Tenho três filhos brancos e uma neguinha: Maíra. Concebida em Sumpaulo, quem lhe sugeriu o nome foi Darcy Ribeiro, da prateleira da biblioteca de meus primos Lucinha e Zé Miguel. Nasceu pequititita, cresceu calorenta e invocada. Dormia nos batentes de mármore das portas, nas baixas temperaturas de Maracás, sua cidade primeira. Cresceu me dando testa. Foi a unica a tomar uma palmada, que me dói até os dias de hoje. Quando tinha febre, batia 40 e não baixava a não ser quando ela queria. Foi a primeira dos filhos a botar cigarro nos beiços, a tomar umas biritas, a viajar sozinha. Jogava capoeira de Angola. Cada dia mais parecida com a mãe, como num espelho, mas por fora, o pai. Hippie, riponga, fez vários vestibulares, passou em todos, foi pra Biologia.
-"Vivo pobre mas não me dobro"!
Retada! Virada no estopô! Não passou do metro e meio; de ousadia! Nariz pra cima, nunca leva desafora sem resposta do mesmo tamanho. Quando alguem lhe desafia e põe a mãe no meio, roda a baiana e diz:
-"Eu sou neguinha!".
Um dia me disse que estava grávida: virou Mãe de Iara. O resto, vocês já sabem.
foto de maira de eduardo.