Rio das Almas, fim de tarde. Sentei na beira do rio pra lembrar de minha infância em Nilo. No rio que aqui aparece numa tranquilidade de dar medo, muita gente morreu afogada. Tentavam por a culpa nele, o rio, maldito, traiçoeiro, matador de meninos. Quem olha bem a foto percebe que ele não tem culpa nenhuma. Ele está ali antes de qualquer menino, subindo e descendo com a maré, tranquilo, se entregando ao mar lá adiante. Bem por causa disso tanta gente morria, por se jogar em sua tranquilidade, esquecia que os pés não alcançavam o fundo, aí a correnteza leva. Leva pro fundo, prende nos galhos e devolve dois dias depois pra familia; quando devolve.
Toda esta introdução pra dizer que, quando criança, tinha liberdade pra tudo em Nilo, com as bênçãos de meu pai, menos uma coisa: era absolutamente proibido entrar no Rio de Alma. Os amigos se esbaldavam nos banhos depois de um guerrô, uma picula bem corrida. Eu e meus irmãos ficávamos olhando mas não passava em nossas cabeças desobedecer a ordem, mesmo na ausência do velho. Além do mais, ele tinha olheiros por todo lado, mas nem carecia.
Quarenta anos depois, Lavagem do Bonfim de Nilo, já casado e cheio de filhos, numa cachaça de arrepiar, todos corremos pro rio que estava como nesta foto: lindo, cheio, morno. Foram caindo um a um. Na minha vez, empaquei. Até hoje não sei o gosto daquelas águas. Continuo sentado em sua margem espiando, espiando...
foto de bernardo, em uma tarde de 2009.
15 comentários:
Não entre, jamais. O melhor banho vai ser sempre o desejado(mas minha estragada memória lembra de um post em que você disse ter parado a caminhonete e mergulhado neste mesmo rio proibido. Ou era outro?)
Talvez vc tenha mergulhado mais do que os outros. Você construiu o texto de forma tão linda! Que foto!
Eu também não me arriscaria, em certas proibições paternas há quase profecias nas entrelinhas. Mais vale admirar. A foto é linda.
Por mim, vc reformaria sua casinha na roça e morava lá...
perto de suas lembranças na infancia e daquilo tudo que vc mais gosta: a natureza! xD
Vixe ! Pois eu tomei banho uma vez, na época da sua campanha com uma turma de amigos numa tarde quente qualquer !! Deu uma febre no outro dia...
Não tome banho mesmo não. Os pais sabem das coisas. Linda foto e lindíssimo texto! Adorei.
Obrigada pela visita ao meu blog.
Um abraço, Bernardo.
A foto é espetacular. O texto é de se mergulhar.
Tio querido! No rio nem sei se mergulho, mas nas Notícias do Interior eu tenho dado mergulhos ótimos! Ah, e quanto ao passarinho, (como diz o povo da roça) é "menino-homem", ainda sem nome, coitado, tarefa difícil demais pra essa mãe de primeira viagem.
Beijo grande e abraço apertado!
A foto é algo misterioso, profundo. A sua história tb: e ainda o nome do rio. Eu, você, não mergulhava mesmo não!
Gosto demais de sua escrita: aconchegante como uma prosa na cozinha. Rio das almas: lindo nome, foto maravilhosa.
Acontece o mesmo comigo e o rio Cubatão, em minha cidade natal, Joinville. Minha mãe sempre a avisar: não entre. E ele lá, me convidando.
Eu também não entraria, ainda mais com esse nome: Rio das Almas...
A foto é linda e as lembranças contadas desse seu jeito simples e bonito não me deixam ficar sem bater ponto aqui.
Beijos
linda imagem e belo texto
Bernardo, que imagem linda!!! O lugar me pareceu o paraíso. Claro que você deve mergulhar, quem não quer mergulhar no paraíso? Grande desejo! :-)
PS - Quando Maria voltar de viagem, bóra combinar uma vinda de vocês todos aqui? Começo do próximo ano é bom pra vocês? (Porque neste ano eu ainda vou pra... Austrália!)
É lindo DEMAIS. Ou melhor, são lindos demais: o texto, a foto e você.
Postar um comentário