Pensando em me agradar, um paciente me levou uma banda de tatu moqueado. Recusei com cuidado de não ofender, explicando que sou "alérgico a carne de caça, qualquer caça". Não sou, mas não posso mais comer o que comia quando criança aqui na roça. Paca, tatu, cotia não, que não se come, nem tamanduá que tem gosto de formiga. Jacaré, jibóia, veado, rã, teiú, até passarinho. Eduardo, meu irmão, era retado pra derrubar beijaflor de badogue, arrancava o coração ainda batendo e engolia, com a ponta pra fora, mode dar mais pontaria. Boi, carneiro, bufalo, tô-fraco, pato, baiacu, bobó, camarão de água doce. Cheguei a comer o fim da linha da escala animal: sariguê, bicho com cara de rato e catinga de bode morto! Leite de vaca cru, misturado com mastruz. Xarope de jurubeba pra combater fraqueza do pulmão. Definitivamente, não posso mais comer o que comia. A maioria, deixei por força do ecologicamente correto e o resto, porque não preciso mais provar, como antes, que podia comer de um tudo um pouco. Hoje mais seletivo, só me permito deliciar com carne criada para o abate, boi, porco, galinha. Limpei a consciência e entupi as artérias: Colesterol de 330.
Parece que eu era feliz e nem desconfiava...
foto:tvtem.globo