quarta-feira, 24 de março de 2010

Interior


Como viver numa cidade do interior que não tem uma praia, um rio pra se tomar banho, descer de canoa, uma cachoeira? Melhor ir pra uma cidade grande. Fui a uma cidade assim no domingo e nem um pé de jaca eu vi, que desse pros meninos subirem nela. Passarinho, acabaram com eles: nem uma pena de canário, papacapim, curió, muito menos o berro da araponga, o som do interior. Deusmelivre! Sou de uma cidade que tem tudo aquilo que descrevi que presta na vida; tem sino da igreja tocando na hora certa. A Voz da Cidade, que melhorou e passou de altofalante pra caixa de som, mandando recados pra cidade toda, fazendo papel de efe-eme. Chove todo dia mas é chuva que não alaga as ruas, tem é mato pra molhar. Tem coisa ruim: a pista passa pelo coração, com o asfalto alterando o cheiro do mato. Sempre gostei de morar no interior. Vim em busca de paz e silêncio. Agora me vejo às voltas com as doenças que vieram das cidades grandes, como aquelas levadas pelos indianistas pra dizimar os que viviam na quietude do campo. Que pena. Meu interior está (re)virando exterior. Tá mudando o cheiro, a cor, o som. Tem atropelo, assassinato e corrupção de gente grande. Deusmelivre. Pra onde eu vou agora?
nilo peçanha. foto de tassia novaes.

13 comentários:

Anônimo disse...

Americana!

Janaina Amado disse...

Ah, Bernardo, que tal uma cidade média? Nem tão pequenina, nem tão grande quanto Salvador... com mato, passarinho, paz, uma ciade assim, digamos...
Maceió!!!

Gerana Damulakis disse...

Pra Pasárgada! Como Manuel queria.

Moniz Fiappo disse...

Pois é Bernardo, todo dia me pergunto prá onde vou agora. Moro em Salvador, mas um pouco longe do centro, com a praia pertinho (que dela não me separo). Pois tudo de ruim agora aqui tem: assaltos, engarrafamentos, buracos, etc. Pra onde vamos todos nós?

Meninha disse...

Não saio de Ituberá pra lugar nenhum...

aeronauta disse...

Que delícia, Bernardo, ler o que você escreve: tem alma, humor, sensação de gente e rio passando.

Edu O. disse...

Morro de saudade do meu interior que nunca mais será aquele.

- Luli Facciolla - disse...

Vai pra Mata do Sossego! Lá, além do nome sugestivo, tem gente que escreve coisas bacanas! hehehehe

Beijo

Anônimo disse...

Você sabe, eu e meu compadre Luciano nos dizemos seres asfálticos. Esta minha morada é tudibom: barulho de buzu lá embaixo, menino gritando na escolinha em frente, bizinaço nas horas de pique (7:30; 12:30; 18 às quase 20). Sentada na varanda, paisagem urbana de edifícios, shopiinsg, centros médicos, hotéis. De madrugada... o povo sai bêbado da boate às gargalhadasara o nada!

Muadiê Maria disse...

"e agora, José?
José, para onde?"

Lidi disse...

Poxa, Bernardo, também me pergunto isso: "Pra onde vou agora?" Beijo.

Nilson disse...

Pra Brumado não dá: já tem todas essas mazelas tb. Talvez na Chapada: Igatu???

Orlando Assis disse...

Pasárgada[2].

xeudizer:

anotações livres, leves, soltas