domingo, 30 de novembro de 2008

Mena, 70


Mena
Vou repetir o post para homenagear minha irmã. Mas o post de Maria está melhor, recomendo
Bateu a vontade de escrever sobre minha mãe postiça. Mena recebeu o nome de vó Carmena, nascida Carmela na Italia e teve seu nome aportuguesado quando se registrou no Brasil. Mena sempre demonstrou orgulho do nome pouco comum. Quando nasci, ela já estava com 15 anos e ajudou minha mãe a criar os três ultimos filhos. Virou meio-mãe de todos. Casou e nunca teve filhos: dobrou o papel de irmãe. Sempre foi a maior referência afetiva na família. Com a morte de nossos pais, foi alçada naturalmente ao papel que já era seu. Vieram os sobrinhos e todos os irmãos lhe entregam o primeiro filho em batismo. Dinda Mena. Separou, casou de novo. O primeiro marido, um Vadinho com apelido Toinho, lhe levou a juventude. O segundo, Dr. Teodoro Madureira com outro nome pomposo, médico, fera em otorrino, catedrático da Faculdade de Odontologia da Ufba, lhe deu o que merecia mas enloqueceu no final e tentou sufocar sua vida. Mandou andar, saiu com a roupa do corpo para ser feliz. E tem sido. Sozinha de marido, mas feliz. Tem tanta alegria de viver que nos ensinou a aprontar. Saía na noite, brincava carnaval como ninguem, fitinha na testa e brandindo sua indefectível mamãe-sacode para espantar urucubaca, sempre mijando nas pernas e lavando com cerveja; foi no brega com a gente, deu birro de carreira em barraca de festa de largo, tomou todas, correu da polícia por pregar cartaz na rua no tempo da ditadura, dava festas homéricas, tem mais de 100 afilhados (cadastrados!), e quando alguem dizia -Vamos? ela nunca contava até três. Mena topa tudo, em nome da farra. Nos veraneios do Morro de S. Paulo, encabeçava os roubos noturnos e as visagens pra matar Ieda de medo.É uma figuraça. Maria a chama de Dôidia (doida com pronúncia baiana).
Agora em 29 denovembro faz setenta anos.
É uma paixão em minha vida.
E isso tudo com apenas 1,50 m de altura.

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foto de bernardo

sábado, 29 de novembro de 2008

Cadê minha japonesa?




Há uns posts atrás me denunciei como uma figura anacrônica, fora deste tempo, quando reconheci que não conheço mais as novas marcas de carro, além das "quatro grandes". Hoje quase tomo vaia dos filhos quando perguntei por minha sandália japonesa. Eles ficaram atônitos por uns segundos até explodirem em gargalhadas. Daí passaram a apontar a quantidade de palavras digamos, fora de uso, que ainda teimo em usar. Acho que devo muito disso à minha convivência com minha prima Maria. Como meu ídolo incontestável, sempe procurei imitá-la e sempre achei o máximo a sua preocupação em guardar o nosso baianês- inclusive, ela é uma das colaboradoras do delicioso e hilário Dicionário de Baianês, de Nivaldo Lariú. Reparem na linguagem dela. Hoje mesmo nos trouxe duas pérolas: cozinhado e matéria-plástica! Adorei! ela chama vento frio de cruviana, FM de Fêmê e lap top de portátil. Ela é o máximo e está coberta de razão. Acho que o baianês está intimamente ligado à conservação das expressões não só antigas, mas próprias de nosso povo. Banda de música ainda é conjunto; esmalte é fátima, sutiã e calcinha já foram aqui denomimados califon e calçola; orinar e obrar não precisam tradução. Maria tá com tudo e não tá prosa. Enquanto isso, vou me arriscando a ouvir ozadias por pedir minha japonesa. Mando tomar no furico. Ou no toba. Ou no fiofó.

Quer saber? Boa noite, Osvaldo!

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foto inbopil.com.br

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Para Marcus




Sempre renovei minha Habilitação em Salvador e agora resolvi fazer por aqui mesmo; com o universo on line já é possível, sem precisar transferir o prontuário, como antigamente. Tirei um dia e parti para Valença, a capital do Baixo Sul, munido de paciência. Fui recitando o mantra da compaixão a viagem todinha, para o caso de acontecer comigo o que aconteceu com Paulo, meu irmão. Na véspera, ele me contou que tenta sua renovação há quatro meses, porque toda vez que lá chega, a funcionária descobre algo faltando. Ela vasculha os documentos como um policial farejando cocaina num baculejo. Cheguei cedo, 8:30, e peguei a primeira fila: era pra pegar uma senha. Vinte mantras, ficha 16, escrita a mão. Outra fila para pegar o Laudo, num buraco na parede, onde só se via os olhos e os dedinhos gordinhos de outra funcionária. Ela atendia cada pessoa durante 60 mantras. A 120 de chegar minha vez, uma voz do buraco anuncia:

-"Caiu o sistema". Eram 9:40. Uma de farda chega e declama, com as perninhas assim, e os bracinhos balançando:
-" Meio dia a gente fecha e volta uma e meia". Um rapaz magrinho, apavorou:
-"E nós que moramos em outro município, eu moro na roça e não trouxe dinheiro pra comer". Os ombros subiram como resposta. Convidei o rapaz.

Chega meu irmão, com todos os documentos relacionados pela própria farejadora, da ultima vez em que se digladiaram.

-"Este comprovante de residência não vale, tem de ser do mês atual". Consegui tirar Paulinho de lá antes do ataque apoplético. E na parede bem acima da mesa da funcionária, estava em letras garrafais: Art. N do Código Não Sei das Quantas: Desacato a funcionário no exercício da função ( rs...), 6 meses de cadeia e multa. Uma passada no escritório da Coelba ( muitíssimo bem atendidos ) saímos com a conta atual. Ela ainda fuçou por uns 15 mantras. Uma e meia da tarde, outra fila, o sistema on, pega-se o laudo, tira-se uma foto na frente de todo mundo ( aí a gente fica com cara de cachorro que caiu de mudança), atravessa a cidade, fila do Banco, paga-se, outro rumo, fila na Clínica, que letra é essa? com o outro olho, já se operou? não? pague no balcão. Volta ao Detran, outra fila, entrega-se a papelada crescida ( são 4:30 da tarde) e a fuçadeira, sem olhar pra você:
-" Daqui a 15 a 20 dias, telefone pra saber se já está pronta. Só falta agora levar os comprovantes numa Auto Escola pra fazer o curso ou uma provinha".

Saí de lá com a certeza que a fuçadeira não tem mãe. E foram 735 mantras no total. Mas terei minha carteira na mão por mais cinco anos ( quantos mantras serão?...)

Anime-se Marcus!
PS escrito em 27/11 para não haver dúvidas: a despeito do aviso na parede, pintei-lhe o diabo com a fuçadeira!
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foto do detran.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O Morro não tem vez...


Volto do Morro sempre com o mesmo sentimento: absolutamente dividido entre o mal estar de ver o que acontece por lá e a imensa e eterna paixão pelo lugar. Vontade de tirar ( quase) todo mundo de lá pra ver se ainda salva. Impossível. Vai é piorar. A lógica do comércio se estabeleceu de forma inexorável e ninguém pensa diferente. Assisti a uma conversa entre dois " moradores", onde se discutia não a melhoria do meio ambiente ou da vida das pessoas mas sobre o que seria melhor para atrair mais e mais turistas, e os mais e mais endinheirados. O turista comum já não os interessa, gastam pouco, sujam muito. Precisam focar naqueles que chegam de avião, cheios de euros, se entocam nos hotéis com piscinas (?!), contratam umas putas, fuc, fuc, cheiram até poeira dos aparelhos de ar condicionado e vão embora pra voltar paroano. Nem aprendem a dizer bom dia na lingua local, muito menos obrigado.

Por outro lado, tem o lugar, as praias, o intenso e cada vez menor verde, que são verdadeiramente apaixonantes. Apesar da ocupação, - vê-se casas dependuradas em qualquer corte de terra, daqui a pouco vão ocupar as palhas dos coqueiros- ainda é um lugar belíssimo. Eu ainda daria meu braço direito, se houvesse alguem disposto a pagar o que eu acho que vale, para morar no caminho da Gamboa.
Enquanto isso, vou engolindo os sapos com o descaso com o patrimônio, vou revirando o estômago com a ocupação desregrada, vou fazendo das tripas coração para continuar indo lá e passando por cima da minha indignação, afinal lá estão partes de mim: duas filhas que ali trabalham, e minha neta que ilustra este post -cujo sorriso na foto foi a pedido da Menina da Ilha- e representa a esperança.
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foto de edu, o genro-pirata.

domingo, 23 de novembro de 2008

Tia Norma


Há 39 anos morreu, nesta data, minha madrinha, tia Norma. Já tive oportunidade de escrever aqui mesmo sobre ela, mas nunca será o suficiente. Ela tinha uma relação especial com os parentes, os sobrinhos e comigo, por ser seu afilhado. Gostava muito de presentear. Tive um perfume Lancaster (verdadeiro, claro!) que ela me trouxe da Argentina; uma máquina fotográfica portátil, super-prática, toda de plástico,vinda não me lembro de onde; de sua ultima viagem com Jorge e Zélia, já doente, me deu um relógio russo BOKTOK, que fez o maior sucesso, imaginem, em pleno 1969! Era uma transgressão e tanta possuir e exibir objeto tão comunista. Depois que passou a ficar no leito, em junho/julho, resolvi fazer minha primeira viagem para fora da Bahia: cinco dias em Aracaju. Estudante, sem grana, apelei para a madrinha. Mandou comprar um livro de ouro e todo mundo que ia visitá-la, mandava assinar pra ajudar o afilhado na viagem. Tirei toda a grana que precisava.

Antes houve um episódio mais interessante ainda. Comecei a fumar aos 13 anos e aos 15/16 a pressão aumentou muito na família para largar. Numa visita domingueira à madrinha, me comunicou que estava fazendo uma rifa de um gravador portátil, de rolo, de Maria, ela não queria mais; se eu fosse o sorteado, deixaria de fumar? O desejo de ter aquele gravador, uma pérola da tecnologia, falou mais forte: topei na hora. Vendeu bilhete a torto e a direito, a todo mundo que conhecia. E quem foi o ganhador? Deixei de fumar na hora que recebi o tesouro das mãos dela. Anos depois, soube por Mena que, claro, ela havia manipulado descaradamente o resultado do sorteio para ajudar o afilhado na empreitada, que ela sabia ser tão difícil: fumava até quase queimar as unhas.

Eu não poderia ter tido madrinha melhor.
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foto do blog de maria

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Casa Rôla


Indo pro Morro de S.Paulo e quando digo qué pra ver Iara, as filhas bradam! -"Ele agora só quer saber da neta". Elas fingem que é verdade e eu finjo que é mentira, em nome da harmonia familiar, mas é claro que quero estar com todos.

Temos casa no Morro desde 1967, quando ainda era um povoado de pescadores com veranistas de final de ano. Meu pai herdou uma ruína de vô Chimbo, que recebeu de seu pai, nosso bisavô Wenceslau Guimarães, o tirano. Este contruiu a casa e pôs o nome de sua esposa, para sempre conhecida no Morro como Casa Rôla. Claro que o nome dava panos pra manga e demorava muito explicar tudo isso. O apelido pitoresco rolou (ops) na imaginação de qualquer um. Meu pai fez uma autêntica casa de veraneio, sem trancas nas portas, janelas sempre abertas, dia e noite, e durante anos nunca houve o menor problema. Todos os vizinhos se conheciam, apesar da segregação. Os veranistas da vila e os da Prainha até depois da Casa Rôla eram " os pobres"; dalí em diante, começava a "Vieira Souto", com os bem-nascidos da Bahia que faziam questão de não se misturar com nosotros. Eram os de sobrenomes estrangeiros, socialites, grandes empresários, geralmente ligados -quase todos- ao esquema político dominante, leia-se ACM & Cia. Alguns descolados de ambos os grupos procuravam se misturar; eu mesmo me casei com uma que passou a fronteira, sendo eu o coiote. E assim transcorriam nossos veraneios. Um dia, dois deles lá se desentenderam e um matou o outro. A viuva se mandou, transformou a casa em pousada e o resto, quem quiser, vá lá ver no que se transformou. Os gringos tomaram conta (uma e duas), os nativos foram sendo substituidos lentamente. Eu não conheço mais ninguém, mas só vou lá pra ver Iara. E Maira, Luana, Eduardo...
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eu e iara na pousada morena; atrás, semi-encoberta por mim, a casa rôla. foto de maira

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Amnésia Alzheimer da Silva


Fofoca é apelido desde pequenininha, hoje já nem sei mais porque. A cara da mãe, filha do irmão que nos tiraram, nos deixando mais quatro filhos. Minha afilhada, Maria chama de Rosinha mas é Daniela. Fofoca. Nem sei mais porque. Faz aniversário junto com tio Mirabeau, 18 de novembro e eu não costumo esquecer estas datas, e outras também; aliás, termino decorando telefone, placa de carro, CPF, o diabo que me contam. Coisas do TOC. Tenho raiva desta "capacidade" de sair decorando coisas, justamente quando o velho alemão insiste em baixar. Por que guardo porcaria e me estribucho para decorar um poema? Estou perdendo a memória recente mas mantenho a pregressa. Sou capaz de me lembrar com uma nitidez cinematográfica as coisas que me aconteceram no século passado e morro de boca dura tentando lembrar do lanchinho da tarde de ontem! Isto é uma merda.

Pra que esta história toda? só pra desabafar e confessar que finalmente o Dr. Alzheimer conseguiu me alcançar: literalmente ME ESQUECI DO ANIVERSÁRIO DE DANIELA!!! Primeira vez na vida. Aqui posto, na tentativa de conseguir o perdão dela ( sequer me ligou pra dar bronca). A aqui posto para a posteridade, para reconhecer que começo a dar tilt, a falhar, a comer mosca e engasgar com cuspe, a envelhecer. A porra da velhice se instalou de vez. Azar o meu, vira-se uma página.
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foto de bernardo

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Atenção, meninas!


Hoje estou um aeronauta: nas nuvens. Já li aqui e acolá, tratados, resenhas e textos explicando (?) o que quer o homem ( Pardon, Lacan). O que consegui foi que nós queremos mesmo é um carro! Fazemos tudo para ter carros. Matamos por carros. Traimos por eles. Conseguims até lavá-los, concessão só permitida aos iniciados no gênero. Vocês, mulheres, jamais nos entenderão - fica aqui nossa definitiva vingança. Não se ponham entre nós e nossos carros. Ah! algumas dirão, conheço fulano que tem um carrinho velho, nada poderoso. E quem está falando em poder? Abaixo a velha máxima da relação carro/poder. Passemos à pós- moderna carro/prazer aí talvez vocês se aproximem de nós, e deixem de pensar que gostamos mesmo é de um bom e novo controle remoto. Carro. Gostamos de carro.

Hoje recebi meu carro novo; é semi-novo mas não nos importamos com estes detalhes nada técnicos pois o que nos importa é justamente o quanto ele é tecno, ao contrário das meninas que escolhem nosso objeto pela beleza ou pela economia que fazem! Sonhei minha meia-vida inteira em ter este carro que hoje chega e nem ao menos posso tocá-lo ( no sentido de dirigir). Estou aqui no interior e a loja só o liberou hoje e quem vai pegar é Jango, meu filho. Golpe dos golpes. Nem tento explicar o sofrimento de não estar lá para receber meu carro (semi)novo. Vocês, afinal, jamais entenderiam. Jango, cuidado com meu carro!
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foto: mitsubishi

terça-feira, 18 de novembro de 2008

O que não pode ser



Não sei fazer resenha, não sou crítico literário. Nem mesmo "entendo de artes" como muitos. Das coisas que vejo, ouço ou sinto, gosto ou não. Se não gosto, tambem não cuspo em cima, já me serviu de alguma maneira; pra alguma coisa, tudo nos serve. Se gosto um pouco digo que é assim assim. Agora, quando gosto muito, faço um escarcéu! Foi o que aconteceu com o livro de Renata Belmonte, a Senhorita B. a que deixa vestígios em nossos blogs. Seu livro me deixou bem mais que isso, me deu alegria em saber que esta meninada está escrevendo melhor que gente grande. São contos muito bons. Um tem um suspense angustiante: Quando o circo se foi; outro me fez chorar pra valer: Das coisas e dois elefantes azuis virados de costas. Quando escreve Máquina de cantar, descreve sentimentos de homem como se homem fosse, como um Chico Buarque às avessas. Eu fiquei embasbacado e esta não é uma expressão de crítico literário; sou apenas um leitor que foi arrebatado. Como gostei muito, queria que todos vocês conhecessem Renata. A gente nunca se viu mas já se trata por primos; acompanho seu blog com atenção, e me foi recomendado por Pablo Sales, que a conheceu quando ela ganhou o prêmo Braskem Cultura e Arte em 2003 e me disse:

-"leia, meu tio, ela é muito boa, escreve bem pra carilho e ainda por cima é uma gata!"
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foto do livro, no blog de renata: vestigios da senhorita b.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

domingo, 16 de novembro de 2008

Pode, mãe!



Terça à tarde é dia de atender pediatria no Posto de Saúde. Pra chegar ao consultório passo distribuindo boas tardes aos pacientes sentadinhos na sala de espera. Naquele dia um pequeno me chamou a atenção, ele dissse em voz alta e com muita ênfase:

-"Pode, mãe! viu que pode?" Fiquei curioso.

Na sua vez de ser atendido, o pequeno se aproximou de mim e tocou a manga de minha camisa. Era uma camiseta rosa e eu uso sempre a manga enrolada estilo anos 50. Hábito antigo. Por este motivo, minha tatuagem fica meio à mostra; pensei, portanto que o pacientezinho estava curtindo e perguntei:

-"gostou da tatuagem?" .A mãe desfez o equívoco:
-"não, doutor, ele está curtindo é a camisa; tem mais de um mês que esse menino me enche pra comprar uma camisa desta mesma cor e eu fico dizendo que meninos não podem usar cor de rosa".

Aliviado, o menino abriu um sorriso lindo.
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foto de bernardo

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Embrulho no estômago


Me deu Embrulho no Estômago o post de hoje de Personagem Principal, intitulado "Filhos de Chocadeira", onde ela descreve a atitude de "homens" que se valem da estatura física para assediar as mulheres. Como homem me sinto envergonhado e como ser humano repudio incondicionalmente estas atitudes. Qualquer pessoa que se utilize de uma condição superior para subjugar outra, merece nosso desprezo.

Ontem à noite, por exemplo, voltando da Pituba, na altura de Armação, me chamou a atenção de longe uma luz piscante de carro de polícia. Ainda brinquei com Vera que se tratava de blitz da lei seca e trocamos de lugar: minha carteira está pior que a de Marcus Gusmão: vencidíssima ou pior que o coador de café da mãe das meninas blogueiras: fracassada. Chegando perto, Vera diminuiu a velocidade e pude testemunhar uma cena degradante: um policial, troncudo e truculento, ameaçava um rapaz com o dedo no nariz do outro berrando "se comporte, se comporte comigo!"; o rapaz estava em posição péssima: na pista, documento na mão trêmula, a namorada ao lado, calada de morte, o policial no passeio se colocando mais alto, e uma viatura com mais dois policiais de longe asssistindo e adorando a cena, provavelmente.
O que fazer? parar o carro e defender o rapaz é assinar atestado de morte. Ligar pra polícia? eles SÃO a policia. Denunciar? a quem? ainda corremos o risco de termos o telefone anotado. E o rapaz? quem vai apagar a humilhação? quem vai dizer à sua namorada que ele não foi um covarde? e o que lhe aconteceu? não estou conseguindo me perdoar por não ter ficado lá, ao menos minha presença PODERIA ter inibido o troglodita que de repente deixava o rapaz ir embora depois da demonstração de força. Por que aquele policial -e tantos outros, tratam as pessoas assim?
Não sei porque, me veio à lembrança a campanha de trânsito na Itália para inibir os "machões" que querem demonstrar "virilidade" com a velocidade. São outdoors com fotos de mulheres com os dedos indicador e polegar mostrando que uma pesquisa comprova que quem se mostra tanto, tem o pinto des'tamanhinho!!
Viu, seu guardinha?
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blog do vinna

sábado, 8 de novembro de 2008

Rio de Alma


Minha cidade, é banhada por um belíssimo rio. Imbecilmente oficializaram seu nome como sendo Jequiezinho. Ridículo. Pra todos nós sempre será Rio de Alma ou Rio das Almas. É ele que nos separa de Taperoá. Tem um curso quase reto, de curvas pequenas e surpreendentes, uma floresta de Mata Atlantica exuberante lhe beirando, com muitas ilhotas e corredeiras impressionantes. Alguns trechos tem prainhas de areia alva. Estamos organizando um grupo interessado em percorrer toda sua extensão, descendo de bote. Gosto mais de agua doce do que salgada; Iara mais que sereia, Oxum mais que Iemanjá, bôto mais que golfinho, pitu mais que lagosta, cachoeira mais que marola, canoa mais que barco, banho de rio é melhor que banho de mar.

Na minha infancia meu rio me era proibido. O Rio de Alma é também um rio que leva quem se arrisca; correnteza não perdoa quem não sabe nadar. Sempre morria um nas suas águas, que o devolviam quilômetros abaixo, já beliscado por goiamum. Crianças eram preferidas pelo rio escuro, sabe-se lá porque esta preferencia mórbida. E o rio era o mundo de diversões da cidade que não tinha mais nada a oferecer. Como a gente morava na fazenda que tinha rios e cachoeiras e ofereciam quase nenhum risco, meu pai decretou: -"pode-se fazer de tudo por aí, menos tomar banho no Rio de Alma". Quando estávamos na cidade, as brincadeiras terminavam no banho de rio e nós, eu e meus irmãos, ficávamos só olhando. Desobedecer a ordem do pai, não, nunca, jamais. Adulto, já casado e com filhos, numa lavagem do Bonfim todo mundo se jogou no rio. Na hora "H" não consegui, empaquei no cais, como numa ordem pós-hipnótica.
Mês passado, voltando pra casa e passando pela ponte parei o carro. Eram nove horas da noite e não havia ninguem. A lua cheia já ia alta e clareava como um refletor; o rio cheio, transbordando. Me arrisquei. Tirei a roupa e nu, pulei da ponte, nadei, mergulhei, bebi água. Fiz as pazes com meu pai; me encontrei finalmente com meu rio, lavei minha alma.
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foto da web, s/autor

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Motos e mentiras



Dois posts atrás comentei en passant algo sobre motos. Eu as adoro. Meu pai foi piloto de avião, numa época de aviação perigosa (amanhã falo sobre isso). Com medo do que poderia acontecer aos filhos, e como pouco proibia diretamente, vivia falando aos botões mas em voz alta, que se dependesse dele, filho algum seria piloto, entrava na política ou andava de moto. Como ninguem ousava sequer discutir o assunto, tomávamos os grunhidos por esporro. Jurávamos de pés juntos uns aos outros que jamais faríamos que o velho não queria. Era tanta convicção que alguem mais atento devia ter desconfiado.


A aviação sempre esteve em meus sonhos até os 7/8 anos, quando o meu oftalmologista descobriu que eu tinha um defeito congênito irreversível, sem visão central no olho esquerdo, que o fez decretar: -"vida normal mas não pode ser goleiro nem piloto de carros ou avião". Não tenho qualquer noção de profundidade; não me jogue nada que não aparo; para estacionar um carro, ou bato no da frente ou deixo mais de metro de distância; descer degraus já me causou algumas luxações e uma fratura de tornozelo. Acho que ali nasceu a outra escolha, a medicina.


Meu pai morreu em 1987.


Sempre participei de militancia política, desde 68 quando aos 15 anos fazia pequenos serviços aos companheiros, isolados no Severino Vieira. Mas daí a ser candidato, foi só em 2004 e vi o que é praga de pai. Desta, estou livre.


A moto veio logo depois. Comprei uma Honda Bros e sempre andei feliz, pra baixo e pra cima por estas estradas. Usava como justificativa o fato de morar no interior. Estou comprando uma maior agora e a meta é uma Harley em dois anos. Neste caso, como a praga podia ser fatal, ele deixou passar e vez em quando tenho a sensação de que meu pai está na minha garupa, curtindo um vento no rosto, sonhando com seus aviões, me avisando suavemente,


-" mais devagar, parente!..."
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foto bernardo

Tatuagens II


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Para fechar o assunto tatuagens.
A segunda, que está no braço direito, eu mesmo desenhei: as iniciais dos filhos JmnL - João, Maira, Nana e Luana, que permitiu uma simetria esteticamente interessante, sobre letras V de Vera, disfarçadas é claro. Se ela me arriar um dia, digo que são uns urubus voando. Ficaram tão disfarçadas que até hoje ela não se reconhece lá.
A terceira, em volta do braço esquerdo, mandei imprimir o Mantra Budista da Compaixão, em alfabeto tibetano, com os simbolos: Om Mani PadMe Hung(pronuncia-se om mani peme rum), cada sílaba correspondendo a um caminho para a perfeição: generosidade, ética, tolerância, perseverança, concentração, e sabedoria. Vou tentando um a um...

A próxima será o nome de minha neta Iara, com desenho feito por mim mas quase um plágio de Carybé (é difícil não tentar imitá-lo).

E depois de engordar tanto ( me formei e casei com 48 kg, hj tenho 88), aumentou o espaço para mais. Como os descendentes tem coincidentemente nomes em ordem alfabética, I J L M N, adiante posso escrever mais netos: Hamilton, Olga ou Hermenegildo, Oto...
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fotos e desenho meus

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Tatuagens

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A frase de Chico "quero ficar no seu corpo feito tatuagem" pode ter me influenciado de alguma forma, ou melhor, prefiro dizer que foi assim, por causa de uma poesia. Mas as razões são muito mais prosaicas: me tatuei, do mesmo jeito que resolvi fazer muitas coisas que não fizera antes, ou antes de morrer. Andar de motocicleta foi outra, comecei aos 50 e a vantagem, neste caso, é que diminuem as chances dagente fazer besteira.

Meu papo com tatuagem é muito simples: faz quem quer, quem não gosta, não faça mas não enche o saco de quem faz!

Minha filha Maira é a que mais se parece comigo. Fisicamente, é a cara da mãe. O resto, parece que estou me vendo num espelho. Quando fez quinze anos foi logo avisando: quero uma tatuagem de presente. Antes que a mãe bradasse - e as mães, como bradam! levei-a secretamente ao mestre Binga, na Barra. Saiu de lá toda feliz com uma rosa tribal na virilha. Quando a mãe bradou, já estava tatuada. Não parou mais, já tem cinco ou seis.

Em 2000, visitando os filhos no Morro, Jango me mostrou um peixe tatuado na face posterior do ombro direito e disse que queria que eu tivesse a mesma marca. Nem titubeei. Sonho antigo, adiado até Deus sabe quando, era só dizer que foi meu filho quem exigiu! Tasquei um peixe nas tetas. Nos primeiros dias me torturei um pouco com a idéia de ter alergia à tinta, virar um câncer de pele ou que a tatuagem só teria serventia para reconhecimento no necrotério. Coisas de paranóico. Me acostumei, hoje sinto um prazer enorme de ter a mesma marca que meu filho.

Depois de Maira, Luana fez duas, Jango já tem seis e Nana pediu uma mas a mãe bradou. Dia 13 de março que vem, de desenho já escolhido, vamos juntos ao estúdio; presente de 18 anos.

E eu tenho mais duas, perto de fazer mais uma. Mas aí já é outro post afinal, cada tatuagem tem uma história...
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foto da tatuagem: bernardo

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Bon bini *


















* Benvindo!
Ano passado nesta mesma época, estava num dilema terrível: onde torrar dinheiro? Eu e Vera decidimos que todo ano devíamos fazer uma viagem. Levante a mão quem não gosta de viajar. Se alguem arribou o braço, vaia nele! A gente fica, então futucando a internet atrás de promoções e com paciência a gente termina encontrando umas massas. Foi o que fizemos. O desejo era ver Paris, nem que depois a gente morresse. Fizemos as contas e não achamos de bom tom gastar muito e ver pouco com a grana que dispunhamos; projeto adiado. Temos milhagem pra percorrer qualquer pais da America do Sul mas a gente queria mesmo uma praia, muita praia. Pesquisamos, pesquisamos e achamos: de avião até Santiago, (com as milhas), de lá para o Taiti, via Ilha de Páscoa. Ah, o Taiti...fizemos todos os planos e roteiros: Taiti, Moorea, Bora Bora. E tome a olhar fotos na net. Que lugar! quanto mais víamos mais tinhamos vontade de ver. Varamos madrugada olhando, mar azul, pesquisando, mar azul, onde ficar, mar azul, o que comprar. De repente a conclusão: enjoamos de tanto mar azul e pra comprar só achamos uns califons de coco! Não vou deixar minha senhora desfilando por alí naquelas enjoadas praias alvíssimas, com os peitos sobrando nos cocos. Taiti, não. Onde ir? Aruba? e lá fomos nós. Depois de sermos tratados como inimigos em Bogotá, sendo revistados três vezes, chegamos ao paraiso.
Aruba é do tamanho de Itaparica, com mais de 300 hotéis, uma estrutura formidável, e um povo muito, muito agradável, com uma lingua, o papiamento, engraçadíssima, uma mistura de inglês, francês, holandês, espanhol e português. Todo mundo termina se entendendo. Vera se esbaldou: praia e compras. Eu, nem tanto. Voltei sem saber a temperatura da água e comprei uma camisa Havai 5-0. Por que não tomei banho de mar? o Caribe foi feito pra se olhar; pra tomar banho, temos o Morro de S. Paulo. Lá sopra uma cruviana 24 horas, sempre na mesma direção. As árvores são tortinhas pro outro lado. Tem um buzu de grátis. Adorei tudo mas no mar só molhei os pés. Tabaréu no Caribe...

Blog também é cultura. Se for à Aruba, saiba ao menos:

-"Bon Tardi, kon ta bai?" Boa tarde, como vai?

-"Mi ta bon, danki." Eu vou vem, obrigado.

-"Pasa un bon dia" Tenha um bom dia
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fotos de bernardo e vera em aruba: vera e cristina japa

sábado, 1 de novembro de 2008

Zambiapunga



Em muitos anos, hoje deixei de assistir a apresentação da Zambiapunga em Nilo Peçanha. Desde menino quando lá morava, adorava ver a Zambia. Ela sai às três/quatro horas da madrugada do dia primeiro de novembro. Como morava fora da cidade, na fazenda, ia dormir na casa de amigos, e era difícil pegar no sono. O medo dos caretas se misturava com o prazer do som, de acordar na madrugada, de participar de uma aventura de grandes. O grupo percorre toda a cidade com cerca de 60 homens mascarados, com roupas e capacetes supercoloridos, que tocam percussão: enxadas, tambores e búzios soprados. Não dá pra se descrever o som. É alucinante e altamente contagiante, puxando de criança a velho. Gilberto Gil conheceu e convidou para o PERC PAN; durante muito tempo abriu a Caminhada Axé; Regina Casé fez um programa especial com o grupo; Naná Vasconcelos pirou, foi lá e tocou com eles. Se eu fosse mais sabido, gravava um pedacinho e tocava aqui procês conhecerem um pedacinho mais de mim.
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fotos:flickr e fundaçãocultural

xeudizer:

anotações livres, leves, soltas