Aeronauta está doente. Não seja a gripe suína e, se for, não se assuste: ano passado morreu, no Brasil, 4.500 pessoas de gripe comum e ninguem fala disso. Escalda-pé, um suadouro, chá de pitanga e paciência. Li seu texto em que fala dos remédios da infancia e me deu vontade de também falar deles, dos remédios da minha infancia.
Aqui em Nilo, com toda a umidade desta área, sobrava Tuberculose. Minha mãe tinha pavor da tísica por ter matado parte de minha familia no inicio do século passado. Como controlar crianças? O jeito era dar remédio preventivo. Todo dia de manhã, descíamos ladeira abaixo, copo na mão para aparar o leite ordenhado na hora. Sinto agora o cheiro daquele leite misturado com o cheiro de bosta do curral. Dois terços leite, um terço espuma. Ladeira acima, em casa, D. Florentina já havia espremido mastruz no pano de prato. Leite verde, cheiro forte, chave apertada na mão pra não devolver em vômito, nariz tapado e...pronto! Arrôto de mastruz até a tarde, na hora do Xarope de Jurubeba feito em casa.
-"Flora, traga a chave que este menino tá com cara que vai amofinar!"
Além destes diários, havia os ocasionais. Maravilha Curativado de Dr Humphreys para qualquer porrada; Lumbrigol, para as próprias, Óleo de Fígado de Bacalhau (Emulsão de Scott), e uma vez ao ano, Óleo de Rícino, que exigia duas chaves na mão. Quando pintava uma gripe, " Tuberculose é gripe mal curada!", injeção de Gadusan (1). Adorava o hálito de eucalipto que ficava por dois dias. Era só tristeza? não. A farmacopéia tinha seus encantos: Biotônico Fontoura que a gente bebia escondido e além da conta ( dava barato!!) e quando os irmão tinham asma, rolava um cigarrinho que meu pai ensinava a tragar e que, piedoso, estendia para mim, o pidão. Hoje prefiro acreditar que se tratava de cannabis e que fui uma criança que fumou maconha autorizada pelo pai. Não tenho do que me queixar.
(1) Meu pai tinha uma técnica de aplicar injeção. A seringa era fervida, junto com as agulhas, no próprio estojo, queimado em álcool. Deixava esfriar, balançando no ar. Espetava a agulha - só a agulha!- na bunda da gente e ficava observando subir sangue. Se não, enroscava a seringa no bocal da agulha e ...pronto, Gadusan pra dentro.
E era meu pai tambem o responsável pela expressão dos tumores até arrancar o carnegão.
gravura in imageshack
18 comentários:
lá em casa tínhamos menos de tais remédios. Só quando vó Belinha fazia a produção às escondidas - e ela era mais dos chás. Naquele tempo Dr. Mirabeau ainda acreditava em ALTÍSSIMA medicina e encarava os tais como coisa de Seleções de Readear´s Digest e almanaque capivarol. Ê figura!
E minha mãe deve ter aprendido a dar injeção junto com tio Carmilton.
uma pergunta logo de cara: as duas chaves nas maos era para que???
biotonico fontoura, adorava por conta de jeca tatu, que achava o máximo.
eu era vicado em calcigenol, tomava no gargalo.
miro:
se usava segurar uma chave na mão com força para evitar o vômito. diziam que era batata; eu jamais deixei de vomitar mesmo com DUAS chaves agarradas!!!
maria:
tia norma pode ter aprendido junto com meu pai, só havia uma diferença: sempre que acabava a aplicação, ela enfiava o algodão com álcool no meio do rabo da gente e dava uma sonora gargalhada!!
Adorei o post. Eu odiava remédio. O pior era o óleo de figado de bacalhau.Não, tinha um pior: injeção! Dada pelo seu Petrônio da farmácia.
Também adorei o post. Ainda bem que não cheguei a alcançar o óleo de rícino. Agora a coisa da chave na mão é lembrança forte. Era uma chave grandona, protetora.
lembrei também do algodão... antes, nem era álcool, era éter!
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viste o blog de Miro? que tale, DOIDIS?
A chave é clássica. E eu, pequena e magra, fui chamada de "lerda" pela professora da alfabetização. O conselho para meus pais foi que eles me dessem Emulsão de Scott e Biotônico. Tenho pavor desta parte da minha infância!(rs)
Bjs
A palavra hoje é...
... pingoo!
Pingoo - variação de pingo, tal como pronunciada pelos chineses que primeiro entraram em contato com os portugueses, na região de Macau.
Voltei à infância. Lá em casa era tal e qual. Eu odiava o tal do óleo de rícino e nunca tomei sem botar prá fora, mesmo segurando a chave numa mão e um limão ou laranja na outra.
Do Biotônico eu gostava! :)
Abraço, Bernardo.
Desses, só tomei biotônico. Gostosin!
Estou aqui por uma razão, pedir para você deixar no meu blog uma mensagem contra a VIOLÊNCIA no TRÂNSITO, no post " JUSTIÇA".
Sei que o irresponsável e os seus advogados procuram no Google notícias que tenham o nome do autor do crime, essa seria uma maneira de comunicarmos com ele e mostrarmos o nosso repúdio.A violência no trânsito mata mais do que as guerras.
Estou lutando duas vezes, uma contra o poder econômico do criminoso e outra contra o desrespeito as nossas leis.
Conto com a tua colaboração.
Gemária Sampaio
Ai Bernardo, este post me revirou o "istômbigo"!! tenho trauma de óleo de rícino, por causa dele não podia ver sopa de abóbora que...
peraí q volto.
Emulsão de Scott- esse aí minha vó não dispensava nós, era pior que "cascudo"
Oh, Bernardo...assim tu me chama de velho. Vi um filme de minha infância passar agora lendo essa belíssima memória...sim, memória - e hoje agradeço a meus pais lá na roça por tamanha sabedoria famacêutica. "Suspende a boca e aperta o nariz, menin!" Lá vinha aquele remédio oleoso e fedorento, cujo frasco trazia um peixe maior que o homem. Ainda vou escrever sobre aquela época...nada melhor que saber que um doutor também passou por isso. Obrigado pelo texto! E perdão pela ausência...o mestrado me mata aqui em Sampa!
"Bi-o-tô-ni-co fontoura"...oh tempo bãumm!
Nilson
Nasci em 50 e minha mãe quando a gente ficava mais magro aplicava gadusan dia sim dia não. Com este nome parece remédio para gado não é mesmo? Mas tomei muita espatada de gadusan para minha mãe não ter filho magro que era a maior vergonha. Ser gordo não era problema algum mas sinal de fartura em casa.
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