quinta-feira, 12 de março de 2009

A que não tem nome


Li em Aeronauta, sua aversão à palavra "desgraça". E eis que ela quase me convence do seu (a palavra) poder. Não sofri com sua força, simplesmente porque vivi em uma família que por alguma razão não se importava com isto. Não que não se desse importância às palavras, toda ou qualquer, mas se ignorava solenemente seus poderes maléficos. Não sei se nos acostumamos ao silêncio quase completo do nosso pai ( chegamos a contar apenas 12 palavras proferidas por ele em todo um dia vivido) ou se a própria verve familiar se ocupava de esculhambar com tudo. Vô Chimbo era um iconoclasta, a chamar a todos de canalhas; às vezes corrigia, dizendo serem apenas os que usavam costeletas. Feladaputa, vocês podem confirmar, a nossa geração (leiam Maria Sampaio) distribue sem o menor pudor, sem mesmo conhecer a puta-que-pariu-alguém. Futuquem alguém da familia e ouvirão sonoro porra-caralho-cacete! é um povo impossível e desbocado. "Desgraça", por fim, na boca dessa gente guimarães, soa como um inofensivo "que merda", "esta merda" ou "seu merda". Queria poder ensinar à Aeronauta, a sutileza de se esquivar dos malefícios das palavras, mas não sei escrever textos muito sérios. O propósito aqui foi o de lembrar os meus e rir com estas lembranças; foi relatar a simplicidade do povo do interior.

Me chama atenção o som da palavra maldita à Aeronauta, aos seus ouvidos (leiam seu belo texto). Aqui no meu interior não é incomum agirem como ela. As pessoas não pronunciam esta palavra e a ela se referem como uma pessoa que vive, entre a vida e a morte, rasteira, nas sombras, catando almas infelizes. Dão-lhe nomes sugestivos: A Pelada, A Rasga-coberta, a Mulher da Trouxa, como alguém de verdade, com uma trouxa na cabeça, numa curva de estrada a lhes espreitar. Como a tratam, me parece sempre que a consideram, antes de anunciadora de desgraças, cobradora de castigos por pecados!
foto:herbarium.com

15 comentários:

aeronauta disse...

Muito interessante seu post, Bernardo! Não sabia que essa palavra tinha toda essa personificação!

aeronauta disse...

Hoje já são 13 de março: seu dia! Parabéns!

Marcus Gusmão disse...

A avó de Soraya também não admitia a tal palavra, Soraya também detesta e eu uso,repetidamente, quando quero pirraçar. Mas como hoje é dia 13 de março, por acaso uma sexta feira, desejo muitas graças ao senhor, em número menor ou igual a nove ou maior ou igual a 11.

Anônimo disse...

Eu quando me "reto", sempre digo essa palavra. Minha querida esposa acha um horror. rs rs.
Eita, disgraça!

Abraço.

Anônimo disse...

Ê dia 13 aniversário de Bernardo e Nana! Tentarei dar os parabens ao vivotelefônico. Beijos e felicidades mis para a dupla de dois, hoje e sempre. De Maria
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Sua madrinha, minha mãe também não falava a palavra, nem "caixão", lá em casa dizia-se caixote jamais caixão porque este era de defunto e minha mãe tinha horror à morte.
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está firme sua vinda dia 17?

- Luli Facciolla - disse...

Passei mesmo pra dar parabéns... Tão perto e tão longe... Mas essa estrada me mata!
Passo outro dia e deixo meu beijo atrasado!

Feliz dia, Dr. Bernardo! Feliz sexta-feira 13!
Parabéns!

Beijos

Senhorita B. disse...

Feliz aniversário!!!!!!!!!!!!!!!
Td de bom para nós!!!!rs
Bjs

Anônimo disse...

Parabéns Bernardo. Vida longa, dessas bem compartilhadas, amando e sendo amado. Luz no teu caminho, hoje e sempre.

Maria Judith. disse...

Sua musa também anda com labirintite...
Feliz aniversário, com tontícia e tudo.

Anônimo disse...

Como parte da família de Aeronauta, também não gosto da palavra (é claro), mas pelo tom do seu texto, em sua casa ela não vinha com tanta força. Mas, têm pessoas, como a falsa amiga da minha irmã, que encarnam a dita cuja, e essas sim, transformam a própria vida na tal palavra e só atraem coisas ruins. PARABÉNS! Lembrei do seu aniversário, mas o computador estava doente. O médico acabou de sair e eu estou lhe dando os parabéns atrasado. Que seu dia tenha sido tão alegre quanto o meu dia 04 de novembro.

Janaina Amado disse...

Bernardo, PARABÉNS! Atrasados, mas carinhosos. Gostei muito deste texto, fiz uma referência a ele e ao de aronauta no meu post.

Nilson disse...

Parabéns atrasados, meu caro!! Quanto ao texto sobre a desgraçada palavra, parabéns também! Acho que fiquei fã da família Guimarães. Esse Vô Chimbo, então!

Janaina Amado disse...

Bernardo, uma curiosidade, e pedindo desculpas pela ignorânsa:
no seu perfil, você diz que foi severinista. O que é isso?

Bernardo Guimarães disse...

Obrigado por todos os parabéns recebidos e aceitos. Nem queria recebê-los num post com este nome mas ,saiu.
Jana: estudei minha vida inteira no Severino Vieira, daí o severinista. Entrou no meu perfil pela importancia que aquela vivencia teve em minha formação.
Beijos a todos.

Luciano Fraga disse...

Excelente texto.Realmente, uma palavra poderosa, muitas pessoas não a pronunciam, temem como a um juiz,um algoz à espreita, abraço.

xeudizer:

anotações livres, leves, soltas