Entrar de penetra em festa de 15 anos era quase uma profissão para os frequentadores da década de 60. Os principais acontecimentos debutantes se alternavam entre o Hotel da Bahia, a Cabana da Barra e o CIREX ( este EX era de Exército ). Me desculpem os mais jovens mas nem vou contar onde ficavam estes salões de festas, mas era tudo de milico, como tudo neste país nos anos de chumbo. Entrar de penetra era uma instituição, faltando apenas o regulamento. O uso de paletó era obrigatório, portanto, penetra que se prezava, tinha paletó descansando no armário. Gravata fininha. Terno "caneta parker" era quase sempre proibido por sugerir um improviso de penetra-de-meia-tigela. Circulavam estórias formidáveis de penetras bem sucedidas e casos escabrosos de fracassos, uns trágicos e outros tantos, cômicos.
Dois casos merecem registros por acontecerem com amigos próximos.
Caso 1: Raul, sempre acompanhado de Mula Gaza, além de conseguir entrar, tinha de garantir a bebida do fim de semana. Era feita uma aposta e ele ganhou com louvor. Cirex, orquestra se acabando no palco, valendo um engradado de cerveja: dançar com a aniversariante. Nunca foi de bom tom dar mala. Ela aceitou e em poucos segundos percebeu um cheiro terrível que vinha do parceiro. Tentou se soltar mas ele a segurava firme para completar os 3 minutos contratados pela aposta: dançar todo cagado. Levou a cerveja. Mula Gaza nem bebeu porque não conseguia parar de rir tres dias depois.
Caso 2: Salão de festas do Hotel da Bahia. A gangue de penetras calculou tudo para roubar o peru. Nº 1: apaga a luz, o nº 2 : próximo do objeto do furto, pega o peru a arremessa a meia distancia para o nº 3: do lado de fora da janela recebe o lançamento e o nº 4: na rua, com o motor do carro ligado. Ao sinal do nº 2 a luz se apagou. Segundos de suspense, um corre-corre e as luzes são acendidas. Lá fora os canalhas atônitos, se olham antes de disparar noite adentro. No salão, bem juntinho à janela, uma senhora empoada, sentadinha e perplexa, sem saber como aquele peru foi parar no seu colo.
Post em homenagem a meu primo Clóvis, piloto porreta e penetra profissional ( o nº 3 do caso acima ), desaparecido há poucos meses num acidente de avião em Maraú. Seu corpo está sepultado no mar.
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foto: clubedelanacion.net
6 comentários:
e um "smoking"? só nos bailes de formatura?
Sabia que Toninho foi penetra dos 15 anos da Macaca e lá começou a namorar nossa prima Delinha? Devem estar perto das bodas de ouro (cá cá cá).
Era difícil penetrar nos de casa... festas de conjunto e tudo.
Bazooka Joe Jazz por exemplo.
Depois da gargalhada, a surpresa. Se for o Clovis que estou pensando, e deve ser, voei com ele algumas vezes por estes céus baixos do interior da Bahia, quando trabahava na Agecom. Era dos mais experientes, boa prosa e cheio de histórias. Marcinha também se lembrava dele e conversamos sobre o acidente.
Esse post me lembrou os filmes de Monicelli, Meus Caros Amigos e Quinteto Irreverente. Inacreditável! Ri muito.
Ha ha ha, ainda tô rindo.
Bernardo, estou quase terminando de ler seu livro, morrendo de rir naquela leitura também. Um pouco mais de paciência, que logo, logo comento com você e Judith, ok?
PS - "Frequentadores da dácada de 60" é ótimo...
ararrarararararararararararararararararararararaarararrarararararararaararraraararaara !!!!
Putaquepariu pai !! Parece que estou vendo a cara de tio Raul !! E da velha com o peru no colo !!
em Sto Amaro tinha um grupo profissional de penetras eram os "le Penetrê". ninguém convidava, mas já sabia que eles apareceriam e acabavam alegrando as festas. Fizeram coisas terríveis também.
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