
Não vou porque estou enrolado no xale da doida aqui no interior. Quem está na Bahia, é de lei!!!
Tá rebocado quem não for!!!
em todos os sentidos
Vera chega em casa toda animada:-"vou ficar rica!". Ai, meu Deus, lá vamos nós.-"uma butique de verduras na Pituba, onde só tem madame com dinheiro". Junta-se com Cristina que também acha que vai ficar rica. Rodaram a Pituba atrás de um ponto, uma garagem.-"vai ter prateleiras" avisava uma, "podemos fazer delivery" concordava a outra. Os maridos começaram a se preocupar. Na época eu fazia formação em psicanálise e Gilson era o Diretor Médico do Hospital S. Rafael. Sem ponto em vista, tiveram a brilhante idéia de construir o empreendimento. Seria uma original barraca de madeira, num terreno baldio no final da rua ao lado do Apart Jardim de Alá, em frente ao edifício de Gilson e Cristina. "-Pertinho de casa" se animava a outra sócia. "-vai se chamar BIBOCA, não tem um ar de simples e chique?". Em dois dias a Biboca estava de pé, em tábuas sem lixar e coberta de eternite. Dava logo pra ver que não tinha pose de butique de madame, nem que fosse pra vender verdura! No esquema proposto, as sócias se revesavam no turno da manhã e adivinhem quem ficava à tarde? Eu e Gilson, sem direito sequer de discordar daquele negócio ( nos dois sentidos). Verduras adquiridas na CEASA, arrumadas nas prateleiras da Biboca, começa a venda. Eu levava a coleção de Freud pra estudar mas era interrompido a toda hora pelos clientes, 100% vindos da favela a cem metros dalí: " moço, me dá 2 real de pimenta". Eu metia as mãos em conchas e entragava o equivalente a 20 reais de vez, contanto que acabasse logo aquele estoque e a situação. Confesso que a competência delas não permitia que nenhuma das duas coisas acontecesse. Mas as vendas não aumentavam, a Biboca não acontecia. A solução era humilhante: promoção. Aquelas sacolas/redes de plasticos com: um ovo, dois quiabos, dois maxixes, dois gilós, um pedaço de abóbora, outro de repolho, uma cenoura, uma batata e ficavam as sacolinhas penduradas no frontispício da Biboca. " quero uma promoção", alguem da favela pedia e às vezes eu morria em outras dava vontade de matar as duas. Sempre que passava um carro eu me abaixava ( Gilson idem) com receio de ser um paciente. Via pela fresta do barraco o carro se afastar; às vezes vendia assim mesmo, abaixado, Freud na mão. Um dia a Biboca foi arrombada e roubada. Um saucero: choro e ranger de dentes das sócias, agora menos ricas. Claro que eu e Gilson fomos, em caravana com carro da polícia de sirene ligada, à Delegacia prestar queixa. Outro dia foram convocadas pelo dono do terreno ( houve uma denúncia de "alguém que está com inveja do nosso negócio" a desocupá-lo em 24 horas, sob pena de demolição. Compareceram as sócias no escritório do dono, o IAPSEB, representado por sua implacável diretora, Dra Ivete. Quando a secretária chamou na ante-sala pelas "invasoras", quase não acredita nas madames, uma de óculos de grife, a doutora, outra espevitada num tailleur de tweed, a psicóloga, ambas funcionárias graduadas da Secretaria da Saúde, conforme se apresentaram. Foram expulsas do terreno alheio, a despeito dos argumentos choramingados de Cristina de que " a senhora não acha que tantos anos de contribuição ao IAPSEB não nos daria este direito?" Foram expulsas de lá e em 24 horas a Biboca estava no chão. Para sempre, espero.









