os polegares, com uma categoria invejável, sem piscar, com cara de pastel. Ela estava em outra encarnação. Os mesmos lapsos ( ah, como é efêmero o barato da loló! ) me recordam o pano preto ( sim, a calcinha era preta ) crescendo em minha direção com pequenos pontos brancos parecendo pingos de vela grudados nos fundilhos. Entenderam porque hoje agradeço ao fato da loló ser desinfetante?
Maria, como disse, não viu nada, estava furando os zóios.
foto: cartaz da almanaquecomunicacao.com.br

20 comentários:

Edu O. disse...

às vezes a explicação da piada a torna sem graça. nesse caso que não é piada, mas é mais engraçada do que todas, foi a cereja do bolo.

Anônimo disse...

Mena e eu éramos exímias fabricantes. E não só de carnaval, também de meio-de-ano. Dizem que da orla já se sentia o perfume da casa de Amaralina (jamais tutti frutti).

aeronauta disse...

Ah, Bernardo, só seus textos para me tirarem do desvario...

Anônimo disse...

Goordo!Não sei como não se registraram mortes.De parada cardio respiratória ou de candidíase generalizada.

Bernardo Guimarães disse...

Se conta o milagre mas não se diz o santo mas como a própria se entregou...MENA E MARIA eram as maiores fabricantes de loló da Bahia! e era de excelente qualidade. Litros saiam clandestinamente da Amaralina, mais precisamente da Maison 7.Eram fabricadas com requintes. ISO 9000.

Nilson disse...

Loló na calçola é a imagem definitiva. A dança da garrafa e a do créu não passam de vulgarizações!!!

- Luli Facciolla - disse...

Ái... mais ainda sinto a dor do olho de Maria... Tadinha... Ainda bem que bêbados não sentem "nada"!

E ainda bem que Loló era desinfetante! rsrsrsrsrs

Beijos!

miro paternostro disse...

nem sei se rio mais da postagem ou dos comentários. um verdadeiro colar de pérolas. "cara de paisagem" entao, minha preferida.


realmente Edu falou e disse: a cereja do bolo!

Meninha disse...

Ai Jesus! Ainda bem que ANOOOS se passaram e você não faz mais estas loucuras. Já pensou, pegar candidíase na boca? E ainda passar para quem te dá bitoquinhas?

Janaina Amado disse...

Estou aqui boquiaberta! A gente pensa que está entre gente decente, profissionais capacitados, etc., e de repente descobre que se encontra entre... exímios cheiradores e fabricantes de loló, que coisa!
Adorei, me diverti à beça.
Diante do que existe hoje, a história parece inocente, não acharam?

Vivz disse...

Me acabo de rir com suas histórias. Conte mais, conte mais!

Anônimo disse...

Tio
Estou imaginando você fungando nessa calçola preta, conte a quele carnaval que você ficou em coma alcoólico, não sai da minha mente, ali eu pensei o pior. Foi foda!kkkk
vou pro caruru de Kiko,vc vai esta ai?bjs

Marcus Gusmão disse...

Rapaz, você não escreve, filma. No fotograma "usando os polegares" dá pra ver o barulhinho do gesto, a remexida necessária e a cara safada de pastel da moça. Tenho que dizer com todas as letras: você escreve bem pra caralho!

Anônimo disse...

pai, conta tb aquela que tio Paulinho ficou bêbado e que um louco na rua passou e disse qualquer coisa e vocès entenderam outra, gerando uma grande pancadaria. Ah! adoro tb a recepção do casamento de tio Eduardo na Mutumpiranga e tia mena escondida atrás de alguma coisa....
Lua

katherine funke disse...

a decadência da decadência... com alguma elegância... pior se a calcinha fosse amarelo-limão!

Anônimo disse...

pai, cê ta preguiçoso demais!!Qnd vai postar o próximo? Vicia a gente e depois fica mascarado. Assim não dá!
bjs

Anônimo disse...

cadê você rapá? tamo troncho de saudades

Maria Paternostro disse...

Hehehehehe a Praça Castro Alves tem muitas histórias. Bjs

Anônimo disse...

Sera que ele resolveu matar a saudade das calçolas e entrou em coma????

Anônimo disse...

Que preguiça é essa entro todo dia e nada. Acoorda!

xeudizer:

anotações livres, leves, soltas