
Me acostumei com o cumprimento do homem na beira da estrada. Todo santo dia, na ida e na vinda, em Cajaíba, sentado numa cadeira branca de plástico levanta a mão e sorri: bom dia, boa tarde. Chove, sinto sua falta. Quando me aproximo, acendo os faróis e buzino loucamente, e ele só falta se jogar. Criamos essa amizade. Não sabemos os nomes. Uma carona me disse que o homem do aceno é portador de deficiência mental e que o seu grande prazer é demonstrar que conhece todos os motoristas que passam por ele. Mesmo sabendo disso, continuo achando que aquela manifestação toda é só pra mim.
Duas semanas que não o vejo. Nem está chovendo na hora que passo no ponto do amigo; às vezes vejo alguma pessoa na porta da casa que imagino ser dele, mas não tive coragem de parar e perguntar sobre a ausência. Ando com medo de certas respostas.
6 comentários:
Pensei que era somente eu que achava aquele senhor em Cajaíba uma figuraça, Bernardo... Sempre achei o máximo a alegria dele em cumprimentar tudo que é motorista. Seus posts sobre a região são muito bons e mostram que, apesar de tudo, nossas terras ainda tem muitos locais e figuras interessantes para observar e refletir. Um abraço!!!
Hoje passando carro na rua um senhor andando na rua, visivelmente tendo alguma deficiência mental, me acenou com um sorriso lindo, fazendo um legal muito contente. Eu retribui e ganhei o dia. Chego aqui e vejo este post. Será que o teu amigo não foi este que me encantou? Quem sabe...
Deficientes mentais que acenam não são tão deficientes quanto os sãos que matam.
Já passei por algo parecido e fui atrás da resposta. Cadê aquele tal que ficava aqui etc etc? A resposta é aquela mesma que vc pensou e teme ouvir.
As vezes um texto diz algo, um pedacinho, um verso, uma palavra, uma ilha, algo que traduz nosso interior:
Pra mim, esta sua frase é minha parcial tradução:
Ando com medo de ceras respostas.
Seus textos pra mim são crônicas-líricas. Se é que esse gêneroe existe!
"Ando com medo de certas respostas." Essa frase traduziu o interior de Eliana e o meu também. Estou passando por um momento muito bom, mas temendo ouvir certa resposta, não exatamente a que você se referiu, porém, sinto como se este post tivesse sido escrito para mim. Adoro quando conseguem expressar o que eu não consigo. Você escreve bem demais, Bernardo. Um grande abraço.
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