Sentada na escorregadia cadeira
de plástico do Ferry das 18 h, retornando da Ilha depois do feriadão, olhando
em volta, Nalva, pela primeira vez
pensou na sua vida. “Meudeus, o que estou fazendo aqui?”. Na cadeira à
sua direita, Toinho, o maridão há doze anos, jazia semimorto, inclinado, cabeça
na janela fechada, boca aberta, camiseta de meia subindo e descendo seguindo o
ronco. Pernas esticadas e cruzadas, cheio de areia entre os dedos do pé. “Pelo
menos o infeliz fechou a braguilha desta vez”. Bermuda folgada e a meio-pau, a sunga verde aparecendo. A mão direita sustentava
o queixo e a esquerda agarrava a chave do Chevette. Duas cadeiras à esquerda,
Grace, a filha caçula tentava manter o poodle da família sob controle na base
do cafuné, enquanto ouvia um arrocha no celular. “Tão linda minha filha com
esse cabelo enroladinho preso num rabo-de-cavalo e essa mecha lisinha agarrada na testa...”. A cadeira entre as duas guardava as mais importantes peças
daquelas viagens de fim de semana: o ventilador e o travesseiro. No deque de
trás do navio, um grupo de pagodeiros fazia de tudo pra enlouquecer a todos.
Foi quando Nalva se deu conta: o filho, Juninho, disse que nunca mais iria
enfrentar uma viagem à Ilha; aquilo não era vida, ele não suportava mais. Preferia morrer a viver aquilo de novo, por isso passou a frequentar a
Igreja onde passava os domingos e feriados entre os iguais em Cristo. Depois de
pensar nisso tudo, Nalva concluiu que o melhor pra sua vida seria dar um basta
sábado, 23 de novembro de 2013
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Um comentário:
Prezado, vi seu blog através de Luciano Fraga...entrei, li e gostei, mas não consigo ver postagens recentes, "a travessia de Nalva" foi o ultimo texto publicado? Abraço!
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