
Minha primirmã Maria Sampaio é conhecida por sua, digamos, pouca coordenação motora. Quase uma paralítica cerebral. Já vi criancinhas melhores.
Carnaval dos anos 70, Praça Castro Alves ( sim, jovens, o babado acontecia lá). Pode parecer pouco provável mas eu e Maria bebíamos todas, nos bons tempos. No sábado, exageramos. Eu, de minha parte, posso contar a extravagância: tomei um porre de loló na carçola de uma transeunte da praça. Ainda bem que aquele troço, o maná dos deuses, era também desinfetante. Pedi e a moça tirou a calçola em plena barraca e alí mesmo encharquei a dita e a moringa! Maria, ao lado, nada via e nem podia, ocupada que estava em encher a própria cara. Coisa rara, embebedou feio. Apesar do tumulto, sempre aparecem os ensinamentos:
-"Levanta a cabeça!"
-"passa gelo nos pulsos!" - como pode alguem pensar que isto resolve? só bêbados.
-"mete o dedo na garganta e bota pra fora o excesso!"
Desta ela gostou e aí, fudeu! deu-se o embate entre a mulher e a bêbada, entre a bêbada e a paralítica cerebral. Fatal. Sentada num tamborete, alguem segurando a cabeça pra não vomitar nos peitos, e com o dedo em riste, virou na direção onde ela imaginou estar aboca aberta e...Poft! enfiou o dedo no olho, e caiu pra trás já gemendo. Nocaute. Carregamos para o QG, morta.
No dia seguinte, domingo, acordamos Dr. Humberto Castro Lima que gentilmente abriu o Hospital de Olhos do Canela para consertar o estrago que a unha fez: Maria havia arrancado um pedaço da córnea, às gargalhadas. Fim de carnaval, para todos. Daquele, bem entendido.
O olho? taí, bem verde, bem lindo, pra confirmar a estória.
foto de luciano? arquivo de maria sampaio