Vez em quando vô Chimbo passava uns dias na fazenda conosco. Da ultima vez eu já dirigia e fui seu motorista. Viagem divertidíssima. Vô Chimbo brandia seu martelo iconoclasta em todas as direções, esculhambando todo mundo:
-" Fulano, vô?"
-" Canalha!"
-" E Sicrano?"
-" Corno! Corníssimo!"
-" E Beltrano?"
-" Aquele, além de canalha, é um energúmeno. Um biltre!
E seguia a viagem. Todo lugarejo que via, por menor que fosse, vô Chimbo queria saber o nome.
-" Tem nome não, meu avô."
-"Como não?! tem que ter! todo lugar tem um nome! Diga que não sabe". Pra não aporrinhar o velho passei a inventar nome pra todo canto. Uma solitária Igreja: "Igreja nova"; um povoado de duas casinhas: "Duas torres"; Uma fazenda: "Santo Inácio", e por aí fui a estrada toda, desde a Bahia até Nilo. Tome-lhe imaginação. Ficou conosco uma semana.
Na volta, vô Chimbo ia quietinho no banco ao meu lado. Espichava a cabecinha pra espiar por cima do painel. Vez em quando ele apontava com o polegar pela janela, e sem olhar, ia dizendo:
-"Santo Inácio"
-"Duas Torres"
-"Igreja Nova"
-"Mata escura"...
Eu não tinha a menor idéia do que ele estava dizendo...
foto: eu e vô chimbo. cedida por maria sampaio.
8 comentários:
Ah, eu curto muito este avô que você divide com Maria!
pôxa, que viagem linda...
O véi Chimbo não era mole. Preciso voltar a escrever sobre ele, estou à procura de uma foto. Sei que tenho. Está tipo tem mas acabou.
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A palavra abaixo é merie, meu avô me chamava méria
Adorei...
De vez em quando tenho vontade de responder qualquer coisa inventada também.
Essa foi ótima!
bjs
Que figura esse seu avô. Lembrei do meu que contava vantagem sobre a própria saúde. Dizia que ia morrer sem nunca médico ter tocado nele. Que uma vez ele mesmo tirou com um canivete um caroço enorme no braço na raça e depois jogou cânfora. Sarou em três dias.
tio Chimbo e suas hitórias, adoro! ele é uma inspiracao: o único e verdadeiro anarquista da Bahia!
tive um avô parecido. só que para ele todos eram crrrretinos,idiotas, salames, imbecciles, pazzos... rss
ôh saudade.
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