Não pretendia mais voltar ao assunto mas, provocado por Aeronauta - Agora quero a história da Mula Sem Cabeça, pensei: por que não? O maior problema é a fidelidade à verdade e a vedade é que eu jamais vi a Mula Sem Cabeça. Mas logo me lembrei que minha comadre Florentina me contou, há anos, de seu encontro com a besta. Fui ontem à casa de Flora.
-" veja, meu compadre,estou tremendo até hoje!"
Muito a contragosto, me contou que nunca mais se bateu com a Sem-nome. Mas sabe quem ela é porque Mula Sem Cabeça é mulher de padre e todo mundo sabe -mas não comenta- que Dona V. foi mulher do frei F. por todo o tempo que ele morou aqui. Depois que ele foi embora, ela sumiu, a mula.
Acreditem, fui procurar minha amiga V. Foi uma longa e difícil conversa mas, evocando o segredo médico, consegui esta declaração:
-" É verdade. Na terceira noite depois de me deitar com F. eu já comecei a cumprir minha sina. Mas há muita história e mentira a respeito da...ela não é sem cabeça; tem cabeça sim mas o fogo que lhe sai das ventas - e quando está gripada piora, é um fogaréu que chega esconder a cabeça". Falou me mostrando duas pequenas manchas na entrada das narinas. "Queimadura! Quando chegava em casa, as pernas doiam de tanto correr por sete povoados...isso toda noite de sexta e toda lua cheia! Nem mula aguenta. Falam que ela come criança...mentira! ela não faz mal a ninguem. Só quem sofre é ela. A maldição já lhe é demais. Os olhares na rua...Ah, meu amigo, é um fardo pesado demais...
-"Por que você não conseguiu se livrar deste fadário?"
-" O padre-amante teria de me amaldiçoar sete vezes antes da missa. E ele me dizia que me amava por demais da conta a ponto de fazer uma sandice dessa. Peferia me ver uma mula a me amaldiçoar. Ou alguem tem de tirar o cabresto da mula. A unica oportunidade que tive foi há muitos anos atrás, quando me bati com Florentina e achei que ela era entendida e ia me ajudar. Correu mais do que eu."
Assim deixei minha velha amiga. Nem desconfiava porque ela é sempre tão abatida, magra, amarela, com hidropisia...
ilustração em www.cactus.com.br
11 comentários:
Falta ainda a do Saci, a do Curupira, a da Mãe D'água, do Boitatá, do Boto cor-de-rosa, do romãozinho, da mulher do algodão, da loira do cemitério...
Fantástico, genial, formidável, o ouro da babí. Tudibom.
Mas não esqueça de nosso primo sacy
Muito bom, escritor-doutor! Missão bem-cumprida!
Desse jeito tás virando um Câmara Cascudo! Tô gostando desses contos de 'livusia'. Quero mais!!!
Ôi Bernardo, você conhece aquela lenda da CAVALA! CAVALA! Ouvia na roça quando era criança, e agora não lembro bem como era mesmo.
Ah, hoje tô em Valenlça participando do Salão Regional no Centro Cultural.Se tiver por aí apareça. Grande abraço
maravilhoso...
Ops, "Maria" do comentário aí em cima soy jo. Desconfio que tava no hotblog-sensação-do-lançamento-dos-livros, cujo domínio é "Mariaenilsonmil" e acessei de lá. Pode ser. Sei lá!!!
Belíssimo blog, prazer encontrá-lo aqui.
vai toma no cuuu
anjobaldio, meu nome é guilherme, minha mãe é do interior de são paulo, mais precisamente, de Álvaro de carvalho, e a história que conheço da cavala, vem daquela região,e é esta:
Uma mulher, que tinhas uma saliência nos dentes, tinha uma filha muito ruim, que brigava com ela e a maltratava muito.
um dia a filha queria ir a uma festa, mas sua mãe não permitiu, então a menina desobedeceu a sua mãe e, ao sair de casa ofendeu sua mãe por causa dos dentes, dizendo que ela parecia uma cavala "égua", e que sua boca parecia uma cancela -de porteira.
sua mãe, tomada pela raiva, rogou uma "maldição" em sua filha dizendo:
- cavala você há de ser!
passados poucos dias, a moça adoeceu muito de repente, e muito de repente morreu.
dados alguns dias de sua morte, sua mãe estava em casa quando ouviu como se sua filha lhe chamasse.
Ao sair no quintal, viu voando sobre a casa, uma "égua" com cabeça de mulher -que seria sua filha- que lhe disse:
_sou eu mãe, a cavala.
então, a moça teria sido condenada, a sobrevoar lugares, -que até onde sei, vai do interior de são paulo, até a Bahia- gritando:
"A CAVALA! A CAVALA!"
cresci ouvindo essa e muitas outras histórias de minha vó (que aliás hoje faz 90 anos, parabéns vó!!!),
minha mãe e meus tios, que moraram em algumas fazendas do interior de são paulo.
Espero ter ajudado, e se estiver interessado em saber mais sobre esta, ou outras histórias das fazendas do interior que conheço, contate-me pelo face book:
mr.henri_sigma@ymail.com
o e-mail é assim mesmo (ymail é da yahoo).
obrigado!
ps.: favor identificar-se ao fazer contato pelo face book.
ps.: 93 anos
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