sábado, 30 de agosto de 2008

Música, música...


Não gosto de música. Costumo não dizer isto com frequencia e para qualquer pessoa, pela avalanche de xingamentos que recebo em troca. Parece que falo uma heresia, cometo uma falta grave, um pecado no mínimo venial ou assino um atestado de minha própria insanidade. Não tenho qualquer aparelho reprodutar de som; meu ipod serve para textos e fotos. Minha casa não tem toca-alguma-coisa; o rádio do meu carro só enfeita o painel. São aquelas coisas que se sente e se tem receio de externar: o gosto pelo incomum ou a aversão pelo comum. -"Ele é doido ou faz gênero?". Só sei que não sou radical. Até gosto de ouvir alguma música, aí ouço só aquela, até enjoar. Tenho meus cantores favoritos (serei mais maluco ainda?): Djavan, Melodia, Elza Soares, Bethânia, Caetano, Marisa Monte, Piaf, Elizete Cardoso, Rosália Roseiral e a maior de todos, Dalva de Oliveira. Quase nunca os ouço. Gosto da voz, mas não de música. Só de vez em quando e uma unica vez, nada mais. Música me irrita, definitivamente. Coisa de maluco. Estou me preparando para os impropérios que virão. Pensando bem, eu os mereço.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Saici, 158




Hoje resolvi abrir a casa e convidar vcs para um café feito com folhas de canela na água.

Depois rola um charuto na varanda.

A planta no portão da garagem é uma Congéia, que me foi apresentada por Ana Maria, minha irmã.

A árvore grande ao lado da casa, a canela.

A numeração veio de Sorrento.
O sino foi presente de meu compadre Raul.

Tem um Santo Antonio na varanda, de Lisboa, presente de Naju,

um exu no jardim

e Buda na sala.

Pode entrar.
fotos:bg, saici, 158, ituberá.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

20 de agosto

Me dei conta que dia 20 deste mês, completei 8 anos sem fumar. Depois de 34 anos, dos 13 aos 47, fumei. Quase sempre, o careta. Hollywood, Carlton e Plaza. Confesso que parei por cagaço, paúra; minha família toda tem câncer, e ele está me cercando. Quero dar um a zero nele. A data não escolhi, apesar de já tê-la com muito carinho: dia de S. Bernardo, padroeiro de Alcobaça, terra de meu avô materno, de onde tiraram meu nome. Foi o dia em que me batizaram tia Norma Guimarães Sampaio e Numa Pompílio Bittencourt. Ambos já nomes de ruas. Desta festa de batizado, guardei até há pouco tempo o conjunto de prato, garfo, faca, copo e porta-guardanapo de metal, com a incrição "13/03/53 - 20/08/53". Guardei para minha neta e se perdeu nas mudanças de vida. Data bacana esta 20 de agosto. São Bernardo. Fui conhecer Alcobaça e achei engraçado ler meu nome em toda parte: Farmácia, Hotel, Casa de Móveis, Supermercado, Bar e Restaurante, tudo S. Bernardo. Se alguém gritar alto BERNARDO no meio da rua, uns vinte lhe respondem. Me senti em casa. Bela data. A de nascimento também, perceberam? 13/03/53. E foi numa sexta feita, 13; faltou ser de agosto.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Enquanto isso...



Aqui é um povoado, mora gente; algumas pessoas nasceram e quase nunca daqui saem, a não ser para voltar logo. Encontro às vezes um conhecido na sede do município, que responde de pronto "doido pra voltar pra casa" quando pergunto como vai. As fotos foram feitas às 16 horas e alguns minutos. Não se trata de uma vila fantasma. Em cada casa há uma família, como a sua, a minha. Como médico, escuto-os com atenção. Tem uma adolescente com mamas gigantes que sonha em diminuí-las; uma mulhar insatisfeita porque mora com a sogra desde sempre e quer morar só com o marido e filhos. A dona do bar, deseja ir embora pra Valença. A professora espera mais um filho, silenciosamente. Meninos jogam bola onde não dá pra ver. Os barcos estão recolhendo, uns com, outros sem um unico peixe. A galinha é criação de alguem. Há um unico telefone público e quem passa por perto atende e berra pelo procurado. Quase todos são parentes ou compadres. As moças se casam com os rapazes do mesmo lugar. Nas festas dançam, bebem, às vezes sai uma briga. Tem Coca Cola. O cemitério é na entrada do povoado. A igreja festeja Santo Antonio. Escola, bar, ponte, banho de mar, médico, remédio na venda, tem tudo em Barroquinha. Ao menos o que eles precisam, o que as pessoas precisam. E nem parece, é tanto silêncio...
fotos:bg, barroquinha, nilo.clique na 2ª foto para ampliar e ver uma alma viva.

sábado, 23 de agosto de 2008

Como Greta Garbo



marilyn by andy warhol




Ontem depois de deixar Nana na escola, eu vi Marilyn Monroe trabalhando na avenida. Foi um pesadelo. Não sou tão velho assim mas a loira ainda foi um dos meus sonhos. Quando morreu, eu ainda garoto, a midia tratou de refazê-la, lançando e relançando seus filmes. Era inegavelmente linda. Gosto especialmente de seu ultimo filme, com Clark Gable. Depois do caso com o presidente de "lá", então, ficou mundialmente famosa. E parece que congelaram sua imagem com aquele vestido branco, esvoaçando sobre um exaustor de passeio de rua. Pois foi com aquele mesmo vestido que ela estava ontem, perto do viaduto D.Canô, segurando uma bandeira do lançamento de algum empreendimento imobiliário por ali. Não consegui ver o nome do edifício devido ao choque de vê-la. Estava um caco. O vestido, derrubadinho, tão sujo que não se levantava nem para refrescar-lhe a xota. A peruca, sim, era uma peruca, tão vagabunda que mal lhe cobria os verdadeiros cabelos negros. Coitada, suava em bicas debaixo de uma lua cheia de meio-dia baiano e tive a impressão rápida, por certo, de ver os olhos borrados. Cara de ressaca. O acompanhante, de smoking, lhe fazia par ( seria o Clark?), tão derrubado quanto ela, com o fato certamente alugado ou pertencente a outro, pois a gola lhe sobrava por demais, como a gola de um palhaço. Segurava bandeira semelhante. Triste cena. Se os contrataram para anunciar algum imóvel granfino, pelo traje que usavam, valeu aos dois receberem seu dinheirinho suado, mas honesto. Só me entristece saber que meus ídolos, Clark Gable e Marilyn Monroe, quem diria, acabaram na Paralela.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Ivete Sangalo e eu.



Perdi o Ferry das 16:15. Merda! só daqui a uma hora. De repente a voz de taquara rachada anuncia um extra. Me aproximo e vejo que vou entrar no Ivete Sangalo. Meus amigos: quem usa o sistema e ainda não conheceu a nova estrela, ele é lindo. Estranho mesmo só chamar Ivete de "ele". Estilo catamarã, mais leve que os outros, faz a travessia em meia hora. Todo novinho, limpinho, pintadinho, todo inho. Sinto pena só de imaginar que em pouco tempo os vandalianos ( vandalos baianos ) aqueles mesmos que entram nos onibus pela janela, começarão a depedrá-lo. Breve os corremãos hoje tão virginalmente brancos estarão cheios de incrições à chave com "AFS", "M&D", "B ama V" ou frases como "Ivete é uma viagem" ou "mais gostosa que a própria". Tive meu momento europeu. O banheiro: dá pra viajar lendo um jornal na latrina. Sério! tinha sabão liquido e toalha de papel! Uma hidromoça ( oceanauta? marenauta? socorro, Aeronauta, como se diz?) com lencinho no pescoço nos recebia com sorriso congelado. Lá em cima a viagem é quase ao ar livre, uma cobertura nos proteje de cocô de gaivota. Agora, tem uma tali de uma sala VIP, que se paga $12 pra entrar e se sentir rico. Hoje estavam deixando as pessoas entrarem, darem um vorteio e sairem. Ninguem ficou por lá. O povo todo no celular: clic! clic! outros os usavam para ligar para qualquer um, só pra dizer: -"estou no Ivete", já numa intimidade...Muitas fotos, muitos risos, todo mundo numa felicidade só. Chego a acreditar que ninguem mais pensa no Maria Bethania e no Gal Costa. Estão velhinhos, já deram o que tinham que dar, ouvi alguem dizer. Senti uma saudade... merecem ser recauchutados, afinal, apesar de mais velhos, eu, pessoalmente , gosto mais deles (ou delas? já não sei mais nada!). Mas, enfim, temos de nos render às modernidades. Dizem que paroano vem mais. Tomara que "Daniela Mercury" e "Claudia Leitte" venham nos deleitar. Que sejam tão gostosos quanto o Ivetão.




PS: depois ponho a foto que meu filho joão fez na viagem, com minha cara pôdi de vergonha.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Caquende 235


Quando vi a foto no blog de Maria, quase choro. De saudade, de raiva. Eu me criei naquela casa, parte de minha história ficou ali soterrada. O prefeito demoliu nossa casa pra fazer um viaduto e o que se vê no local é um edifício! A foto é de um oportunismo cruel. Meu avô e minha mãe estão na porta, sem acreditar ainda que a nossa casa vai cair. A da vizinha, Profª Candolina, já está no chão. Meu pai ainda estava lá dentro, de pijama, fumando quatro carteiras de Continental e bebendo um litro de conhaque Dreher. Saiu dalí chorando. Fomos morar no Matatu, porque de ultima hora tio Orlando Paternostro emprestou dinheiro pra meu pai comprar um lugar pra botar a familia. A casa da familia toda era aquela, a do Caquende. Todo mundo corria pra lá. Depois daquela foto, o trator passou por cima de tudo. Soube que na época o prefeito teria dito que, pra demolir casa de rico que atrapalhava o progresso, ele próprio dirigiria o trator. TÍPICO. Derrubou todas as casas de meu avô Chimbo. Todas. Quando meu avô piorou de sua pneumonia e decidiram transferi-lo do Santo Amaro para o Hospital das Clínicas, eu era estudante de lá e ficava com ele na UTI. Eu ouvi suas ultimas palavras inteligíveis: " Antonio Carlos Magalhães é um canalha!". Meu avô Chimbo era um homem de muita coragem, tanto quanto o prefeito se dizia. Infelizmente nunca se encontraram. Nem lá em cima. Estão em lugares diferentes.

Foto do Caquende 235, de tio Itamar, sequestrada sem autorização, do blog de Maria Sampaio. Se ela se retar, apelo :"-valei-me meu avô Chimbo!"

Para Maira Rocha

Minha querida afilhada:

Acabo de ler seu comentário em meu bloco diário, que me deu muita alegria. Sim, escolhi seu nome, igual ao da minha segunda filha, prontamente aceito por seus pais. Mais que isso, fiz o parto de sua mãe para você vir a este mundão de meudeus; foi numa cama, na Policlinica de Maracás, longe da sala de parto e não deu tempo pra nada! quando seu pai me trouxe, você já estava quase chegando. Lembro bem que fiquei chateado porque eu tinha tanto cuidado com minhas parturientes, fazendo os partos com o mínimo de trauma possível, colocava até musica na sala, e logo o nascimento da filha de meu amigo Lucas seria daquela forma. Cortei sua mãe sem anestesia, para lhe dar passagem. Ela gritou alto, estremeceu as paredes, e com um único empurrão te jogou em minhas mãos. Agora foi a sua vez de gritar, ela já nem sentia mais dor. Lucas do meu lado, pálido, pensei que ia desmaiar. Mas foi assim. Depois disso, convivemos tão pouco...Vinte e cinco anos depois você me escreve. Soube que também já pariu. Me mande notícias suas, de seu pai, de sua mãe, de sua Clara Vitória. Me diga que sentiu pouca dor em seu parto. Eu aqui vou ficar mais aliviado.
PS: tenho visita programada, sim, à Maracás, antes do final do ano.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Exílio, dourado em dendém.

Hoje me perguntaram se eu voltaria a morar na Bahia. Volto não. Vim morar aqui no interior aos quatro anos e por cá fiquei até voltar pra capital para fazer o ginásio. Nasci lá, na maternidade Climério de Oliveira, no fim de linha de Nazaré. Morava pertinho, na garganta do Caquende, 235, endereço tão citado por mim e Maria- aquela casa tem estórias para dois livros!- vizinho de parede com Profª Candolina. O Jardim de Nazaré era enorme, circulava sozinho aos dez, onze anos, ia a pé pra escola, pra cortar cabelo na Saúde, nadar na piscina da Fonte Nova, ia pra casa das Ramos pelos quintais, conhecia o baleiro e o verdureiro pelo nome e trocava revistas na porta do Cinema. Um dia o prefeito arrogante, tirano, autoritário, derrubou minha casa, pagou uma miséria por ela e me expulsou do bairro. Próximo destino: Matatu. Já não era a mesma coisa. Depois de formado, nova vinda para o interior, Maracás, Taperoá, Nilo, Ituberá. Agora tô quieto por aqui e vou vez em quando à Bahia -quando não é lançamento de livros, tomar um chá de "civilização"! O resto, vocês já sabem, o que era daí, agora é aqui. Ontem me trouxeram camarão na porta. E era pistola.

sábado, 16 de agosto de 2008

Caymmi

Vinha dirigindo agurinha mesmo pela estrada e de repente ouço a voz de Dorival Caymmi. Pensei em como era estranho porque as rádios não tocam Caymmi, principalmente as do interior, fazendo nossos ouvidos de penico e enchendo-os de arrochas e outras merdas menos votadas. E nem me toquei quando o locutor do Programa "Love Times" ( que nota?) anunciou a página musical do "saudoso" Dorival. Chego em casa, ligo o blog de Maria e recebo a notícia. Brigado, prima, pela forma de anunciar. De pronto me lembrei de como conheci pessoalmente o cantor. De todos os artistas que frequentavam a casa de tia Norma, era o unico que não conhecia.
A convite do primaestro Carlos Veiga, fui assistir uma inesquecível apresentação no Terreiro de Jesus, de dezenas de filarmônicas vindas de toda parte da Bahia. O número principal seria Suite do Pescadores, com solo de Caymmi. Enquanto as bandas se resfolegavam nos dobrados que tanto gosto, fiquei numa sala de Faculdade de Medicina, ao lado da Catedral, que servia de camarim, em altos papos com...Dorival Caymmi. Carlinhos me apresentou como sobrinho/afilhado de tia Norminha e lá fiquei euzinho, ouvindo Caymmi por intermináveis dez ou vinte ou cento e quarenta minutos, a falar apaixonadamente dela. Confesso que não fiquei abestado como quando conheci Maria Betânia, e me postei catatônico em sua presença e só consegui articular uns sons do tipo "gosxgtrsds..." e ela deve ter me achado um débil mental. Com Caymmi, consegui entabular uma conversa inteligível. Depois foi só ficar ali e ouvir aquele vozeirão transbordar o Terreiro, passar por cima de todos os instrumentos e encher nossos corações de alegria. São momentos como aqueles em que acreditamos que há, sim, pessoas especiais. Caymmi cantou pra subir.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Coelho empacado



A pedido da Aeronauta:

Fiz o primário em Nilo, entre 64 e 67. Num ano aí no meio, festa na cidade, desfile nas ruas, os meninos engalonados esperavam ano para participar; era época boa de se mostrar pras meninas e conseguir uma "namorada". Entre aspas porque nem nos tocávamos mas até as brigas eram intensas, por intermédios das "cocadas", os leva-e-trás. Bilhetes, olhares, presentinhos, desfile no jardim, meninos numa direção, meninas noutra pra se darem de cara. À noite, festa no salão nobre da Prefeitura. Fui escolhido para o número dos coelhinhos, eu, Tonga Netto e Eleíza. Fantasia horrível, de pelúcia, quente como o inferno, pesada pra ver o caco, umas orelhas enormes, pesadas, com armação de arame que teimavam em me cair sobre os olhos, repuxando os cabelos atrás; bolota vermelho de batom vagabundo no nariz, bigodes ridículos agarrados nas bochechas, a lápis de sobrancelhas. E a música? - "De olhos vermelhos, de pelos branquinhos...". Um horror. Na coxia, dei tilt. Não entro! Professora Dinah me deu um empurrão que já entrei dando uma cambalhota. Eleíza empacou, agarrada nas cortinas, com o nariz cheio de bolinhas de suor. Tonga Netto me seguiu de susto. No empurrão em Eleíza, quase finalizando o numero, ao som de "-...dou mil cambalhotas", demos as ditas e o fundilho da minha fantasia abriu. Na primeira fila do auditório, minha namorada. Nunca mais nos falamos. Hoje passa por mim e, mesmo sem falar, consigo ver um risinho disfaçado entre dentes. Tonga Netto foi morar em Gandu e Eleíza até hoje sua no nariz e briga quando lhe chamam de coelho empacado.

A Louca do Rio da Serra


Colega de faculdade, se fez amiga de pronto. O apelido, inevitável: Marta Batata. Parceira de tempo integral, quase dedicação exclusiva; eu que desse mole! Passou a ser agregada lá de casa. Namorou Paulinho, meu irmão, dizem as más linguas que para ficar mais perto de mim. Um grude. Adoro Batata, moramos distantes, eu em Ituberá, ela em Ilhéus mas a paixão permanece, como a dos bons amigos; formava, comigo e Raul, um trio inseparável; até ciúmes das namoradas ela apresentava como sintoma.

Férias de meio de ano, fui pra fazenda e, claro a mala foi junto. No dia seguinte, Batata acordou com as galinhas e saiu para conhecer o terreno, andando sozinha e chegou ao Rio da Serra. Pirou quando viu o rio, que é lindo, e não viu mais ninguem, nem os trabalhadores da fazenda que àquela hora se dirigiam à labuta. Batata, empolgadíssima, pegou um graveto e, com um daqueles vestidões hippies da época saiu correndo, cantando alto e agitando o pau sobre a cabeça. Um saucero! Um acode, vixe, socorro, um empregado agoniado me acordando pra avisar que tinha uma mulher louca querendo pegar os meninos no Rio da Serra. A louca nunca mais foi vista por lá. Devem ter internado.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Pé de que?


Dendezeiro (Elaeis guineensis), também conhecido como palmeira-de-óleo-africana, aavora, palma-de-guiné, palma, dendém (em Angola), palmeira-dendém, coqueiro-de-dendê. O fruto é conhecido como dendê.
Nasceu no Golfo de Guiné, sendo encontrado desde o Senegal até Angola. Veio pra Bahia e escolheu morar no Baixo Sul, que passou a ser conhecido como Costa do Dendê.
Uma das principais atividades econômicas da região. Três empresas compram toda a produção, que é extraída na mão grande. O trabalhador sobe numa peia, se segura com uma mão e com facão na outra, corta e derruba o cacho que é recolhido pelas empresas ou atravessadores que, como sempre, pagam miséria e ganham milhões. A vida produtiva dos trabalhadores desta atividade, é curta e sofrida. Homens de trinta com fisionomia de sessenta. Vez em quando um cai de lá de cima e se estropia; corte na mão, dedo amputado. Fim de vida. Encostado. O filho, vai no mesmo caminho. Cortador de dendê, de dendém. Ninguém se importa.
"...- bote uma colherinha de dendê pra dar o sabor".
foto: bg, nilo peçanha

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Morro III, o lado escuro




Quase desisti de escrever sobre "o outro" Morro, mas acabei achando que é mais que um desabafo. Não pode ser bom o que começa com o ruim, e tudo começou com o assassinato de um veranista por outro; nem quero entrar no mérito das razões (?) e motivos. O fato. A morte. A casa do morto, vira Pousada; outro imita, e outros seguem. Se alastra feito peste e bota pra correr os nativos pescadores. Alguns dinheiros oferecidos e quase todos perderam suas casas, onde surgiram mais e mais pousadas. Construiram sobre o rio, nas encostas, sobre as pedras; ligaram a Ilha da Saudade ao continente, agora é um apêndice da Segunda Praia. Até a Casa Rôla virou Pousada Palmeira. A ponte de madeira se endureceu de concreto, quente como o inferno. Não se pode mais andar descalço, queima o pé. Encheram o riacho de bosta, a Fonte Grande é um penicão. Um nativo enlouqueceu, cata pauzinhos pelo chão. Atrás de cada coqueiro um nariz grande denuncia a presença de um hermano. Agora há luz, mas falta água limpa. Me cobraram $ 6,00 para sair da ilha! Não há mais badejo. O peixe, congelado, vem de fora pois se nem pescadores há mais...Hoje são centenas de pousadas, não consegui saber o numero certo, ninguem sabe. Quem é dono, mora em suas casas e os trabalhadores importados? Para eles surgiu o sugestivo Buraco do Cachorro, um bairro (?) enorme, amontoado, nas encostas, nos fundos da Fonte Grande, sem saneamento nem urbanização possíveis. O que conta é a grana que os hotéis ganham. O Morro? virou um time: Morro Que Se Foda Futebol Clube. E ainda vi cartazes de propaganda do atual e ex-prefeito e mais um que também quer ser, espalhados pelos cartões postais. O Morro continua lindo; visto de longe.

fotos: bg 1. Fonte Grande 2. Poema/denúncia postado na parede de um beco da Biquinha.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Morro II




Hoje há dois Morros de S. Paulo: o mais belo dos belos de todos lugares que conheço; primo-irmão de Positano, como se o tivessem arrancado da Costiera Amalfitana e jogado alí na porta da Baía de Todos os Santos. Lindo, de tirar o fôlego ( ah, as ladeiras tiram mesmo!). A chegada pelo Portaló, o Forte, o Farol, a (ex)Ilha da Saudade. A Prainha da Casa Rôla e da Casa da Sogra; o Campo da Mangaba, a Fonte Grande. Contam na família que o nosso tataravô, vindo de Guimarães com destino ao Rio de Janeiro, naufragou no Morro; não podia ter naufragado com mais estilo. Ficou em Valença, onde nasceu nosso bisavô Wenceslau Guimarães. Dalí, passou a veranear no Morro, onde construiu a casa que leva o apelido de sua senhora: Casa Rôla. Dele para vô Chimbo e para meu pai que a reconstruiu e manteve o nome, reinaugurada em 1967. Desde então vivemos por lá. Sem energia, água encanada, tranca nas portas. Banho de mar, cachaça, pôquer, festa de radiola, moqueca, badejo, água de côco, pés descalços, areia no fundo do calção, sol na cara, Hipoglós na cara, pegar jacaré, bronzeador de coca cola/dendê/óleo singer. De dezembro a março. Banho de chuva e a Brisa Biônica. A pé até a Gamboa. Morro de saudade. Este é o Morro que guardo na lembrança. Do outro, falo amanhã.

fotos: bg - 1.vista da janela do "meu" quarto na casa de Lua/Edu; 2. portaló

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Morro I


Chegado do Morro, descansado e saudoso. Cuidar da vida, qué melhor. Trouxe na mochila notícias d0 interior de lá. Tá tudo quase muito bom, e trarei notícias em outras postagens. Nesta, apenas minha estadia.

Apure as vistas para localizar no círculo branco, a casa de Lua e Edu que fica encrustada no morro entre a Gamboa e o de São Paulo, um pouco acima e à esquerda do centro da foto. A praia embaixo era até desnecessária mas está lá, fazer o que?

Fiz o que pude, no meu propósito: nada!

Quando Miro aparecer por aqui, levo ele lá, tadinho, deve estar muito do precisado. A prima Maria, esta não aguenta chegar nem na metade; alugo um jegue pra carregar mas quero que ela vá também; ela e a doidia. A gente peida, prima, e ninguem ouve, muito menos reclama, é merveilleuse! E o melhor é a paparicação.

A partir de amanhã posto as demais fotos. Quero matar vocês aos poucos.

Adeus.
Meninha deu a dica: clique na foto e veja-a ampliada.

foto: bg

domingo, 10 de agosto de 2008

Meu pai

Meu pai era do Cabula, filho de Chimbo e Carmena; defenestrado pelo avô tirano Wenceslau Guimarães que não suportava choro de criança, foi criado como filho pelos avós italianos Paternostro; a estes, chamava "papai e mamãe"; àqueles, de "meu pai e minha mãe". Teve dois pais, duas mães. Agrônomo -a pedido, jamais exerceu a profissão, foi piloto porque gostava mesmo era de voar. E voou, sempre. Calado, ouvia mais do que falava e ganhava muito com isso. Chamava a todos de "parente" e os considerava assim. Partiu em 87, quarta-feira de Cinzas, dez minutos depois do aniversário do filho Paulo. Mais de vinte anos depois e ainda ouço sua respiração, sinto seu cheiro, ouço sua voz, lembro o riso tímido. Teve muita sorte: foi antes do filho. Este, hoje, deixa mais tristes seus quatro filhos que ficam como eu, sem pai neste Dia.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Costa do Dendê

De amanhã até domingo, ninguém vai ter pista minha! Vou sumir! Aliás, resolvi dar a pista para que algumas pessoas não se preocupem. Estou muito cansado, "aquela" gripe ainda não me abandonou, roubaram meu penico oficial, estou diariamente participando da campanha política de um amigo para Prefeito de Nilo, meu charuto acabou, meu saco se encheu, chove/faz sol, botei gasolina "batizada" no carro, e como dizia Raul, estou achando tudo isso um saco! Vou pro Morro de S. Paulo. Que chato, Miro? quem não tem Boipeba, se contenta com o Morro. Isto posto porque não quis ir para lá ou para a baía de Camamu. Tá chovendo pra dedéu por lá. Minha filha Luana me convidou para passar dois dias com ela; de lambuja, vejo Maira e Iara. Primeiro Dia dos Pais com neta e genro novos. Vou ficar hospedado com Lua e Edu; eles moram numa linda casa na encosta entre o Morro e a Gamboa. Vou levar meu novo brinquedinho e prometo fazer umas fotos do lugar, para que vocês, na segunda feira, possam ver o quanto me recuperei. Tenham pena de mim.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

O relógio e o anel

Quase vi meu pai chorar quando passei no vestibular de medicina e ele não pôde me dar o carro que sempre prometera. A crise financeira chegou ao máximo no início dos setenta; a piaçava, matéria prima das vassouras, era a principal fonte de renda da fazenda, e fora substituída pela fibra sintética, que logo as madames abandonaram, mas não em tempo de quase falir a família. Naquele dia, sem poder me dar o presente, me entregou o unico bem de valor que tinha, imaginem: o relógio de pulso! Um Seiko marrom, vidro arranhado com um "V" e a pulseira cortada de tesoura para caber no braço. Enquanto não pudesse me dar o carro, disse, eu ficaria com o relógio, como uma espécie de garantia. Carregava aquele relógio como se fosse um carro. Não tirava pra nada, nem no carnaval que, naquela época, permitia se ir de relógio pra rua. Dois anos depois, ainda sem carro, domingo, Relógio de S. Pedro, peguei Os Apaches pela frente. Empurra-empurra, atravessei a rua sem por os pés no chão e na calçada senti o vazio no braço: perdi meu relógio! Não roubaram, caiu na muvuca. Arrasado o resto do carnaval. Em fevereiro comecei a namorar uma colega de plantão do Posto em Periperi, que morava na Ladeira do Paiva, Estrada da Rainha, lugar onde jamais havia estado, nem nos tempos de cachaça nas periferias. Março, meu aniversário, a namorada pesquisa um presente; vê a marca branca e, dengosa, sugere o presente. Tive que lhe explicar a recusa e contei o caso do relógio perdido. Não poderia usar outro. Ela tomou um susto, pediu que fizesse a melhor descrição possível do relógio ( era inconfundível ) silenciou, pediu licença, volto logo. Entrou em casa, voltou e me deu o mesmo relógio que meu pai havia me dado e perdi no carnaval. Seu irmão o achou, no dia, hora e local descritos por mim. Dois anos depois, o relógio Seiko foi finalmente trocado por um Chevette amarelo-gema-de-ovo. E se alguem ousar não acreditar, conto o caso do anel de tio Mirabeau. Era uma vez, a vaca Vitória; quem não gostou, conte outra história.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Anjos baldios


Grata surpresa. Este negócio de blog é impressionante; quando a gente menos espera aparece alguém lendo o que escrevemos. Hoje tive a visita do "anjobaldio". Surpreso, corri para o perfil e vi se tratar de Nelson Magalhães Filho. É um grande artista plástico, pintor excepcional, de quem tenho dois quadros em minha casa. Conheci sua obra em Cruz das Almas, onde mora, numa exposição no Centro de Cultura e fomos apresentados por Raul, nosso amigo comum. Fiquei embasbacado com o que vi. Uma tela em especial me chamou a atenção e fiquei muito tempo em frente a ela, admirando suas cores vibrantes, seus personagens instigantes, quase fantasmagóricos, ao mesmo tempo ternos. Nelsinho me observava de longe. Quando me despedi e me dirigia ao carro, ele me chamou com aquele quadro na mão, o que mais tinha gostado, e me deu. Fiquei sem saber o que fazer, afinal se trata de uma obra de arte de um artista premiado e era a primeira vez que me ocorria uma situação daquela. Não sabia se aceitava ( e ficava feliz com o presente) ou se recusava ( triste , mas fazendo a coisa certa?); se perguntasse quanto custava o teria ofendido? Preferi calar talvez até passando a idéia de quem não estava muito animado com o presente. Agora rezo para o Anjo Baldio me visitar novamente para saber que, de público, digo com todas as letras: ADORO A OBRA DE NELSON MAGALHÃES FILHO. Por sorte depois ganhei de Raul mais uma tela de Nelsinho.

PS: fico devendo a foto da tela porque ainda não sei usar direito esta josta.

Sorcoro!

Eostu pdreddio! As tcleas do ntoe book etsão em lgaur defirnete do pc que uasva! Até me asocmutar, vai ser fgoo! Pericso de alua de imfroántcia praa vlotra ao nromal. Tlaevz anamhã eu vlote com agluma ciosa iltengilível.
Aeuds!

sábado, 2 de agosto de 2008

Brinquedo para o Ferry

Tabaréu quando vai à capital é pra tomar chá de civilização. Como foi amplamente divulgado, fiquei dois dias sem postar nada. E não foi por prisão de ventre mental; meu computador deu pau. Aguentou o quanto pôde, o coitado, mas finalmente capitulou. Fui à Bahia, fiz a travessia Mar-Grande- Rampa do Mercado sob temporal e a fúria dos chineses, mas consegui o que sonhava há tempo: comprei um lap top. Sou fascinado por inovações tecnológicas, com as devidas assessorias de João Paulo e Nana, que me tratam como um idiota informático. Aceito a denominação. Já a aprendi a ligar e desligar o brinquedo. Falta agora o rabicho que vai me permitir acessar o mundo a partir do Ferry-Boat. Foi nisso que mais pensei: minhas viagens insuportáveis pelo Ferry. A gora vou poder deixar lá fora as aporrinhações desta terra, o pagodinho, a falta de educação, gente jogando lata de cerveja no mar. Me tranco lá dentro do carro, boto um cd pra rodar e prometo postar algo mais interessante. Amanhã eu testo. Amanhã eu volto. Se os chineses não resolverem me matar.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Pastel na madrugada

Anos 70, logo no comecinho, programão era tomar batida e pegar mulé. Com 17, pode tudo isso: estômago de avestruz, bebe-se de um tudo, e tesão de segurar toalha molhada. De dia, adorava os barzinhos de periferia tipo Areal de Baixo, Ladeira da Conceição, Taboão e Mercado de Santa Bárbara na Baixa dos Sapateiros e Mercado das Sete Portas. Batida de limão, invariavelmente, pra encher a cara; à noite, Diolino na Mariquita ou Vilar em frente à antiga fábrica de papel na Amaralina, onde hoje é um posto de gasolina; aqui, já com as mulé, rolavam Gabriela Cravo e Canela, Calcinha de Nylon, Leite de Camelo, Pele de Peito e outras perfumarias. Fim de noite, dois caminhos: Good Day em frente ao Brazeiro da Carlos Gomes ou o China da Ladeira da Praça, este o nosso preferido por causa do golpe: algazarra, chega-se em turma e um vai ao Caixa do China ( aquilo é olho de sono?); compra-se uma ficha de cinco pastéis, por exemplo, por cinco dinheiros; no balcão já ao lado dos comparsas, põe-se mais dois dinheiros enroladinho junto com a ficha na mão do balconista ladrão e este começa a rolar pastel até todos os buchos estarem entupidos! Com uma ficha! O china lá, com o olhar de mormaço, achando tudo sob controle. Meu Deus, como pude fazer aquilo!! Me lembrei deste episódio ao comer um pastel comprado em Mar Grande, hoje à tarde, antes de embarcar na lancha pra Bahia. Nem vi como estava o tempo. A visão do inferno! a lancha jogou, balançou, arremeteu, sacudiu. Parece que, enfim, o China da Ladeira da Praça e todos os outros bilhões de chineses se vingaram: vomitei TODOS os pastéis lícitos e ilícitos que já comi na vida. Vomitei o pastel junto com o remorso. Quase vomito a alma.

xeudizer:

anotações livres, leves, soltas