terça-feira, 29 de julho de 2008

O roubo do pinico



Antes de qualquer coisa, quero a garantia de vocês que jamais contarão a ninguem o que vão saber agora, sob pena de eu ser processado por atentado ao pudor ou dano ao patrimônio público.

Nesta madrugada, ladrões renderam o frentista e levaram o Caixa Eletrônico do BB que funciona no Posto de gasolina da minha cidade. Arrancaram, jogaram em cima de uma caminhonete e levaram meu pinico. Eu explico. Eu mijava no Caixa Eletrônico do Banco do Brasil! Sempre, quase diariamente. Explico novamente: eu tenho TOC -Transtorno Obsessivo Compulsivo, tenho mais TOC que Roberto Carlos. E por conta deste disturbio, a gente desenvolve certos rituais sem perceber. Um dia entrei lá pra pagar umas contas. Era noite, tudo calmo, ruas vazias. Antes da senha, uma vontade incontrolável de fazer xixi. Aos 55 anos, não se deve confiar no controle do xixi. Não dá. Ou mijava no Caixa ou nas calças. Escolhi o primeiro. Pronto: estava estabelecido o novo ritual do meu TOC. Passei a mijar em todos os Caixas que frequentei; o de Nazaré das Farinhas, de Piatã, do terminal do Ferry Boat. Desenvolvi uma tecnica: fazia cara de paisagem para a câmera, puxava a cesta de papel com o pé e disparava uma inesperada e interminável mijada. E saía dali com a cara de paisagem maior ainda. Hoje ao chegar no Posto para abastecer, percebi a casinha do Caixa vazia, sem porta, quando os meninos me contaram. Saltei e fui conferir; entrei rodei a salinha e nada! não senti nenhuma vontade de mijar. Nadinha de nada. Corri para a Agência onde há cinco caixas: nada. Uma por uma. Nada. Estou curado!. Corri para casa feliz. Parei o carro, saltei pra abrir o portão e não aguentei: mijei ali mesmo, no pé da grade. Uma mijada longa e prazeirosa. Vamos ver amanhã.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

O pijama e o cão


Atendendo a pedido de minha amiga secreta dona do blog "aeronauta", conto hoje o episódio do meu pijama de aniversário. Prefiro achar que fazia sete anos, por causa do desejo de possuir um pijama de manga comprida. Quase tenho vergonha de contar. Morava no Caquende 235. Este da foto com cara desconsolada sou eu no pátio da casa. Atrás de mim um portão de ferro; bem à esquerda, depois do portão, ficava a lavanderia. E foi alí que amarraram o cachorro que Toinho trouxe pra casa; já adulto, o cão era absolutamente indomável, anti-social, quase selvagem. Latia e avançava na própria sombra. A corrente era enorme, obrigando a gente a passar se esgueirando pelo canto direito. Era isso ou não teria utilidade contra eventual ladrão. Lá no fundo, ficava a casa de minha avó. Foi aí que me arrombei. Ganhei o dito presente, um pijama de manga comprida e de listras! Até hoje não entendo por que tal desejo...saí da casa em disparada para mostrar o pijama à minha avó. Não deu tempo, o cachorro me pegou no meio de campo, me jogou no chão e fez meu pijaminha em trapos. E na lama. Quando tiraram o cachorro de cima de mim, estava arrasado e aos cacos. Até hoje tenho medo de cachorro e pavor de pijama.

domingo, 27 de julho de 2008

A gripe II -continuação


O grito
Edvar Munch

Morto ainda. Mal consigo andar. Recebi muitas visitas dos amigos de cá. TODOS, sem exceção, me receitaram um remedinho. Coisas do interior. Os mais novos, recomendam os antibióticos de ultima geração; sabem os nomes mais que eu! "Azitromicina é tiro e queda!". "nada, minha tia me deu dois comprimidos de Tetrex, a gripe não passou dos espirros" . Norfloxacino está na moda, três me receitaram. Uma chegou a trazer um pacotinho de Apracur. Com um nome desse, nem me atrevo! Os mais velhos, mais sábios mas não menos receitadores, recomendam os caseiros: chá de poejo, guaco e eucalipto. "Você com pé de canela na porta? faz um chá com folhas de pitanga, amanhã você nem parece!". A vizinha acudiu com a receita de chá de alho, mel e limão - ARGHHHH. Minha mãe dava pra gente com uma chave apertada na mão pra não vomitar. Vomitava assim mesmo. Folha de laranja-da-terra, onde diabo vou arranjar? Num instante aparece um tanto. Agora mesmo foi o capim-santo. Passo. Vontade mesmo é de bater todos eles no liquidificador, botar numa garrafa e oferecer à proxima visita, em forma e clister.

sábado, 26 de julho de 2008

"A" gripe


Uma gripe avassaladora sugou meu cérebro. Me arrastei até aqui para postar o que pode ser minhas ultimas palavras! Dramas e tragédias de lado, estou um caco. Depois dos cinquenta, resolvi agir como se tivesse sessenta e passei anualmente a enfrentar meu maior pesadelo que é tomar uma injeção. Vacina dos velhos, vacina do avô, contra gripe. Aqui estou: biblicamente arrasado. Logo hoje, no meu primeiro Dia do Avô, como tal. Minha neta me acordou cedinho. Mandou sua procuradora e intérprete me ligar- ela ainda não fala minha língua. Mandou dizer que vou ganhar um presente por esse dia, como se já não bastasse ser seu avô. Ah, Iara, vovô já te ama tanto, mas tanto que será capaz de amanhã tomar uma Benzetacil na bunda pra não morrer desta gripe infame e poder estar muito mais com você. Reze por mim.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

O$ vagalume$


Quando a gente morava na fazenda, ficava num assanho quando vinha alguem da Bahia visitar. O lugar era o fim do mundo. Meu pai instalou um carneiro hidráulico pra jogar água no tanque e a energia era de um gerador, a partir de uma roda-d'água. Água de beber vinha da fonte em barril, pro porrão ( um pote enorme) daí pra moringa. A correspondência vinha de avião, era jogada pela janelinha em voo rasante e a gente ( os meninos, é claro) desembestava pelo pasto pra achar o pacote. Vez em quando o piloto errava o alvo e por várias vezes o pacote não foi achado ou era encontrado boiando no rio. Mena, que morava na Bahia, vinha sempre, duas vezes ao ano. Cheia de revistas Manchete, Fatos & Fotos, Sétimo Céu, quadrinhos, doces. Uma das visitas mais esperadas era tia Norma. Era casa cheia. Era a unica pessoa adulta a dar importancia às crianças. Mais do que isso: fazia a alegria da garotada. Boquinha da noite, dava a pista: "Vagalume guardado em caixa de fósforo, vira dinheiro!". Era uma loucura. Alguem tem ideia da dificuldade de se pegar vagalume? quando se vê a bunda acesa e se mete a mão, já está adiante, e faz curva voando, apaga a bunda, acende mais acima...um inferno. Mas a vontade de ganhar dinheiro era tanta que com a ajuda de Magno, o gerente engenhoso, sempre dava pra descolar um ou dois por noite. Guardados nas caixinhas, vinham as horas de espectativas. "Não pode ficar olhando toda hora, senão não vira! Só se transforma de madrugada, depois que todo mundo dormir". Que acordar maravilhoso! Corrida às caixinhas e lá estavam valiosas moedas, muitas moedas! Sempre tinha uma a mais na caixinha do afilhado. Eu! E eu nunca desconfiava de nada ao ver, ao lado das moedas, vagalumes mortos.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Paixão e porrada.

Nada a ver com torcida de futebol. O título é mais prosaico: meus acontecimentos de hoje, no meu interior. Uma traulitada da porta do carro na unha do fura-bolo direito. O dedo do trabalho. A dor lancinante até o ombro, sangue, gelo, bilôra. Na hora do jantar com a familia Paixão, a minha outra familia, em Nilo. Plinio e Eurídice e os filhos: Sóstenes, Overlaque, Dádiva Irlanda, Antenógenes, Eratóstenes, Rita de Cássia, a quem minha mãe deu o nome (devota, deu o mesmo nome a cerca de 40 dos mais de 200 afilhados que teve) e a caçula que, dada a batismo à minha irmã Mena, escapou de ser Cleópatra, recebendo o nome de Tereza Cristina por sugestão da futura madrinha. Fácil imaginar que todos tem apelidos: Sossó, Vevé, Dáda, Noge, Toy, Caté e Teca, sendo que esta nem precisava. Fomos criados juntos. Hoje Tereza é minha amiga mais próxima. Sossó me ensinou a fumar, e Dáda, a dançar. Noge é um puta músico, todos cantam divinamente. Plínio morreu, Eurídice tá firme(+/-). É o pessoal mais bem humorado que conheço, alto astral o tempo todo, todos loucos- uns pelos outros! Não há lugar melhor para estar. Não houve lugar melhor pra eu correr com a minha dor. A propósito, o bobó de camarão estava ótimo.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Charlie


O primeiro cão a gente nunca esquece. Hoje tem Zulu aqui em casa mas não era ele antes: havia Charlie Brown, um boxer nascido em Minas e trazido por Itinho. Veio pra casa já adulto. Casa de interior sem cachorro não combina, fica uma coisa sem arte. No dia em que ele chegou, pensei em devolver no outro, pelo comportamento de furacão, até entender que era uma manifestação de alegria, de aceitação da nova condição; afinal, ele havia estado isolado por mais de um ano, só recebendo a visita de uma mulher que lhe jogava a ração de longe. Eu não estava acostumado com a linguagem dos cães. Dois dias depois já estávamos amigos. E assim permanecemos até o ano passado. Como os cães envelhecem rápido...Num estante Charlie ficou velhinho e começaram os problemas. Um dia encontrei-o na varanda e sequer se levantou para morder minha alpercata. Gelei. Fiz a foto acima e fui pra Bahia, deixando as ordens com Zé. Dois dias depois, sem dar um telefonema, voltei e encontrei Charlie já no jardim do meu quarto onde está para sempre. Sou assim: fujo léguas, nem toco no assunto quando farejo a morte. Finjo que não a conheço. Não quero vê-la passar perto dos meus. Não a reconheço como amiga. Nem percebi que meu amigo Charlie Brown morreu.

terça-feira, 22 de julho de 2008

A volta da que nunca foi




Ontem filei o blog. Foi sem querer. Tambem, era segunda-feira, dia que , aliás, devia se chamar nada-feira, nenhuma-feira, zero-feira, sem-feira. Diazinho chinfrim. Folga no trabalho, fui convidado a viajar pelo interior do município com o amigo candidato a Prefeito, num povoado em que eu lhe posso transferir muitos votos, dos tempos em que era eu o pré-candidato. Bom pedir voto pro outros, bom estar distante da função, mas vou ajudar quanto puder. Como da outra vez, estrada ruim, pior que a outra, lama, chuva, atoleiro, ponte-que-caiu, puta-que-pariu, que lugar esquecido. Um cafezinho aqui, uma asinha de galinha acolá, um conhaque Dreher, que ninguem é de ferro. Este entra em homenagem a meu pai que sentia o sabor da uva nesta bebida! Grande figura, o meu pai. Também ele foi Prefeito e não gostou. Me disse que, se dependesse dele, filho nenhum andaria de moto ou se meteria em política. Fiz as duas coisas. Benção, pai. Voltamos muito tarde, mais de meia-noite, perdi a data pro blog diário. Foi assim que faltei. Voltei com sono, madrugada e, desta vez, não pude ver as Alitrinas. Hoje outro amigo me soprou que aquela árvore que tanto gosto se chama, na verdade, Eritrina ou Mulungu ( Eritrina falcata)! Fiquei arrasado, já estava intimo do outro nome; foi como se tivesse descoberto que me chamo Agamenon. Apesar do nome, aquela árvore será a mesma pra mim. Ela nunca foi Alitrina mas vou continuar a chamar assim, minha Alitrina não pode ser chamada de Mulungu. Mas o que importa mesmo é que não tive o encontro com elas naquela noite...

domingo, 20 de julho de 2008

Sayonara, Macafóbico

Foto: Nana
Lá se vão nossos amigos-vizinhos nipobrasileiros pra Paraiba, João Pessoa. Dessas amizades que fazemos e queremos manter. Koje, Liane, Igor, João e Takashi, nomes japoneses, brasileiro, russo, tudo gente boa, amigos queridos, quase parentes. Igor, namorado de Nana, já meio-filho nosso, de casa, agora tão longe. Ele e Nana vão ter de administrar este troço de namorar à distancia. Assumimos o custo do telefone, da tristeza da filhota, da saudade nossa do japinha. De repente, motivo para um passeio pra João Pessoa, cidade linda, que vale a pena sempre ir visitar. Certa vez eu e Maria Sampaio inventamos de ir lá assistir uma peça de teatro, onde Nanan ia se apresentar. Saímos na Belina da prima, viajamos com paradas apenas para abastecer. Chegamos à noite, mortos de cansados mas excitados, direto ao Teatro. Nanan entra no palco tocando uma aporrinhola, toma uma bofetada e sai de cena. Para sempre. Depois do espetáculo, um intrevero com o Macafóbico, pegamos estrada de volta. No mesmo pique. Aporrinhados mas cheios de gás. Éramos tão jovens e tão mais intolerantes! Agora, Igor, vou de avião ver vocês. E ficar umas horinhas mais...

sábado, 19 de julho de 2008

A Bahia, O Bahia

Foto: E.C.B.


Findou-se o calundu. Sábado já dá pra se andar nesta cidade. Metade do povo já foi pra Ilha, a outra metade pra Guarajuba, podemos andar na faixa exclusiva para ônibus, os iguatemis estão lotados, as praias idem apesar do tempo; um passeio e a paixão pela cidade supera a raiva de ontem. No final entrego a razão de tanta felicidade: Bahia 1 x 0 Corinthians.


BORA BAÊÊÊÊA, MINHA PORRA!!!!!!!

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Oropa, França e Bahia

foto da web -sem crédito

Vou pra Bahia vou ver vapor correr no mar...Já foi o tempo em que me dava alegria vir pra Bahia. Não fosse por Vera e Nana, não botava mais meus pés por aqui. Não! acho linda a cidade da Bahia! Faz trio com o Rio de Janeiro e Sorrento, mas o povinho que lá anda morando...comecei me aporrinhando com a estrada Nazaré-Ferry, que está se desmanchando pela trecentésima vez. Me resfolego pra chegar meia hora antes do embarque e já não tem mais vaga no Ferry; o próximo só depois de DUAS HORAS! Tente ficar com o juízo inteiro depois de duas horas enfiando peido em cordão naquela fila, só respondendo não, obrigado, a todos os vendedores de coisas-que-dão-sede. Lá vem o pagodinho do pessoal que "vai pra Ilha". Quem foge dos motoboys de Sampa, se depara aqui com os pedestres-quebra-retrovisor. Hoje um imbecil jogou uma lata de Coca no mar. Bradei. Quase rola uma briga. Por mim, rola. E depois vem o pior: o transito! Tá rebocado se estou mentindo: gastei mais tempo de São Joaquim pra Piatã do que de Valença a Bom Despacho!!! Minha paciência budista está quase se esgotando. Budha que pariu!.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Chame-Chame

Nasci deficiente visual. Até hoje só enxergo por um olho. Ainda por cima, era vesgo. Pense! Consultas e mais consultas com Dr. Papaleo, levado por tia Norma. Nada. Depois ela me levou pra Evandro Castro Lima, recem formado, chegado da Espanha, uma sumidade. Estrabismo consertado, cegueira não. Defeito de fábrica...Desenvolvi os outros sentidos, por isso sempre me refiro às minhas memórias olfativas, auditivas e gustativas. Tudo me veio hoje por conta da casa de tia Norma no Chame-chame. Fui ler Maria e me veio tudo: ainda guardo o cheiro que vinha do jardim da frente do estúdio de tio Mirabeau; lembro do eco que fazia descer correndo a escada de pedra lateral à casa! E o sabor de comer carne de paca assada que minha madrinha Norma fazia pra mim? Fim de semana, ligava: "Becô, vem comer uma paquinha hoje!". Edgar me buscava em casa, no Caquende. Ah, me cartava com todo mundo, não era fácil encontrar essa iguaria na capital! ela me dizia que comprava na feira, tinha um freguês certo. Só depois da sua morte fiquei sabendo que ela me fazia feliz pacas, com carne de porco. Grande tia Norminha. Um dia conto dos vaga-lumes.

Iara & Edu



Minha família crescendo. Estes, os mais novos.

Iara, minha netafilha, Maira nos deu.

Eduardo, os ventos do sul nos trouxeram, pelas mãos de Luana.

Que fiquem.



Foto: Luana

terça-feira, 15 de julho de 2008

Mutumpiranga

Foto:PDDU - Nilo
Tomei coragem e fui visitar o casarão em que me criei. Minha referencia memorial é esta casa na Fazenda Mutumpiranga, em Nilo Peçanha. Ali chegamos em 1957. De barco, com toda a mudança dentro ( inclusive a caminhonete). No meio do caminho uma calmaria nos deixou à deriva por horas; marinheiros contando estórias de peixe grande; meu pai com febre; dormi na cabine da caminhonete; desembarque perigoso sobre duas pranchas. O casarão. Morcegos. Tudo escuro. Era quase noite? não sei, minhas lembranças de infancia são todas assim, escuras; não é possível que fosse sempre noite...Imagine o tamanho do sobrado para uma criança de quatro anos. A casa do Caquende 235 já era enorme...Pense num paraiso para criança crescer: sem água, sem luz, candeeiro, castiçal, água de moringa, penico, andar descalço, lua no céu ( era toda noite? ), grama pra rolar, árvore pra subir, rio pra tomar banho. Jangada de bananeira, cavalo pra montar; chovia sempre, rolava umas enchentes; a gente cantava" tomara que chova três dias sem parar" aí não tinha escola. Fazenda vendida em 1985. Meu pai moreu, minha mãe morreu, o casarão está desabando. Em ruínas. Minha infancia indo junto...

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Bernardo Roseiral



Me chamo Bernardo Roseiral Pitangueiras e com meus irmãos Danilo e Leonardo,- foto ao lado* - somos chamados de "os paulistas", pelo ramo baiano da família Roseiral. Não costumo usar o nome "quatrocentão" do meio. Nascemos e moramos em São Paulo, para onde nosso pai Fortunato veio se especializar em cardiologia, casou com Dulce Helena, e por aqui ficou. Assistindo ao programa Sem Censura de Leda Nagle, tomei conhecimento do livro que a escritora Maria Guimarães Sampaio havia escrito sobre nossa tia-avó Rosália Roseiral. Programei e fui, com muito sacrifício dos afazeres de médico que tambem sou, ao lançamento na Bahia. Do Aeroporto 2 de julho, direto à Saraiva. Fila pra comprar dois exemplares, fila de autógrafos. Muita conversa depois, pude conhecer algumas pessoas citadas no livro( saberia adiante; Dr Luciano Freitas, por exemplo, quase não reconheci de tão velhinho que está). De longe observava Maria, a quem não conhecia, e me pareceu uma senhora muito distinta e formal. Uma lady, com seus óculos muito originais. A pose só se desfez repentinamente, com um grito, ao reconhecer na fila um senhor, uns dez lugares à minha frente, que fiquei sabendo se tratar do meu xará, Bernardo Guimarães, primo da escritora. Na minha vez, ao ler meu nome no papel que se coloca ao autor, Maria Sampaio teve a atitude simpática de levantar-se, me oferecer um abraço e muito agradecer pala presença de um representante da família da personagem de seu livro. A curiosidade me levou direto à leitura. Escrevo agora, no exato momento em que a termino. Pensei se tratar da biografia de minha tia. Tive a grata surpresa de encontrar mais que isso. Trata-se de um belíssimo livro sobre a história da Bahia, dando-nos de lambuja como aqui se diz, a história da MPB! Com uma linguagem simples, direta, curta, coloquial, fiel até às expressões tão próprias de Rosália Roseiral, em alguns momentos tive a sensação de ser uma auto-biografia, não fosse a escritora uma péssima cantora confessa! Maria nos oferece o que de melhor há em um romance: amor, mistério ( só assim fiquei sabendo como nosso bisavô morreu), traições, humor e para nós, a lembrança de pessoas tão queridas: o leal e competente Edgar, Dra. Tereza Libório ( ainda vive?), tia Nanan, Juliana e até Liu e Carmilton do Morro de São Paulo. A Maria Sampaio, nada escapa. Nem mesmo a lembrança de que, mesmo criança, e por forte influência de minha avó Mucinha, sempre detestei o apelido ridículo: Beca é a puta que pariu! Como diria Maria Guimarães Sampaio. Recomendo.
* Foto dos irmãos feita por Dr. Mirabeau, na Avenida Stella.

domingo, 13 de julho de 2008

Tiro pra cima e tapa em rapariga

Foto de Bernardo, Aruba 2007


Dia mais feliz! Acordo tarde - coisa rara, abro a janela e o sol me dá uma porrada nos peitos. Céu sem uma nuvem e um frio de doer o pâncreas. Recebo logo cedinho três ligações de Vera. Pra quem não sabe, moramos em casas separadas, cidades separadas. E somos casadíssimos! Ela me sopra:"-abra seu blog!". Quiuspariu!...me deparo com uma declaração de amor. Bom a gente receber uma declaração de amor de quem a gente ama também. Faz um comentário muito lindo que devia estar no blog de Maria, sobre cães. Ela é assim, surpreendente; pena que tenha preguiça de escrever...inda bem não tem preguiça de telefonar. Peraí, viu neguinha? fim de semana vem aí. Te pego de jeito.

as alitrinas

Hoje fiz uma viagem pelo interior do interior. Cu de Judas. Pelo caminho, alitrinas estavam esbanjando flores. Como sofro de idiotia cromática, não saberia definir a cor. Só sei as primárias: azul, amarelo, vermelho. Brique, rosa, pra mim é tudo igual. A outra idiotia foi não levar uma máquina. Sou a unica pessoa no mundo que não tem máquina fotográfica. Nem um celular que faz fotos eu tenho. Por isso fico perdendo a oportunidade de mostrar o que vi de bonito. Tinha uma sucupira no meio. Azul? roxo? Ao menos sei que em volta de todas elas, toda a escala de verde. E foi um dia cansativo, viagem das piores. Estrada péssima, buracos, chuva, lama, reuniões, encontros, visitas, lama, buracos. Morto! Quando isso me ocorre, à noite tenho dificuldade de dormir. Tenho de descansar primeiro. Deito e fecho os olhos. Por sorte, só consigo ver as alitrinas.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Saici, 158 - Ituberá


Morar no interior tem seus encantos. Cada vez que tenho de ir a Bahia me convenço mais disso. Cada 15 dias vou ver meu povo de lá. Desembarcando do ferry já bate a vontade de voltar. Creiam: de S. Joaquim à Piatã, onde moro, levo mais tempo que de Nazaré a Bom Despacho. E são 22 km contra 40! No dia do lançamento de Rosália Roseiral, fiz 1 km em uma hora e quinze no trecho Rodoviária - Detran!!! Não consigo mais viver nessa cidade sem ficar contrariado!. Aqui onde moro, meu trabalho fica a 200 metros de minha casa. Neste momento, são 23:35 h, e só ouço um grilo lá fora. Compro camarão na rua, o vendedor me entrega em casa e passa na sexta-feira pra pegar o dinheiro. Se alguem chegar na cidade e quiser saber onde moro, pergunta no Posto de gasolina. Tem um sabiá no quintal que já chega a dois metros de mim. O outro, o gato comeu. O gato é Buda. O cão é Zulu. Otávio e Solange, um belo galo e sua companheira, morreram de velhice: ele de infarto, ela de Alzheimer. Tinha ainda Giba, uma jibóia de 2 m que morava no forro pra dar fim aos tropéus noturnos dos ratos. Fazer o que na Bahia? Torcer pra Vera vir morar aqui e eu só precisar voltar por lá, no proximo lançamento de Maria Sampaio.


quinta-feira, 10 de julho de 2008

Saudade



Hoje de manhãzinha mexendo em meus guardados, encontrei esta fotografia. Normalmente não mexo muito no passado mas não foi à toa que esta foto tenha ecapulido do album e caído em minha frente. Logo hoje que estou lendo um livro ambientado ( o trecho em que estou) nos anos 50. Foi feita no cabula, na casa de meu padrinho Numa Pompílio, em 1953. Nela estão: sentada no Dodge, minha mãe, tão bonita quanto posso me lembrar; tem um sorriso contido, como foi sua vida. Linda e contida. À sua direita, minha irmã Ana Maria olha, melhor, enfrenta o fotógrafo. Já dá pista de quem seria. No colo, com roupinha e sapatinho suspeitos, eu. Sem comentários. E em pé, meu irmão Eduardo. Será que, se tivesse visto esta foto alguem ainda teria tido a covardia de matá-lo? Dor infinita, saudade ainda maior de minha mãe e meu irmão.

Lampião

De pau pra cacete: antes de me atracar com Rosália, findei de ler CANGACEIROS de Élise Jasmin, Editora Terceiro Nome. Mandei buscar e só larguei no bagaço. Sou assim com livros e pinturas ( quando me aventuro, atravesso a madrugada- um monólogo?). Virgulino Lampião é meu herói de infancia. O livro tem quase uma centena de fotos, principalmente as de Benjamin Abrahão, o fótógrafo "oficial" do Capitão, na mais completa cobertura do bando e sub-bandos reunida em uma publicação. Me amarro nos nomes dos cabras, mais parece uma seleção de futebol: Amoroso, Cacheado, Vila Nova, Juriti e Quinta-feira, Sabonete, Cravo Roxo e Canário, Atividade, Pancada, Velocidade, Zé Sereno e Corisco e as mulé: Inhacinha, Dadá, Adília e Maria Bonita, sempre com seus dois cães Ligeiro e Guarani. As fotos são comentadas e a qualidade é perfeita. Estão dispostas em ordem cronológica e passam como um filme. Me levaram, como um tapa, pro Brasil que não podemos esquecer e mesmo já passados 70 anos de sua morte em 28 de julho, suas cabeças cortadas ainda me causaram náusea...

terça-feira, 8 de julho de 2008

Rosália 1.

Então eu fui. Maria nem sonhava.. Passei os ultimos tempos afirmando minha impossibiliade de comparecer ao lançamento de Rosália Roseiral, romance de minha prima Maria Sampaio. Desde Estrela de Ana Brasila que estava lhe devendo. Com data marcada pra meio da semana, tornara-se tarefa quase impossível largar consultório, pacientes pra vir à Bahia. Estava mais que decidido, estava conformado. Depois pensei, o que poderia ser mais importante, melhor, o que poderia ME dar mais prazer? Então passou apenas a ser uma questão de levantar a bunda da cadeira e ir. Foi quando li o que Miro escreeu. Ele, que está em Berlim, disse que fretaria avião, se pudesse, vinha a nado, de bicicleta ou na paleta. E eu aqui, a míseros 150 km. Então eu fui. Sem Maria saber. Fila enorme, graçasadeus, e fui andando, escondido. Foi aí que valeu a pena. O grito, o abraço. A dedicatória quase impossível, demorada de ser escrita. Depois eu falo do romance. Agora só me resta o choro emocionado.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

...e agora?


Acordo mastigando uma idéia amarga: tenho um blog pra cuidar. Que doideira...penso exatamente que jamais faço nada, NADA, por obrigação. Chego a sentir uma pontinha de arrependimento de ter entrado numa que parece fria! Quer saber? nem vou pensar nisso. Como sempre faço ao chegar ao consultório, abro o blog de Maria mas hoje resolvi abrir primeiro o de Miro ( quem mandou dizer que gostou do meu?). Advinhem?...encontro Miro com o mesmo dilema: escrever por escrever? Ele ao menos teve a coragem de pular o domingo e, como se nunca tivesse tido qualquer engasgo literário, solta o verbo, lindo, como sempre. Quanto a mim, o Inverno me salvou... No de Maria, nem tchum! ela escreve sem o menor esforço. Se não fosse o amor incondicional que por ela sinto, sentiria é inveja! A sua bênção, prima!

domingo, 6 de julho de 2008

Inverno



Tem uma nuvem estacionada aqui em cima de Ituberá. Chove pacas. A cruviana não me alcança no cantinho do computador. Da cozinha vem um delicioso cheiro de chá de canela - tem um pé aqui na porta. Zulu, meu cachorro, sequer sai da sua casinha. Que nem eu. Cama quentinha. Afinal, não é pra isso que serve o inve
Foto: Bernardo

sábado, 5 de julho de 2008

Juninas

Hoje é São Pedro por aqui. Hoje, 5 de julho. As juninas viraram julianas. São Pedro mais fora de hora... Soube que trocaram a data para não coincidir com a Convenção do PQP. Pobre São Pedro...Cadê que trocam a data de Santo Antonio ou São João? Ninguém é besta! Agora fico eu aqui com cara de carnaval em março...
_" O que seria de mim, meu Deus, sem a fé em Antônio?"

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Esperando Iara


As grandes esperas da vida da gente: nascer pentelhos e cabelo no sovaco; fazer 18 anos pra entrar em cinema ( coisas de antigamente); o resultado do vestibular; o dia da formatura e do casamento; o nascimento dos filhos, sobrinhos e netos. Assim estou aqui hoje: de babador a postos esperando Iara em sua primeira visita à casa do avô. Vem do Morro, onde mora, pra me encher de felicidade. Coisa mais impressionante esta de ser avô. Sempre me falavam ( meu pai dizia que neto é filho com açucar) e eu não conseguia imaginar amar alguem tanto quanto aos filhos. É mais do que possível, é fato! Pensei em encher a casa de bolas mas ela é tão pequenininha, mal dá para pegar uma com as mãos. Depois corro o risco de me achar idiota...Pensei naquelas plaquinhas " Na casa do vovô pode tudo". Porque pode. Pensei, pensei e de tanto pensar, me esqueci do tempo. Quando percebi, ela já estava no portão. Meu coração pulou! Com licença...vou receber minha neta. Benvinda, Iara, à casa do seu avô. Se é de paz, pode entrar.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Desisti!

Aos 43 minutos do segundo tempo, joguei a bola na trave! Chute certinho, calculado. Podem crer: acertar na trave é mais difícil que fazer o gol. Para vocês entenderem, DESISTI de ser candidato a Prefeito em Nilo Peçanha. Este negócio de política é o diabo: gruda na gente feito uma tatuagem. Meti um laser e apaguei. Duas pessoas influenciaram minha decisão: Eduardo, meu irmão, me disse que se tivesse de me pedir algo na vida, seria pra largar esta vida, a política. Depois de minha campanha de 2004, jurou jamais botar os pés em Nilo outra vez e cumpriu direitinho sua promessa. A outra foi Maria Sampaio. Toda vez que se falava nesse assunto perto dela, fazia aquele bico, que conheço tão bem. Como gosta muito de mim e sabe que sou meio aporrinhado que nem ela, não dizia nada! Mas aquele bico torto, aquele ar de quem tá de gêge...Por via das dúvidas, larguei. A familia, me retribuiu o carinho, com a máxima que sempre dispensei a todos: estariam a meu lado qualquer que fosse minha decisão ( desde que fosse a de cair fora!). No fim, tudo deu certo: estou dormindo feito louco, comendo bem, guardando dinheiro, plantando seringueiras na minha fazendinha (me aporrinho agora com as filasdasputas das capivaras). Agora, só jogo para a platéia. Ainda ouço o grito da galera: "OOOOOHHHHH!!".

xeudizer:

anotações livres, leves, soltas