quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O italiano capenga


Unha encravada: prefiro morrer rápido! Sofro desta peste há séculos. No momento de maior desespero um colega me convenceu, ô arrependimento, a operar. Anestesia é injeção e injeção no canto da unha, até prova em contrário, é tortura. E torturador deve morrer! Morra, Genésio! No outro dia, o que era um dedão anestesiado passou a ser uma perna a ser arrancada, de tanta dor! Eu sou frouxo pra dor, confesso. O pé ficou no colo, ninado como um bebê inchado e era assoprado como se tivesse asma. São dores que não se esquece. Pouco tempo depois, encravou de novo. Genésio, nem pensar, eu o matei lembram? Todo o processo outra vez mas agora ninguém me pega no bisturi. Infeccionou. O dedão ficou como a cabeça de uma tartaruga atingida por uma hélice. Pior, a oito dias de viajar pra Itália. Só que esta viagem era esperada há quarenta e tantos anos, para conhecer a cidade que minha avó nasceu. Fantasiava minha chegada à Roma, minha segunda pátria, eu quase um italiano. O dedão tinha de se aguentar. Algumas providências foram tomadas: antibióticos, antinflamatórios, alpercatas abertas e macias. Diminuiu mas não curou. A tartaruga agora parecia atingida por um remo. Desembarque em Fiumicino, mil dificuldades: troca dinheiro, carrega as malas, pede informação e não se entende a resposta. Sou mais brasileiro do que pensava e os italianos não me deram a importância que eu esperava. Vera, Mena, Naju e Juvita esperando tanto de mim e de repente, a traulitada! dei uma porrada com o dedão, claro que tinha de ser o encravado, no carrinho cheio de malas. O sangue compareceu na hora! Fiquei ali mesmo, no chão, acalentando o pé, à beira da morte! Berrava, esperneava, as meninas ficaram catatônitas e ninguem entendia que eu queria um simples curativo. Me salvou, mais uma vez, minha irmãzinha: ela o sacou da bolsa e assim fiz minha entrada na Itália: mancando e com um absorvente higiênico Care Free amarrado de barbante no dedão. Me fudi mas não perdi a pose.

20 comentários:

Edu O. disse...

você não vai se chatear pq eu estou aqui me borrando de rir, né? Tuas histórias estão cada vez melhores.

Bernardo Guimarães disse...

Edu:
se consegui te agradar, então já está de bom tamanho!Hoje durmo em paz.
Continue lendo, apesar de borrado.

Anônimo disse...

Faça um bulistrica de algodão e enfie embaixo da fela-da-puta que deseja entrar de carne adentro. Antes mesmo dela ameaçar adentrar. Caiu a bulistrica? outra. Tomou banho? outra. Difícil de botar? enfia com a ajuda da tesourinha. E assimvai. A gente termina arrebitando a porra da unha. Conheço essas sacanas!

Bernardo Guimarães disse...

Tô com ela, prima, não vivo mais sem bulistrica. Por que vc acha que ando de bom humor?
E quando a bulistrica é trocada, cheira a cães mortos!

Nilson disse...

Dedão que menstrua é uma anomalia e tanto. Com ele, não restam dúvidas, vc conquistou a Itália!

- Luli Facciolla - disse...

Sofro desse mal e entendo a dor maldita!
Se não tivesse matado o tal Genésio, eu o mataria por pura cumplicidade!
Dói pra KCT...

Meninha disse...

Já ouvi esta história de você, mas contada aqui é bem melhor! Até da sua desgraça você me faz rir.
Lembra daquela vez que Ivani também te convenceu a operar? Foi na emergência do hospital... e lá estávamos eu e Nhêga segurando sua mão e te dando apoio moral.

Bernardo Guimarães disse...

Pois é, sou um burro mesmo! operar duas vezes! me lembro do escandalo de calça arriada que dei na emergência.
Ah! Ivani vai morrer também.

Anônimo disse...

KKKKKKK!
Eu amo essa história! Parece um ataque do sexta feira treze tamanha a quantida de sangue e pus que vc dizia sair da maldita unha!
Bjsss, Lua

Anônimo disse...

Ah! Vc se lembra de qnd vc fissurou o pé, os gritos que dava na emergencia do hospital e da junta médica que teve que ser formada com a maxima urgencia para ver se te acalmava? Realmente vc é dramatico!
Lua

Bernardo Guimarães disse...

Como diz Maria Sampaio: sou drolático e macabro! Já disse: sou frouxo pra dor. Se me soltar aqui, tenho é estória pra contar!...

Vivz disse...

Concordo com quem disse que vc não escreve. Filma. Suas histórias são leves e engraçadas.

Janaina Amado disse...

Bernardo,também não perco a pose, mas comigo é fácil: não tenho unha encravada!
Eu tava triste, vim aqui, li sua história, ri. Muito bom.

miro paternostro disse...

eu tinha muita unha encravada, depois de passados anos, nunca mais soube o que é, mas consigo me lembrar da dor! uma das piores.
mas até de sua dor e de sua miséria você consegue fazer uma coisa muito hilária. ri aos montes. vendo as 'meninas' com você no fiumincino e carmeninha com aquele charme dela tirando o absorvente da bolsa! mil.

abrs.

miro paternostro disse...

ai que voce tirou o negócio das letrinhas, eu tinha feito isso, até o dia em que recebi uma montanha de spam nos meus comentários e tudo de putaria. botei as letrinhas de novo. um pé no saco mas ajudam contra spam.

anjobaldio disse...

Nunca ri tanto em minha vida quando entrei neste blog agora de tarde!

aeronauta disse...

É, Bernardo, você é leve!

Maria Judith. disse...

Hehehehehehe!!!

Mãe de Iara disse...

Ciau bello !!
Só vc mesmo pai para menstruar pelo dedo !! Que bela estréia nas Europas !! Essa sua viagem foi histórica e serviu de roteiro para a viagem que fiz com Lua !! Cada canto da Itália tinha a sua cara !!

Palatus disse...

Gosto de saber que os médicos também sofrem com dor...isso me conforta muito. Não que eu quisesse que vc,meu caro, passasse por isso. Longe de mim. Uma vez um me disse: "Vc né homem não, rapaz?" Respondi, levando um beliscão de minha mãe:sou e não preciso parir para saber o que é dor!
Melhoras, para ti amigo.

xeudizer:

anotações livres, leves, soltas