quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Rio das Almas

Rio das Almas, fim de tarde. Sentei na beira do rio pra lembrar de minha infância em Nilo. No rio que aqui aparece numa tranquilidade de dar medo, muita gente morreu afogada. Tentavam por a culpa nele, o rio, maldito, traiçoeiro, matador de meninos. Quem olha bem a foto percebe que ele não tem culpa nenhuma. Ele está ali antes de qualquer menino, subindo e descendo com a maré, tranquilo, se entregando ao mar lá adiante. Bem por causa disso tanta gente morria, por se jogar em sua tranquilidade, esquecia que os pés não alcançavam o fundo, aí a correnteza leva. Leva pro fundo, prende nos galhos e devolve dois dias depois pra familia; quando devolve.
Toda esta introdução pra dizer que, quando criança, tinha liberdade pra tudo em Nilo, com as bênçãos de meu pai, menos uma coisa: era absolutamente proibido entrar no Rio de Alma. Os amigos se esbaldavam nos banhos depois de um guerrô, uma picula bem corrida. Eu e meus irmãos ficávamos olhando mas não passava em nossas cabeças desobedecer a ordem, mesmo na ausência do velho. Além do mais, ele tinha olheiros por todo lado, mas nem carecia.
Quarenta anos depois, Lavagem do Bonfim de Nilo, já casado e cheio de filhos, numa cachaça de arrepiar, todos corremos pro rio que estava como nesta foto: lindo, cheio, morno. Foram caindo um a um. Na minha vez, empaquei. Até hoje não sei o gosto daquelas águas. Continuo sentado em sua margem espiando, espiando...
foto de bernardo, em uma tarde de 2009.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A casa das Frutas.


Trabalho em Valença todos os dias, o dia todo. Ando 90 km pra ir e voltar, daí pensei na possibilidade de morar por lá. Por que não? Descobri, na verdade, que eu queria mesmo era comprar uma casa velha e reformar todinha, coisa que mais gosto na vida, depois de cafuné. Sou um construtor nato e adoro dar esporro em pedreiro, porque eles só querem fazer o que dá na telha lá deles; nossas idéias são sempre extravagantes, exóticas e nunca se encaixam nos padrões arquitetônicos deles.
Pronto. Passei a andar pela cidade, olhando tudo quanto é casa velha que me aparecia na frente, até que me bati com "a casa"! Fica na entrada da cidade, no topo de um morro, no meio de um pasto, totalmente nascente, árvores sombreando, calçamento em torno da casa, dois pavimentos, uma beleza. A placa de "vende-se" me convidou a entrar. Estacionei e o moço que consertava o jardim se dirigiu a mim.
-" O senhor quer comprar a casa?"
-" Me interessei, de repente...com quem trato?"
-"O telefone da placa. Mas o senhor tem certeza de que quer comprar esta casa?"
Comecei a achar que tinha coisa. Malassombrada? Não tinha pinta de que ia desabar. Falta água? é longe da cidade?
-"Por que a pergunta?"
-" Tô vendo que o senhor não é daqui. Isto aqui é o puteiro da cidade. As meninas estão lá em cima."
Me interessei mais ainda e subi. Uma japonesinha, uma magricela e a gerente que fazia chapinha me conduziram ao tour pela casa. Só isso, vou avisando!
A casa é uma horror de mal dividida, cheia de quartinhos, óbvio, e o mais interessante: as pinturas pelas paredes! Mulheres nuas, em posições que não sei como alguem pode achar excitantes, feitas com spray de tinta fosforecente. Nunca vi tanta xoxota acesa na vida. Disseram que o pintor desenhou cada uma delas. Havia uma duzia ou mais de mulheres nuas nas paredes.
Na saída, as meninas curiosas e até certo ponto temerárias com a possibilidade do despejo, perguntaram cruzando os dedos:
-" E aí, vai comprar?"
Acalmei os coraçãozinhos que estavam a ponto de passar pelos batons vermelhos:
-" Gostei muito mas infelizmente não vai dar; minha mulher não vai querer porque, prá comprar, minha unica condição seria deixar as pinturas do jeito que estão".
Fui aplaudido pelas três e pelo jardineiro até lá embaixo, no portão decorado de azulejos.


gravura: quebarato.com

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Cacete Armado IV


NESTE Cacete Armado, eu queria morar para sempre!!!!




foto de barroquinha, nilo peçanha, feita por bernardo em 09/08

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Che Guevara




09 de outubro, data do assassinato de Ernesto Guevara de la Serna.

Para mim, o homem do século XX.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Banho de mar


O Ferry se aproxima do atracadouro e a cena me chama a atenção: sexta-feira, quatro da tarde, o sol já frio, nas pedras dos fundos da Feira de S.Joaquim, três homens* e uma garrafa. Não tem areia, toalha, barraca, mulher, pagodinho, criança, cachorro, nada! Só os três homens e uma garrafa, provavelmente ou certamente de batida de limão. Estão de cuecas, nem aí. Uma camisa em rodilha sobre uma pedra segura a garrafa, o centro da farra. É uma cena improvável mas está lá. O Ferry berra seu apito de chegada. Olho em volta e percebo que ninguém vê a cena que só eu vejo e , claro, me calo como um comparsa dos farristas. É esta a idéia deles: estar invisíveis, tomar sua batidinha, dar uns mergulhos, um caldo no amigo, umas piadas de putaria, tirar o sal lá na barraca e ir pra casa felizes até serem interrogados pelas desconfiadas patroas que não engolem o bafo e, muito menos, as cuecas molhadas. Mas aí já foram felizes.
Me deu vontade de pular do ferry.

* só dois são vistos na foto; o terceiro foi mais rápido que eu e deu um mergulho espetacular.



foto de celular é phoda...fiz em 02/10/09

Maluco Beleza


Chego à capital na boquinha da noite e me deparo com esta figura que consegui captar com o celular. É susto em cima de susto nesta cidade. Eu já estava desacostumado a ver essas figurinhas carimbadas. No meu tempo, quando a cidade da Bahia era que nem cidade do interior, é que tinha uma ruma: Jacaré, Mulher de Roxo, Oligo, O Mágico. Já este de agora, me disseram, chamam Bin Laden. Parece. A figura diminuiu a velocidade, olhou pra mim, polegar pra cima, sorriso simpático. Tá mais pra Raulzito. Bin Laden é baixo astral. Os cachorros, tão concentrados, nem me olharam quando o flash pipocou. Acelerou e sumiu na noite, as orelhas dos cães balançando.
Me animei um pouco mais com a cidade que começo a desgostar...


foto de bernardo em 02/10/09.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Mulher Maravilha. Nem tanto...


As ultimas eleições trouxeram ventos novos para o sul: quatro mulheres foram eleitas, todas com o mote de que, pela primeira vez na região as mulheres iriam provar que administram melhor que os homens. Sempre desconfio das generalizações mas, por outro lado, sempre quis que as mulheres provassem que são capazes, sim, mesmo que não precisem se comparar aos homens. Quase um ano se passou. Não sei como estão as companhêras lá do eixo oeste; quanto as daqui do leste, saiu uma pesquisa esta semana publicada por um jornal de Valença ( MAPE/ Costa do Dendê ), dando conta que uma está em primeiro lugar mas em desaprovação, com 84 % de rejeição; a outra, um pouco mais modesta, amarga 64 %, tambem de rejeição, diga-se. O que aconteceu com as mulheres ou melhor, com estas mulheres? Para alívio da torcida, descobrimos que nada do que está acontecendo se relaciona ao gênero. Tentei raciocinar que teria a ver com os partidos a que estão filiadas. Negativo. Uma, a campeã, filiou-se ao PT no apagar das luzes do prazo para filiação; a outra, velha militante do mais velho ainda PMDB. A imagem perfeita da tragédia estadual em miniatura. No frigir dos ovos, até os partidos políticos se safaram, sem culpa alguma. Um dos prefeitos melhor avaliado, é do PT e outro, do Pefelê disfarçado de Dem. Conta-se à boca pequena que se trata de questão de foro intimo. Uma prefeita pintou a cidade toda de laranja e entregou o mandato ao marido, cassado e inelegível por improbidade administrativa. A outra, por coincidência, pintou sua cidade com a mesma cor e entregou o mandato à família. Prefeitas e laranjas, uma combinação perfeita e, pelo visto, nem um pouco aceita.
foto da web

xeudizer:

anotações livres, leves, soltas