domingo, 29 de março de 2009

Sobre cada um


MARIA SAMPAIO


Ela exigiu.
Chiou que não teve perfil. O que eu digo de Maria?
Peguei as suas imagens, que falam mais que qualquer texto.
Só não consegui por a colagem toda dentro de um coração.

fotos tiradas dos continhosparacaodormir. perdoe as mutilações. os autores estão todos creditados no blogue. colagem by maira.

sábado, 28 de março de 2009

Meus trens


Estou rachado em cruz! Quem toma aperitivo, tem de comer a refeição. Depois do encontro no lançamento dos Vestígios, fiquei com gosto de quero mais na boca. Surgiu a idéia do trem do blogue e fiquei babando.

Trens me fascinam; acho que é fantasia de infância de quem morou no interior mas longe dos trilhos e só os via nos filmes; e como sou das antigas e os trens soltavam fumaça e sacolejavam horrores, até hoje não vejo graça nos trens modernos, nos trens-bala, p.ex. Os nossos, e só conheço e andei nos da Leste, não soltam fumaça mas em compensação...e é aí que tem o doce! no balanço e no barulho feijão-com-arroz-feijão-com-arroz-feijão-com-arroz... Quando vejo na TV eventos em trens, fico desejando estar neles. O Ver-de-trem, o Trem do Forró. Agora chega o que vai justamente pra minha praia: o Trem dos Blogues, e eu não vou embarcar nesta viagem. Acabo de ler a confirmação de 27 pessoas que adoraria ver e rever. Até o Boca de Galinha eu gostaria de rever. Inda vai ter a travessia de pô-pô-pô. Inda vai ter lambança de sorvete na Ribeira. É muita coisa preu perder numa viagem só. Mesmo que eu tenha sido um pouco boçal ao anunciar minha ausência, estou dando minha mão à palmatória: trocaria na hora minha viagem à Buenos Aires pela do trem, não fosse a impossibilidade de fazer esta troca a esta altura.

Tem nada não. Fico de lá pensando, torcendo, invejando. Depois troco o nome do meu blogue para Notícias do Exterior.


foto do trem: sitio de tiredentes, mg.

terça-feira, 24 de março de 2009

Sobre cada um

MIRO
-"Mas Miro não é primo? pensei que as postagens seriam sobre os desconhecidos!"
Primo, primíssimo, primaldo em terceiro grau, eu acho. Somos Paternostro Guimarães, os perversos calabreses ( e basilicatos) e os mansos portugueses, que nos deixaram de herança as explosões violentíssimas daqueles- bem raras ultimamente, felizmente, e a doçura destes ultimos.
Miro é um artista que vive flanando na Bahia e dando duro em Berlin e com as duas cidades desenvolveu um caso de amor/ódio permanente. Pois eis a razão da postagem: eu e Miro pouco nos vemos. Vivemos longe mesmo quando ainda morava do lado de cá do equador. Sempre soube do seu trabalho e como sempre, vivo tietando meus primos famosos: ele, as escritoras Maria Sampaio e Renata Belmonte, a diretora de teatro Carmem Paternostro, meu primo/padrinho Comendador Dr Arthur Sampaio, o maestro Carlos Veiga. Me dou por satisfeito em aplaudi-los da fila do gargarejo.
Nos reencontramos nos Vestígios, valetes que fomos da prima que claudica quando deambula, mas firme em sua bengala e em nossos braços. Nos caminhos, muitos risos com as tiradas do primo, com seu raciocínio rápido, seu humor cortante.
Agora aqui estou, e ele lá na Bahia certamente com a prima, cuidando de seu pai, fotografando tudo que vê do amor daqui, como se precisasse levar pedaços da Bahia que lhe aqueçam o coração na sua fria Berlin.
foto do blogue de renata belmonte.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Sobre cada um


RENATA


Bem que meu sobrinho Pablo Sales me advertiu, algum tempo depois de ter ganho o prêmio Braskem de literatura:
- " Meu tio, ano passado quem ganhou foi uma menina, Renata Belmonte; vc precisa ler o que ela escreve. Ainda por cima, é uma gata!"
Fiquei curioso.Pouco tempo depois, quando comecei a ler blogues, soube do dela e fui visitar. Nunca mais saí. Fiquei encantado. Confesso que destilei um certo preconceitozinho:
-" Uma menininha, loirinha, patricinha, escreve como gente grande."
Me despi do preconceito e mergulhei no mundo em que Renta escrevia e deixava seus vestígios. Pedaços de alma, trechos de vida, sabores e dissabores de amores, um carinho pela avó, um chamego com o maridão (conheci no lançamento, tão jovem e encantador quanto ela), uma adulta, uma advogada, escritora; pela felicidade dos pais que conhecemos, uma filha e tanto. Diz amar São Paulo e a Bahia. Louca por roquenrou. Um dia comentou em meu blogue que adorava meu parentesco com Maria Sampaio e de imediato se filiou: passou a ser nossa prima mais nova. Adotou o primo pra lá, prima pra cá. Ai de quem diga que não é nossa prima legítima, de primeiro grau.
Estrela da noite do dia 17, quando nos avistou na fila de dedicatórias ( eu, Vera, Maria, Miro, Martha e Haroldo), deu um salto e demonstrou sem deixar a menor sombra de dúvidas, o quanto ficou feliz em nos ver . Gritava, pulava de um em um, abraçava, rodopiava, uma menina. Uma molequinha ousada que sabe dizer coisas que o velho aqui nem desconfia, a escritora. Depois foi simbora num avião pra Sampa pra fazer as coisas de advogada. Eis a Senhorita Renata B.

foto de vera

domingo, 22 de março de 2009

Sobre cada um

MARTHA


Martha Maria Muadiê. É muito M de mulher. Pensei em começar esta série com ela, por ter sido a primeira desconhecida a ser avistada nos Vestígios. O negócio é que eu só queria começar dizendo: Martha é linda. E é mesmo. Eu não a reconheci, acho que por causa da labirintite que me idiotizou um pouco. Maria foi quem bradou e depois entregou que talvez a tenha reconhecido por estar com Haroldo. ( Haroldo, você também é bonito, tá?). Martha é de uma morenice estonteante, como estonteante é a loirice de Renata, mas aí já será a próxima postagem. O que me impediu então de começar foi não querer falar da mulher e deixar de lado a escritora. Acompanho com interesse aguçado o blogue de Martha. Tem ali umas poesias que me deixaram zonzo por uns 3 dias. Fazia um ou outro comentário ( veja, Nilson, não é só com vc que eu fico travado, mas com qualquer poeta) até que um dia li as coisas que escreveu para seu pai. Aí foi covardia. Mandou Valença no meio ( ainda estou sem poder andar naquela cidade sem a presença de meu irmão) e escreveu coisas que me arrependi de jamais ter dito ao meu pai. Ele morreu, Martha, sem eu jamais ter-lhe dito com todas as letras o que vc deve ter dito ao seu. Vc falou por mim. Li em voz alta o seu texto, aqui sozinho, e me redimi. Devo essa.
Obrigado por escrever tão lindo. Que bom ser tão linda assim. E no dia 31 de março, não fique triste: faça concha com as mãos -igual a ele- e tire do mar umas lembranças boas...
foto de vera

sábado, 21 de março de 2009

Sobre cada um


NILSON


Poeta é fogo! conheço um no arriar das malas; neste caso, nas linhas e entrelinhas. Nunca soube escrever poesia, tenho medo delas; acho que é para poucos. Nilson me enche os olhos com sua poesia. Às vezes fico cabreiro porque nem sei o que dizer de poesias, nos comentários que poderia fazer aos textos de Nilson. Acho-as das mais perfeitas manifestações da vida em arte. Por isso meu medo delas. E ele não tem a menor cerimônia em escrever. Só faltava ligar o poeta a um físico.
Já vi várias fotos de Nilson em seu blogue. Teve uma que me chamou a atenção, melhor, duas, feitas com intervalo de alguns anos, com as mesmas pessoas, na mesma cena doméstica. Foi ali que vi que Nilson não mudou muito porque, apesar do tempo, como ele ainda continua muito jovem, a fisionomia não mudou. No encontro do lançamento dos Vestígios, assim que bati os olhos, reconheci: aquele é Nilson do Blag. Chegou quieto e saiu manso. Não sei se o clima do encontro provocou esta reação ou se o poeta é assim mesmo: quieto e manso. Moço com cara de menino. Poeta de mão cheia.
Agora que me deu coragem, faço um jogo de palavras com o poema que ele escreveu em sua ultima postagem. Perdão, poeta, por mexer em seus escritos. É só uma forma de aproximação.
Diz Nilson:

Vida curta,
quem sabe
despi-la?

eu responderia:
Despi-la.
Quem sabe?
a vida é curta.

foto de vera

sexta-feira, 20 de março de 2009

Sobre cada um

LICURI

MARCUS

Desde o primeiro momento achei que ele chegaria antes de nós. A única referência que tenho dele é sua foto dos comentários: a cabeça inclinada, a mão na têmpora, a testa enrugada com uma expressão sacânica. Chegamos ao Tom do Saber e nada de Marcus. Todos os outros presentes, livros autografados e fomos às pizzas já que o pequeno xará do protagonista deste texto, o Marcus Vinícius da Menina da Ilha estava ficando verde e eu não havia levado nenhum comprimido a não ser o Vertix.

Na segunda pizza Maria berrou ( estava impussível, apontando primeiro os e-amigos e berrando loucamente):

-"Marcus chegou!"
Olhei pra porta e não vi. Por alguns segundos achei que a prima havia se enganado, cheia de coca que estava. O Marcus de verdade é mais baixinho, mais claro, cabelos mais lisos e espetados que o do Licuri. Abraços, trocas de gentilezas, e fiquei assim olhando pra ele, de vez em quando, de canto de olho, meio desconfiado. Podia ser um Truque de Janaina ( eu acredito em todos!). Mais uma pizza e algumas cocas depois, comecei a desdesconfiar.Passei a acreditar no Truque dele, Marcus, de mil faces, muitos corpos. É escritor, fotógrafo, viajante, porque não seria capaz e se apresentar como queira?

No frigir das pizzas, adorei os dois.

foto 2 de vera; foto 1 do licuri

quinta-feira, 19 de março de 2009

Sobre cada um

MENINA DA ILHA


Pensem em mim com labirintite, atônito com a alegria de Renata, logo após a dedicatória do meu Vestígios, quando uma menina se postou na minha frente. Um sorriso calmo (não sei como ela conseguiu no meio daquele nervosismo todo) e tive a impressão de ver um aparelho nos dentes. Claro, meninas usam aparelhos nos dentes. Dois, no máximo três segundos e...nada. Só me ocorreu perguntar, aparvalhoado com a indelicadeza de não reconhecer alguém que devia ser muito íntima pra se postar assim na minha frente:
-" Quem é vosmicê?" foi o que saiu. E antes da resposta, Maria berrou em minha orelha esquerda:
-" Menina da Ilha!!!"
Fiquei mais tonto ainda e acho que abracei minha e-amiga pra não cair. Impressionante ( Nilson me deu o toque depois) a materialização deste encontro. Deu vontade de ficar mais tempo tocando fisicamente aquelas pessoas que idealizamos tanto. O medo de parecer demais dá a certa medida dos abraços. E ela ainda me surpreende. Levanta uma sacolinha e avisa que é uma lembrancinha para Iara. Uma toalha com o nome de minha neta, bordada à mão pela própria, na noite anterior. Para preencher o silêncio, relembra:
-" Não mostra pra não aparecer encomendas! Odeio encomendas". Perfeito. Mais menina da ilha, impossível. E ainda nos trouxe Marcus Vinícius, seu filho simpático e ótimo adversário nas pizzas: comeu quase igual a mim.
As conversas chegaram com uma intimidade impressionante. Todos muito amigos, desde pequenininhos.
Menina da Ilha, você foi pro nosso caderno. Eu e Vera adoramos te conhecer. Só falta agora você voltar a escrever.
foto de vera

quarta-feira, 18 de março de 2009

e-amigos

da esquerda: marta, renata, eu, maria, miro, menina da ilha e marcus vinicius



da esquerda: marcus, nilson, renata, eu, maria e miro




Chegamos juntos, Vera, eu ( Noticias do Interior), Miro ( com seu novíssimo Be-a-Bah ) e Maria, a dos Continhos para cão dormir. Todos perguntaram por minha bengala, que não levei; mostrei-lhes minha labirintite. Papo com Aninha Franco, encontro com Marta ( Maria Muadiê). Vestígios nas mãos, invadimos a praia de RENATA (Vestígios da Senhorita B.). Linda, se levantou e escancarou seu prazer de nos ver. De longe, aceno da Personagem Principal. De longe. De perto, o susto: Menina da Ilha e seu Vinícius. Maria a reconheceu com um grito. Me trouxe um presente lindo para Iara. Mais simpatia, impussívil! Em dois minutos, todos muito intimos. Renata quase não larga da gente; a gente, também dela. Voltou para suas dedicatórias, com um olho nos amigos, outro no livro. Vamos lá pra dentro; chegam Marcus ( Licuri) e Nilson ( Blag ). Nove blogueiros no pedaço. Parece que todos nos emocionamos um pouco. Maria ficou nervosa, muito notada ( ah! como ela gosta!) de bengala e chapeau. Em dois minutos, todos íntimos. Ficamos até 23:30 às gargalhadas e saímos depois de Renata que foi direto pro aeroporto, ler uns troços na viagem e fazer uma prova em Sumpaulo. Tomara tenha se saído tão bem quanto em nos receber. Noite perfeita. Os e-amigos são um barato.

Outros textos virão deste encontro.

Nota da noite 1: a Aeronauta não foi. Miro acha que a moça de burca que circulou na livraria, era ela. A irmã jurou de pé junto que viajou. Ninguém acreditou.

Nota da noite 2: TODOS os outros companheiros foram lembrados, citados, devidamente brindados com coca cola.

fotos de vera

domingo, 15 de março de 2009

13 de março



Passei o 13 de março em branco, notaram? Nem tive coragem de escrever. Ao contrário de sempre, fiquei triste.
Fiquei mais velho do que meu irmão mais velho, Eduardo, assassinado em 2007. Ele ficou com 55 anos e ontem fiz 56. Não podia. Não devia. É contra a natureza, e ele devia ser sempre mais velho do que eu. Me sinto como se estivesse traindo um acordo que fizemos na infancia. Dá vontade de perdir perdão por envelhecer sozinho.

carnaval de 57:eu e eduardo. foto de meu pai, numa rolleyflex.

quinta-feira, 12 de março de 2009

A que não tem nome


Li em Aeronauta, sua aversão à palavra "desgraça". E eis que ela quase me convence do seu (a palavra) poder. Não sofri com sua força, simplesmente porque vivi em uma família que por alguma razão não se importava com isto. Não que não se desse importância às palavras, toda ou qualquer, mas se ignorava solenemente seus poderes maléficos. Não sei se nos acostumamos ao silêncio quase completo do nosso pai ( chegamos a contar apenas 12 palavras proferidas por ele em todo um dia vivido) ou se a própria verve familiar se ocupava de esculhambar com tudo. Vô Chimbo era um iconoclasta, a chamar a todos de canalhas; às vezes corrigia, dizendo serem apenas os que usavam costeletas. Feladaputa, vocês podem confirmar, a nossa geração (leiam Maria Sampaio) distribue sem o menor pudor, sem mesmo conhecer a puta-que-pariu-alguém. Futuquem alguém da familia e ouvirão sonoro porra-caralho-cacete! é um povo impossível e desbocado. "Desgraça", por fim, na boca dessa gente guimarães, soa como um inofensivo "que merda", "esta merda" ou "seu merda". Queria poder ensinar à Aeronauta, a sutileza de se esquivar dos malefícios das palavras, mas não sei escrever textos muito sérios. O propósito aqui foi o de lembrar os meus e rir com estas lembranças; foi relatar a simplicidade do povo do interior.

Me chama atenção o som da palavra maldita à Aeronauta, aos seus ouvidos (leiam seu belo texto). Aqui no meu interior não é incomum agirem como ela. As pessoas não pronunciam esta palavra e a ela se referem como uma pessoa que vive, entre a vida e a morte, rasteira, nas sombras, catando almas infelizes. Dão-lhe nomes sugestivos: A Pelada, A Rasga-coberta, a Mulher da Trouxa, como alguém de verdade, com uma trouxa na cabeça, numa curva de estrada a lhes espreitar. Como a tratam, me parece sempre que a consideram, antes de anunciadora de desgraças, cobradora de castigos por pecados!
foto:herbarium.com

quarta-feira, 11 de março de 2009

Bebum


Nada!...

Continuo bêbado feito um gambá. Depois da bonança do primeiro dia, sobreveio uma tempestade com a casa toda adernando. Ou fico deitado ou sentado me segurando pra não cair da cadeira. Agora mesmo estou vendo o portátil flutuando na minha frente, e armo o dedo pra acertar a tecla que passa mais devagar. O zumbido no ouvido esquerdo é insuportável. Não tem coisa pior que ouvir alguma coisa sem vontade; deve ser pior ou igual a não ouvir nada, ou ouvir um pagodinho no ferribôte. A tontura piora com o movimento da cabeça. Pra quem já bebeu todas, é humilhante ficar de porre de cara! Não sei mais o que dizer e muito menos o que fazer. Medicado, paciente, aguardava melhora que não veio.

Obrigado a todos que deram uma força, até mesmo aos que acharam que meu texto é ficção. Nem a estes desejo um labirinto enlouquecido.
Vou sair do ar e só volto quando o computador passar novamente na minha frente.
ilustração:remedio.gif

segunda-feira, 9 de março de 2009

Vertigo


Socorro! acho que vou cair pelas tabelas! Explico: fui acometido de uma crise repentina de labirintite. Alguém aí já teve este troço? é a minha primeira vez e é terrível. Sempre achei que é bom os médicos terem umas sipitucas de vez em quando, pra valorizar o discurso dos pacientes. Por mais que se queixem nunca damos a real dimensão do mal que padecem, até que padeçamos nós mesmos dele. Agora sei muito bem o que querem dizer quando falam de uma tontura labiríntica. Acordei às 3 horas da madrugada com um ruído estranho, como uma pulsação dentro do ouvido esquerdo. Creditei à gripe próxima passada e voltei a dormir. No caminho pra Camamu, de repente, senti algo estranho e tive tempo de parar o carro no acostamento e fiquei alí, estatelado, apavorado, com medo, curtindo uma tontura devastadora. O asfalto parecia um lençol arremessado sobre uma cama para forrá-la e me agarrei no volante pra não ser arremessado junto. Uma vontade de vomitar me tomou conta e ficou somente na vontade, que já dura sete horas. Sete horas de pavor. Amparado feito um bêbado, com motorista provisório, voltei pra casa. Saltei quase carregado, como se estivesse no corredor do Ferribôte em dia de tempestade. Um comprimido de Dicloridrato de Flunarizina às 15 h e fui direto pra cama aguardar o delicioso efeito das drogas. Agora são 17:30 e a tempestade passou. Como num encanto, duas horas depois da medicação já pude me levantar sozinho. Não estou cem por cento mas já dá pra dizer olá sem vomitar no interlocutor desavisado, caminho sem cambar à bombordo e aprendi mais uma lição a duras penas, o que é muitobom na profissão: para labirintite, Vertix, cama e paciencia. Tudo passa com o tempo. Tudo.

foto: paulomadeira.

domingo, 8 de março de 2009

Aulas de Medicina II


Terceiro ano de Medicina. Durante as aulas de Propedêutica, a professora gasta tempo extra tentando incutir na cabeça de tantos jovens acostumados às gírias, a adotarem uma nova linguagem, técnica, mais apropriada aos futuros profissionais médicos. Nesta profissão, repetia à exaustão, era preciso mostrar uma postura que pudesse angariar a confiança do paciente, além de mostrar conhecimento. Conhecimento gera confiança e conhecimento se demonstra com linguagem própria.

Zabelê se mostrava resistente. Parecia-lhe impossível viver sem gíria. A professora, percebendo a dificuldade do aluno, passou a lhe dedicar mais atenção e auxílio, sou testemunha, com paciência. Parecia que estava conseguindo. Certo dia, em visita à enfermaria de Pneumo, a mestra fez uma espécie de treino antes do jogo. Ao abordar o paciente, Zabelê deveria apenas dizer:

-" Senhor, pode tirar a camisa para que eu possa auscultar seu pulmão?"
A torcida foi grande e o suspense também pelo fato de sabermos o quanto era difícil ao nosso colega a mudança do hábito. Em volta do leito do assustado paciente ( devia ser a oitava visita do dia). Zabelê, de jaleco, cabelos longos, do alto dos tamancos ( brancos, made in Waldemar), respirou fundo e disparou com naturalidade:

-" Diga aê, Bahêa, dá pra arriar a beca preu dar um saque no seu respiratório?"

Cai o pano, rápido.
foto da web, sem crédito

sábado, 7 de março de 2009

Aulas de Medicina




Terceiro ano de Medicina, Hospital das Clínicas. Saimos da sala de aula, todos em guarda-pó alvíssimos, nos primeiros passos no papel de futuros médicos. Pode reparar: calouros só andam com as mãos nos bolsos dos jalecos. Também, não sabem onde por. O grupo acompanha o professor, chefe da cadeira de Neurologia, em visita à enfermaria, com pacientes pobres e na sua grande maioria, sem qualquer estudo. Mestre das antigas, sempre de gravata sob o manto branco, brilhantina nos ralos cabelos, cheiro de loção pós-barba, tratando a todos por "senhor, doutor". Era conhecido por sua linguagem nada coloquial, arcaica, enfeitada mas acima de tudo, divertida.

Na enfermaria, os alunos em volta do leito do pobre doente ( talvez a quinta visita do dia ), e o mestre toma a cabeceira. Passa a descorrer sobre as patologias neurológicas periféricas que, afetando o arco reflexo, impedem em variados graus, a mobilização dos membros inferiores. O paciente olhava pra ele, olhava pra nós, em pânico, certamente tentando enxergar em algum semblante mais despreparado, a gravidade de seu mal. O professor, ao final de sua peroração, e para comprovar o brilhante diagnóstico, dirige-se de forma quase teatral ao paciente e vira-se para os alunos com o riso na face de quem já conhece a resposta:

-"Meu caro senhor, responda com exatidão a estes jovens esculápios: claudicas quando deambulas?"


tela: aulas de anatomia,de rembrandt


sexta-feira, 6 de março de 2009

Cagadas homéricas I


Quinto ano de medicina. Matéria: Urologia. Na Federal, temos três míseros meses para estudar toda uma especialidade médica.Virote, noites insones à base de coca cola e café; tempos ingênuos aqueles...Prova oral é o terror de qualquer estudante. Pausa.

Tio Wenceslau Pires da Veiga era o mestre da cadeira de Urologia. Foi um dos maiores nomes do corpo de professores da Faculdade de Medicina. Era respeitadíssimo por seu caráter e muito mais ainda por seu conhecimento em sua especialidade. Era uma referência constante,em citações de seus colegas e especialmente de seus alunos, dentre eles Dr. Santos Pereira e Dr. Adroaldo, este um "filho" na profissão. Ambos conviviam com tio Wenceslau e conheciam bem toda a família, inclusive meu avô Chimbo e meu pai, de quem tio Wenceslau era genro e cunhado. Pausa.

Como estudávamos às vezes quatro ou cinco matéria no mesmo semestre, sobrava pouco tempo pra estudar tudo. Desta vez, além de uma lida em tudo, me fixei nos tumores da bexiga.

Dia da prova. Do lado de fora da sala de torturas, alunos comendo páginas e mais páginas, numa ultima possibilidades de gravar que no rim, a cápsula de Bowman envolve o glomérulo de Malpighi. Uma filtração comprometida lá em cima, provocava constrangedores reflexos mais embaixo. Em vão. O bedel grita da porta: "Dr. Bernardo Guimarães!" Senti que meu glomérulo filtrou muito rápido e apertei as pernas que tremiam. A Inquisição: um tablado, três professores, sendo os dois citados lá em cima. Nossa cadeira ficava uns dois andares abaixo dos mestes,que ficavam mais ameaçadores ainda. Ao lerem meu nome, a pergunta vem de chofre: " -O que o senhor é do Dr. Chimbo?" E eu num fio de voz: " -Neto". -"Então o senhor é sobrinho do professor Pires da Veiga e esperamos que entenda a responsabilidade que o senhor carrega de ser o primeiro parente próximo do professor a nos enfrentar e prove a todos nós desta banca que o senhor merece ser tratado como sobrinho do Mestre". "-Fudeu", pensei, com a bexiga nos joelhos. Veio de Dr Adroaldo, a minha absolvição: "- Como temos certeza que o senhor sabe tudo de Urologia, honrando o nome de Dr Wenceslau, lhe damos o direito de escolher o assunto. "- Tumores da bexiga" já falei estufando o peito. Foi a unica nota "S" da turma e por onde passava, me olhavam com respeito e ouvia os sussurros: este vei ser Urologista.

Juro que a unica coisa que me ficou da matéria é que a cápsula de Bowman recobre o glomérulo de Malpighi e que em situação de pânico você se mija mermo!!!
foto: uma.com

segunda-feira, 2 de março de 2009

Triskaidekaphobia


Descobri num desses sitios inúteis que o palavrão do título significa "medo da sexta feira, 13" em inglês. Adorei o título pomposo de quem não gosta da data de meu nascimento; isso mesmo, nasci numa sexta feira, 13 de março de 1953 e neste ano a data volta completa. Há quem não goste de seus aniversários. Problema. Eu gosto e muito. Desde pequeno, Março é pra mim o mês do centro do calendário, em torno do qual gravitam ou outros meses, todos sem importância. E Peixes é o signo mais importante do zodíaco, em torno do qual...
Sexta feira, 13 de Março, Peixes. Sou uma pessoa de muita sorte por ter uma data assim, para sempre. Quando me perguntam a data de aniversário, falo tudinho que acabei de escrever.
Como se não me bastasse, em 1991 minha filha Nana nasceu neste mesmo dia. Aí eu fiquei insuportável e vi aumentar o prazer de ser desta data. Joãozinho, meu amigo de infância ( quem tem a paciência de ler este blogue de vez em quando, sabe que se trata daquele que me apresentou a Papai Noel- e um dia aprendo a fazer o linque dos textos) teve sua filha mais velha, Renata, nesta data. A outra Renata, a Belmonte, também nasceu em 13 de Março. Ponto pra nós. Só meu compadre Raul, ao perceber que Téo, seu rebento nº 4 iria engrossar a fila, amarrou as pernas de Claudinha e fofou-lhe até a meia-noite pra impedir. Nasceu 14 mas vou lhe contar a falseta do pai, quando crescer. Teremos um de 14 com espírito de 13.
Agora só estamos no aguardo dos políticos decretarem o dia feriado: nesta data morreu Irmã Dulce. Ela merece o feriado. Escrevam pra seus deputados ( vcs tem um?) implorando. Eu, Renata, Renata, Nana, Téo, Nadja, Zé do Caixão, Stevie Wonder, Margaret Thatcher e outros menos cotados agradeceremos passar a data de boreste, achando que é o feriado mais importante do ano.
foto da rede

domingo, 1 de março de 2009

O fiofó de Maria




Primaria e a quem mais interesse:

Quando tudo está mangueado, fala-se do cu-de-mãe-joana. Não é o caso. Tratamos aqui do fiofó de Maria. Preocupadíssima com o comparecimento ao lançamento do Vestígios de Renata, a prima, que já se aprontou antes da data, tomou prumo e de tanto as gentes lhe lembrarem, está de roupa, xaile, bolsa e bengala a postos. Alguem tem apenas que segurar, antes que ela vá a algum lugar achando que já está indo. Combinou comigo e Miro para lhe darmos os braços. Daí veio a preocupação? se estará de braços dados com os dois, onde enfiaria a bengala? Então, desesperadamente, eloquentemente e preventivamente, avisa: "só não me mandem enfiar no fiofó". Claro, prima, todos nós nos preocupamos com seus fundilhos, ninguém vai maltratá-lo. Passe a bengala pra Miro, que tem porte pra isso. Pra manter o equilibrio, providenciei uma também pra mim. Será um trio maravilhoso: uma doidia de braços dados com dois primos, um estrangeiro e outro da gema, um Paternostro e um Guimarães, apoiados em bengalas especiais. A minha, mando a foto para que todos a vejam. Trata-se de uma autêntica, que pertenceu ao Barão de Serinhaém, cuja ponteira é uma bota de prata, pronta pra chutar a bunda de quem mandar minha prima enfiar alguma coisa no fiofó.
Temos dito. Eu e Miro garantimos.

foto de bernardo

xeudizer:

anotações livres, leves, soltas