Terceiro ano de Medicina. Durante as aulas de Propedêutica, a professora gasta tempo extra tentando incutir na cabeça de tantos jovens acostumados às gírias, a adotarem uma nova linguagem, técnica, mais apropriada aos futuros profissionais médicos. Nesta profissão, repetia à exaustão, era preciso mostrar uma postura que pudesse angariar a confiança do paciente, além de mostrar conhecimento. Conhecimento gera confiança e conhecimento se demonstra com linguagem própria.
Zabelê se mostrava resistente. Parecia-lhe impossível viver sem gíria. A professora, percebendo a dificuldade do aluno, passou a lhe dedicar mais atenção e auxílio, sou testemunha, com paciência. Parecia que estava conseguindo. Certo dia, em visita à enfermaria de Pneumo, a mestra fez uma espécie de treino antes do jogo. Ao abordar o paciente, Zabelê deveria apenas dizer:
-" Senhor, pode tirar a camisa para que eu possa auscultar seu pulmão?"
A torcida foi grande e o suspense também pelo fato de sabermos o quanto era difícil ao nosso colega a mudança do hábito. Em volta do leito do assustado paciente ( devia ser a oitava visita do dia). Zabelê, de jaleco, cabelos longos, do alto dos tamancos ( brancos, made in Waldemar), respirou fundo e disparou com naturalidade:
-" Diga aê, Bahêa, dá pra arriar a beca preu dar um saque no seu respiratório?"
Cai o pano, rápido.
foto da web, sem crédito
5 comentários:
Que figura, Bernardo!hahaha
E os tamancos made in Waldemar faziam um enorme sucesso, né? Já ouvi minha mãe falar deles!
Bjs
Você realmente é um grande cronista!
E que tamanco é esse made in Waldemar?
Amigo e organizador oficial,
Me ajuda na divulgação do lançamento? O convite está lá no blog e no seu e-mail.
Bjs
PS: Nauta, Waldemar era um sapateiro muito famoso em Salvador.
Waldemar Calçados:
começou com uma portinha no bairro da Saúde. Fez um desses sucessos rápidos e inexplicáveis. TODO MUNDO na Bahia usou sapato e/ou principalmente os tamancos de Waldemar. Com a fama,abriu loja na ladeira da Barra, mas aí já era tarde, a moda passou...
Waldemar continua na Ladeira da Barra Avenida, à direita de quem desce em uma das três casinhas restantes (aquela banda era todinha cheia de tais casas - tia Magá morou no 35).
Eu não lembrar dos tamancos de Waldemar? Fiquei retada agora. Lembrar dos sapatos de festa? dos forrados com tecido do vestido e coisas assim finérrimas?
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E você nunca me apresentou a Zabelê!
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