segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Reveion



Depois do Natal, Reveion, bobagem maior que a outra. Aliás, dou um pelo outro e não quero volta. Ano Novo o que, cara-pálida? O que fazer com o dos chineses ou o dos judeus? Quem me garante que tem troca de ano mermo? e não é só apelo comercial não, é histeria coletiva. Cada ano, mais um milhão se acrescenta à praia de Copacabana; quero ver daqui a dez anos ( quero mermo!) como vai caber doze ou quinze milhões esticando o pescocinho pra riba mode ver os foguetes papocando. E todo mundo de branco; nem eu que sou médico, uso. E o ano é de quem mesmo? oxóssi? oxalá? nunca ouvi dizer que Nanã reinou num ano, é sempre um dos "quatro grandes".


Tô fora definitivamente desses rituais que as pessoas repetem por inércia. Por isso não canto parabéns pra você, só pra não ouvir a segunda parte. Ficar em casa. Não dá nem pra ver TV: tem o Faustão e "a primeira" criancinha a nascer no ano e as indefectíveis "previsões" que todo ano eu juro que vou guardar pra desmascarar os magos e depois vejo que não vale a pena. Bom é dormir e acordar depois que tudo isso já é passado, e o ano, nem mais tão novo assim. Talvez eu é que esteja mais chato do que todo o resto do mundo, não me levem muito a sério. Agora, querem me dar razão? quem aguenta ouvir, no dia primeiro, que " a gente não se vê há um ano?"




foto reveion em salvador: a tarde.com

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Natal



Não há mais sentido em gostar de Natal quando já não somos mais criança. Eu não gosto. Quando "descobri" Papai Noel ( o trauma foi contado aqui), deixei de gostar do Natal. Passei uma fase em que não gostar era pouco, detestava e me recusava a participar de qualquer evento que tivesse vermelho e verde, Noel, jingle bells, neve de isopor, Simone cantando "porque é Natal" até mesmo os votos me esquivava de dar ou receber. Árvore, nem pensar. E as árvores "diferentes"? as peladas arranjadas na rua, toda coberta de algodãozinho simulando as neves do lado de lá do Equador, com bolas somente de uma cor? os presépios "regionalistas" com pedra, pau e bode na beira de um açude? já vi Rei Mago com roupa de couro de vaqueiro. Definitivamente, deixem o Natal só para as crianças.


Hoje estou mais tolerante. Já não detesto mais. Ainda não gosto, mas botei umas bolas coloridas com uns penduricalhos prateados ao lado do Mensageiro do Vento, no pé de canela da porta de casa. Ainda não senti firmeza em arrodear o tronco com luzinhas piscantes. O que mudou? Ah, já sei: o que foi permitido de enfeite e a resistência em cantar Noite Feliz tem um só nome e motivo: Iara. Só não me visto de Papai Noel porque minha neta vai passar o Natal longe de mim...




desenho: miklas29.wordpress.com

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Aquele olhar


Estudante ainda, já garantia algum fazendo audiometria no consultório de meu cunhado na Rua Rui Barbosa. Uma tarde, do meio-fio do passeio da loja Adamastor, esperei os carros darem uma trégua quando o transito fez parar na minha frente um Opala preto com motorista e um velho sentado no banco de trás. O velho ficou a três palmos de mim, se muito. Mãos cruzadas sobre o colo, levantou o rosto e me olhou. Devia ter uns oitenta, com bolsas enormes sob os olhos. Deve ter sido por intermináveis dez segundos aquele olhar penetrante e desconcertante, até o velho abrir um sorriso tão disfarçado que posso apenas tê-lo imaginado, mas foi um olhar de que me lembro até hoje. A face do velho era carregada de uma tranquilidade infinita. Um olhar de mormaço, de olhos opacos de velho, mas vivo como se tivesse vinte anos. Fiquei inquieto; na hora pensei que se tratava de um conhecido mas nos próximos minutos e horas, não conseguia me lembrar de quem se tratava. Assim fiquei a tarde toda. Em casa, comentei com meu pai que me disse ter passado por experiência idêntica.
" -Há muitos anos atrás, no Rio, fui a um comício de candidatos a Presidência. Fiquei próximo ao palanque, e de lá um homem me lançou um olhar firme e terno. Perguntei ao vizinho quem era aquele homem". Alguem respondeu:
" - Aquele é Luis Carlos Prestes!"
Fiquei abestado até à noite quando o noticiário da TV me fez cair a ficha. Naquela manhã havia chegado à Salvador, " o Cavaleiro da Esperança" para participar de um evento qualquer. Na TV, vi o Opala preto e dele saltava o homem velho que a multidão esperava. E eu, de lá, da esquina do Adamastor, fiquei com a lembrança daquele olhar.
foto da web, de luis carlos prestes. autor não identificado.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Maracás


Voltei a Maracás depois de 26 anos que de lá saí. Não fui fazer uma volta ao passado, apenas uma visita aos muitos amigos que lá deixei. E uma afilhada, Maíra, nascida em minhas mãos e batizada assim por causa da outra Maíra, a minha. Mas o passado voltou fortíssimo. Todo mundo me recebeu com um ...
"como está gordo!",ou
"cadê Morena?"
"João Paulo ainda é loirinho?"
A casa que construí, fui convidado pelo proprietário a rever; me emocionei de tremer as pernas. O Posto do Funrural onde fazia partos com Detinha que não mais está conosco, a grande falta que me fez a visita. Mas lá estavam todos: Dolores, Rosilda ( teve de sair correndo pro casamento de sua filha Luana, assim chamada também por causa da minha), Zé, Rosilva, Diva, Maribete, Zelina e meu anjo-da-guarda, o compadre Lucas. Todos ainda funcionários da Saúde, fazendo o que fazíamos lá atrás no tempo. Belíssimos profissionais, com quem tenho tanto orgulho de ter trabalhado.
Gostoso dejà vu. Só espero não demorar mais 26 anos para voltar.
Ah! senti falta do frio, disseram que não há mais. Acreditam agora no aquecimento do planeta? depois dessa eu não tenho mais dúvida.
eu e maíra, a afilhada; a cerveja não me deixa lembrar que fez a foto, em 12.11.09

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Eduardo, 2 anos.




Ainda choro como no dia de sua morte. Hoje acordei chorando, me lembrando de meu irmão. Chorei na viagem à Valença, onde o mataram. Choro agora, de quase não conseguir escrever. É um choro de tristeza. Eduardo hoje faria 58 anos e morreu com 56. Era mais velho e morreu mais moço do que eu. Estou mais velho do que ele e isso fere um principio natural, não deveria acontecer. Ninguem da familia se falou hoje. Nenhum telefonema, é um silêncio terrível. E não penso nele somente hoje; nas datas de nascimento e morte, apenas a dor se torna insuportável. Nos outros dias, ah... nos outros dias, sossego minha dor com as lembranças boas que carrego comigo.
eu e eduardo, com as mãos no bolso. foto de meu pai, carnaval de 1959?

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Cores Nomes


Se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava ninguem mexer em nada! Tinha de ficar assim, o flanboian explodindo nessa cor que ninguem sabe dizer o nome. Pra mim é brique. Minha mãe falava de umas cores estranhas, fúcsia, brique, esta pra mim é brique. Todo dia no meu trajeto pra Valença passo sob esta maravilha que é como por-do-sol: todo dia é diferente. Pena que em breve as flores briques vão-se embora. Mas depois vem as eritrinas, as acácias, as buganvílias ( aqui em casa tem fúcsia e brique) e eu cada dia mais curtindo morar num lugar como esse que me permite ver o que estou mostrando pra vocês.
Um beijo brique.
Um abraço fúcsia.
foto de bernardo da ba-001, valença, em 10.12.09

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Atlas


Ricife, bairro de Boa Viagem, Rua Padre Caradebuceta ( favor ler postagem anterior). Toda hora que saía do prédio em que estava hospedado nesse endereço, dava de cara com a escultura mostrada na foto. É uma angústia que me dá!... Nem questiono a arte em si mas a realidade que mostra!... Fiquei olhando, olhando, tentando saber o porque da angústia. É porque o cara é careca? é pelo peso do trambolho? são as mãos agarradas, crispadas de dor? é porque o bagulhão todo está bem em cima dos ovos? acho que é tudo isso e mais a idéia de que ele vai ficar ali, naquela situação, para todo o sempre!
Não sei se moraria num prédio com uma escultura dessa bem na porta da frente. Mesmo abrindo mão de morar num endereço tão simpático.


foto de bernardo, em 29.11.09. recife.

xeudizer:

anotações livres, leves, soltas