
Meu amigo, muito amigo, tipo irmão. Todo santo dia, pelo menos um telefonema pra falar bobagem. À noite sempre vinha em casa tomar um café com canela e rolava abobrinha até altas horas. Fabricio tinha uma inteligência aguçada. Super bem humorado, nunca perdia uma piada, com trocadilhos sinceramente engraçados. Louco por política, foi mentor de candidaturas, muitas vitoriosas, da atual safra do Baixo Sul, seu amado Território ( para mim, seu eterno Primeiro Ministro, como o chamava, e ele ria, balançando a pança). No momento, aticulava candidaturas a deputado e estava fazendo misérias, conseguindo apoios antes inimagináveis para seus candidatos. Ficou a meu lado, sempre, sendo o unico a me visitar no mesmo dia em que me mandei da loucura, da aventura que foi minha passagem pela Secretaria de Saude de Camamu. Aliás, foi dele a minha indicação.
Mataram Fabricio anteontem, dia 9, em Valença, no meio da tarde, no meio da rua. Cinco tiros enquanto comprava pão pra Vitória e Pedrinho. Em tão pouco tempo, perco dois irmãos assassinados na mesma cidade.
Filho de Ogun, da Casa de Juquinha, sua mãe de santo, a quem ouvia até pra tossir. Professava sua religião com uma fé inabalável. Vivia repetindo que era inatingível por ter Ogun protegendo sua cabeça. Morreu vestindo uma camisa com um desenho de Iemanjá. Onde estava Ogun quando a primeira bala o atingiu logo na cabeça? Outra das cinco balas atravessou Iemanjá, que também tombou morta. Morreram os três. Morremos todos um pouco. Há um silêncio incômodo no Baixo Sul. Tambores mudos. Só seu brado de guerra que usava diariamente ainda bate no meu ouvido:
" A VERDADE LIBERTA!!!"