terça-feira, 15 de julho de 2008

Mutumpiranga

Foto:PDDU - Nilo
Tomei coragem e fui visitar o casarão em que me criei. Minha referencia memorial é esta casa na Fazenda Mutumpiranga, em Nilo Peçanha. Ali chegamos em 1957. De barco, com toda a mudança dentro ( inclusive a caminhonete). No meio do caminho uma calmaria nos deixou à deriva por horas; marinheiros contando estórias de peixe grande; meu pai com febre; dormi na cabine da caminhonete; desembarque perigoso sobre duas pranchas. O casarão. Morcegos. Tudo escuro. Era quase noite? não sei, minhas lembranças de infancia são todas assim, escuras; não é possível que fosse sempre noite...Imagine o tamanho do sobrado para uma criança de quatro anos. A casa do Caquende 235 já era enorme...Pense num paraiso para criança crescer: sem água, sem luz, candeeiro, castiçal, água de moringa, penico, andar descalço, lua no céu ( era toda noite? ), grama pra rolar, árvore pra subir, rio pra tomar banho. Jangada de bananeira, cavalo pra montar; chovia sempre, rolava umas enchentes; a gente cantava" tomara que chova três dias sem parar" aí não tinha escola. Fazenda vendida em 1985. Meu pai moreu, minha mãe morreu, o casarão está desabando. Em ruínas. Minha infancia indo junto...

8 comentários:

Meninha disse...

Mutumpiranga é uma das poucas lembranças que tenho da minha infância. Lendo o que vc escreveu parecia que eu estava junto, pois vivi as mesmas coisas com meus irmãos e primos. Lembro que Kiko montou em um unico cavalo com mais 3 ou 4 amigos, caiu, e mais uma vez, vai minha mãe e meu pai correndo para o médico porque ele quebrou o braço...Lembro também dele descendo uma enorme escada de velocípede... e ...quebrou o braço! Eita infância danada de boa.

Meninha disse...

Nadávamos numa piscina de cimento feita para patos e corríamos picula dentro da casinha de cachorro...correr picula na casinha de cachorro???? Era tão grande para nós, ou pelo menos para mim, que sempre fui pequenininha. Muito obrigada por me fazer reviver tudo isso. Te amo!

Anônimo disse...

Mutumpiranga. Infância. Cabula. Chame-Chame. Caquende. Morro. Carnaval. Vâmo que vâmo. Estamos juntos. Sempre. Agradesçamos a nossos pais.

Mãe de Iara disse...

Puts grila!!!
Adoro lembrar de Mutumpiranga, às poucas lembranças que tenho de meu avô são de lá. Lembro-me de achar que a mesa da casa do MEU avô era a maior do mundo, que a casa do MEU avô era a maior do mundo, tudo, tudo era enoorrrmmeeee. Lembro dele olhando a gente brincar pela janela superior... e do medo que tinha de um besouro cair em mim (até hoje tenho horror!!!). Será que Iara vai achar o mesmo da sua casa pai? Bom pelo menos a mesa ainda é a mesma !!!

bjs

miro paternostro disse...

mutupiranga é um nome muito bonito, a casa linda, me faz lembrar um pouco a casa que que usaram no filme de Isabel Allende 'a casa dos espíritos'. e ainda me fez me lembrar mais ainda, depois que lí sua postagem.
vou lá primo. e trarei as fotos. abrs.

Edu O. disse...

transformaram a casa de meu avô, a casa daquela rua do último comício, numa torre de rapunzel medonha e eu choro com dor nos olhos como o príncipe dessa estória.

Denise Aleluia disse...

Essa fazenda era a nossa alegria pois era a referencia de que estávamos chegando a São Francisco.
Minha mãe era amiga dos donos e meu irmão achou esse blog que a deixou muito contente.Ela disse que varias vezes foi convidada pelos donos a ficar de ferias nessa fazenda e ela disse que ficou um mês lá.Na época ela era professora muito conhecida em Nilo Peçanha. O nome dela é Ines Coutinho Aleluia de São Francisco e nós aqui do Rio de Janeiro.Abraços.

Denise Aleluia disse...

Minha mãe casou-se no Rio em 1966,depois disso ela não voltou a fazenda pois tinha ficado aqui. A história se deu antes dela casar.
Ainda hoje quando passamos aí a gente se emociona pois lembra as nossas ferias. Fiquei triste em saber que o MST se encontra lá. Com a gente aconteceu a mesma situação.Temos uma fazenda que também apesar de não ser tão antiga como a mutumpiranga a casa já caiu e só ficaram as lembranças. Nós fomos crianças felizes porque tivemos uma infancia em total contato com a natureza. Obrigada pela oportunidade de participar da sua história,pois fez parte da nossa também.

xeudizer:

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