Sentada na escorregadia cadeira
de plástico do Ferry das 18 h, retornando da Ilha depois do feriadão, olhando
em volta, Nalva, pela primeira vez
pensou na sua vida. “Meudeus, o que estou fazendo aqui?”. Na cadeira à
sua direita, Toinho, o maridão há doze anos, jazia semimorto, inclinado, cabeça
na janela fechada, boca aberta, camiseta de meia subindo e descendo seguindo o
ronco. Pernas esticadas e cruzadas, cheio de areia entre os dedos do pé. “Pelo
menos o infeliz fechou a braguilha desta vez”. Bermuda folgada e a meio-pau, a sunga verde aparecendo. A mão direita sustentava
o queixo e a esquerda agarrava a chave do Chevette. Duas cadeiras à esquerda,
Grace, a filha caçula tentava manter o poodle da família sob controle na base
do cafuné, enquanto ouvia um arrocha no celular. “Tão linda minha filha com
esse cabelo enroladinho preso num rabo-de-cavalo e essa mecha lisinha agarrada na testa...”. A cadeira entre as duas guardava as mais importantes peças
daquelas viagens de fim de semana: o ventilador e o travesseiro. No deque de
trás do navio, um grupo de pagodeiros fazia de tudo pra enlouquecer a todos.
Foi quando Nalva se deu conta: o filho, Juninho, disse que nunca mais iria
enfrentar uma viagem à Ilha; aquilo não era vida, ele não suportava mais. Preferia morrer a viver aquilo de novo, por isso passou a frequentar a
Igreja onde passava os domingos e feriados entre os iguais em Cristo. Depois de
pensar nisso tudo, Nalva concluiu que o melhor pra sua vida seria dar um basta
sábado, 23 de novembro de 2013
A travessia de Nalva.
terça-feira, 5 de novembro de 2013
Atécubanos.
Escrevi no Face porque foi lá que nasceu o pandemônio. Desde a chegada dos médicos estrangeiros que o povo de lá não fala outra coisa, senão dos demônios dos médicos cubanos. Eu tinha resolvido não me manifestar porque vi que 99% dos meus colegas esbravejavam, se babando, contra a vinda dos médicos de fora, e sempre se referindo aos "cubanos", fossem venezuelanos, portugueses ou argentinos. Vi, portanto, que, por isso, o ódio era dirigido não aos médicos, mas à Dilma, ao PT, a Fidel ou a quem quer que porte uma barba, como a minha. O ódio proclamado no Face é tão irracional, que num instante pararam de falar no assunto, tão logo os médicos estrangeiros começaram a trabalhar na surdina, atendendo populações até agora desassistidas e que, pelos relatos recentes, estão adorando os "cubanos". Morreu o assunto, mas o ódio mudou de lugar, de pessoa, de objeto. E assim será: os médicos trabalhando, o povo sendo melhor assistido, os médicos brasileiros escolhendo os melhores lugares para trabalharem ( quanto mais perto das capitais, melhor) e o Facebook, servindo de palco para os que querem derrubar a Dilma. Simples assim.
Em tempo: voto em Eduardo Campos no primeiro turno; no segundo turno, votarei em algum cubano, talvez...
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