sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O Rei

A trilha sonora de minha infancia é de bolerões, com Angela Maria, Nelson Gançalves, Elizete Cardoso. Um dia ouvi Roberto Carlos e achei minha turma. Nem demorou tanto, surgiu a Bossa Nova e achei que tinha duas turmas, até ouvir a mais nova dizer que a gente não podia fazer parte dos dois grupos: ou vc é bossa nova, ou é jovem guarda. O sofrimento durou muito, quase toda minha adolescencia, ou enquanto durou meu tempo de assumir que gostava mesmo era dos dois: João e Roberto. Tom e Erasmo. Mas era quase errado dizer que se gostava de Roberto. Chegou um tempo em que era quase uma crime ouvi-lo. Passei a ouvir escondido, cantarolando só na minha cabeça e baixinho, suas canções tão bonitas, prum vizinho vigilante não me denunciar. E como havia patrulha naquele tempo! Um dia dei um basta e passei a bradar que gostava mesmo de Roberto. Cagando e andando pra quem achasse ruim. Meus veraneios no Morro eram embalados pelo Rei, às vezes ( e tão somente assim) desafinando pelas pilhas fracas do toca-discos de plástico cujo alto-falante era a própria tampa. Era tempo de dizer, com todas as letras, como é grande o meu amor por você. Qual o problema de dizer ao mesmo tempo que eram coisas que só o coração pode entender? O amor entendia e não se preocupava de onde vinham os versos. Os marrentos ficaram lá atrás, uns torcendo o nariz pro outro grupo. Eu estou aqui hoje, assistindo o especial do Rei. RC ao lado de Caetano, Nelson Mota, Rita Lee, Neguinho da Beija Flor. Eu e Vera. Bonito ver o Rei cantando com Zezé di Camargo. Vera não gosta de Zezé e sai da sala. Ainda bem, não gosto que me vejam mareado.
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foto da web.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Vocês viram?


Acabo de assistir a entrevista de Maria ao jornalista Inimá Simões no programa Sintonia da TV Câmara. Vocês viram? tirante a tietagem genética, achei o máximo! Show de bola! Maria é uma excelente entrevistada, e a gente percebe pelo comportamento do entrevistado; eu já tinha sacado isso, no programa de Marília Gabriela. Ela fica à vontade, como se fizesse aquilo todo santo dia. Acho que foi Dôia quem disse que ela fica "de carçola no quintal". O máximo esta frase de Dodôia. Carequinha, os óculos inconfundíveis que já ficaram a sua cara ( uma lente redonda, outra quadrada, como ela). O sotaque baiano lhe transforma numa personagem da prória Maria Sampaio. Gesticula como um corno, outra marca sua, só faltou chamar alguem de feladaputa. E se entusiasma, os oinhos faíscam quando fala de suas criações e diz sem culpa alguma que não sofre nem um pouquinho ao escrever. Desde pequenininha escreve, desde pequenininha escritora mas tinha tanta coisa pra fazer antes na vida, que deixou esta função pra depois dos cinquenta. Melhor pra nós que fomos recebendo suas artes em doses homeopáticas. Imaginem o que não vem por aí! Uma renca!
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foto de bernardo

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Camamu

Mais notícias do interior:

Fiz esta foto hoje de manhã e achei tão bonita que resolvi mostrar a todos. Dê um clique nela. É uma panorâmica de Camamu, cidade onde passarei mais tempo agora, e que já estou curtindo muito. Em primeiro plano, o rio Acaraí, o cais, a cidade baixa, o comércio; a Igreja matriz dominando tudo na cidade alta ( sim, é assim mesmo que todos se referem). No horizonte, à direita, a baía de Camamu e o relevo já no município e Maraú.
Não consegui o casarão tão desejado mas a vista desta foto, é da varanda do apartamento que entrou na fila!
foto de bernardo

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Mudança


Mudar em movimento
mas sem deixar de ser
o mesmo ser que muda,
como um rio.

Thiago de Mello




Novo sofrimento com as mudanças. Vou ficara a semana toda em Camamu e preciso fincar o pé mas não quero largar minha casa em Ituberá. É como querer ficar com a mulé e a amásia. Entre les deux, mon couer balance. Mandei ver uma casa pra alugar e fiquei superexigente, querendo uma igual à de cá. Mas vi um sobrado do sé. XIX, que se o dono der o sinal verde, me mudo de mala e cuia, vendo a casa, faço qualquer negócio. É de babar, pra quem gosta, naturalmente. Eu sou fanático e não morro sem morar em um casarão mal-assombrado. Vou sempre a Minas e em Tiradentes, fico fantasiando ter uma casa daquela pra mim. Já tenho até umas mobílias que vim ajuntando nos meus anos, pra botar lá dentro: um armário de Pharmácia que virou oratório, um genuflexório, dois sofás de palhinhas com as respectivas cadeiras, uma penteadeira com espelho longo, uma cristaleira com vidro nas portas, uma mesinha com tampo de mármore rosa, um aparador de jacarandá e Tia I + Dindinha que parecem ser móveis de enfeitar, mas são elegantes como as tias que gentilmente lhe cederam os nomes, as tias de Maria, irmãs de tio Mirabeau. Estamos todos aqui, temporariamente, à espera da nossa casa definitiva.
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foto:largo do rosário,ouro preto

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Aviso aos navegantes!




Estou na área, no mar, bem no olho da baía de Camamu. Navegando numa lancha rápida. Podia ser um saveiro, uma lancha pô-pô-pô mas é uma lanchinha veloz pra cacete. Não rasga o mar, toca as cristas das ondinhas, balançando um pouco o meu buchão, prontamente servindo de apoio aos braços. Tem uma água de coco a bordo, singelo agrado do proprietário. Primeiro, no rio Acaraí, não há tombos. Deslize no espelho d'água, fazendo curvas, seguindo o canal. Primeira parada: Ilha Grande. Alguém aí conhece? A igrejinha dá as boas vindas. Segunda parada: Cajaíba, povoado com um numero enorme de estaleiros, de onde saem barcos, escunas, lanchas, encomendadas de todo país. Estou trabalhando.
Desde que anunciei que assumiria a Secretaria de Saúde de Camamu, muitos, todos me desejaram felicidades. Pois seus votos pegaram. Esta viagem é de trabalho. Sério! São duas Unidades de Saúde que foram visitadas e já saíram na prancha de reforma/recuperação/reequipamento. Trabalho duro. E que não me venha seu Celso Chorik reclamar que meu trabalho é mais moleza que o seu. Né moleza nada. A paisagem é que não é igual. Eu já fui a Sampa, adoro Sampa mas fui, vi e voltei. Escolhi Camamu pra trabalhar.
Uma vez por mês, farei supervisão àquelas Unidades, para acompanhar a realização dos serviços.

(Bocejos!...) estou insuportável!..
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fotos de bernardo: baía, ilha grande e cajaíba.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Receitas populares



Receitinha caseira do interior, para tirar cisco no olho:

Pegue a pálpebra como num beliscão e esfregue em movimentos circulares enquanto repete por três vezes o seguinte mantra:

Santa Luzia passou por aqui,
com seu cavalinho comendo capim.

É batata. Se não der certo, procure um oftalmologista.
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sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Mudar, pra que?


Não sei lidar com mudança. Minha casa deve sempre ficar do mesmo jeito de como começou. Não gosto que mudem a mobília. Um dia, um amigo decorador esteve aqui em casa; como eu não estava, resolveu me fazer uma surpresa e trocou tudo de lugar. Quando cheguei, empaquei na porta, até Zé voltar tudo como dantes.
Mudei a fachada do blog, mas fiquei inseguro. Sinceramente, não estou preocupado com os comentários, se melhorou ou piorou. Querem saber? o que passa é o seguinte: acho que ficou melhor, é mais bonito que o outro, mais limpo, as letras ficam mais bonitas, as fotos se destacam, fundo branco é outro papo. Mas logo depois da mudança, bate a nóia: por que mudei? é preciso mudar? é como se eu tivesse abandonando quem esteve comigo tanto tempo. É uma traição. Daí fico um pouco com o pé atrás com o modelo novo. Se alguém, ou a maioria disser que gostava mais do outro, fico arrasado, volto correndo pro modelo velho, cabisbaixo, e apartir daí vou pensar que ele vai ficar desconfiado comigo, tipo: -"me deixou, não deu certo e agora volta, né?" e a outra nóia de ficar abrindo isso aqui, pra todo mundo ler? não, já disse que não gosto de teatro e o mundo não acabou. Pergunto a vocês que já mudaram de modelo: aconteceu alguma coisa a vocês? Me ajudem a superar este momento difícil!
Não vale sacanagem, o momento é grave
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foto:carlos tavare

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Eduardo


-"ItálicoOh, amigo, se esqueci!"

Devíamos ter quatro ou cinco anos. Cada um corria numa direção ao redor da mesa e nos encontrávamos do outro lado; um abraço apertado e repetíamos esta frase que ninguem sabia porque. Caíamos na gargalhada, e começava tudo de novo. Os adultos se cansavam, a gente também mas no outro dia estávamos lá, eu e Eduardo: -Oh, amigo,se esqueci, até se cansar novamente. Não consigo mais lembrar desta frase sem chorar, nomo agora.

11 de dezembro e meu irmão não está mais aqui e o dia se transformou no dia mais triste; não há mais aniversário. Eduardo está morto e me parece impossível escrever estas palavras: Eduardo está morto. Foi assassinado no ano passado enquanto dormia, em sua casa em Valença. Relutei tanto em escrever sobre o assunto mas a tristeza tomou conta e não consigo pensar em mais nada. Não sabemos até hoje quem o matou, nem a polícia. Maria acha que foi coisa de mulher. Tambem acho. Mulher mandou mas pelo menos dois homens atiraram. E ainda tentaram nos matar tambem, deixando a arma junto ao corpo para simular suicídio. Suicídio uma ova. Foram três tiros. Ninguem se mata com três tiros. Não sei o que se passou no seu ultimo momento e me torturo por isso. Não queria que o tivessem morto. Agora é tarde. Ele era um ano mais velho e agora eu vou ficar mais velho do que ele. Não é justo. Não há vantagem em não envelhecer. Nós tinhamos combinado envelhecer juntos e ver nossos netos brincarem. Não conheceu minha neta. Ontem estive com os netos dele e senti tanta pena. Dele. Queria ensinar a Geovana e Iara a se abraçarem longamente e dizerem rindo: -"Oh, amiga, se esqueci." E eu e ele ficarmos olhando, bestas, sem entender nada...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Florbela Espanca




Bice, uma amiga querida escreveu um verso num livro meu e quando li, tive vontade de conhecer mais. Era um verso de Florbela Espanca. Poesia, para mim,é como um quadro ou uma música: gosto ou não gosto, não importa de quem seja. Daí que curto Salvador Dalí, Miró ou F da Silva, com seus monstros coloridos. Adoro QUASE todas as músicas dos compositores reconhecidos e de vez em quando me pego assoviando uma melodia que ouvi na voz muito bonita de Zezé di Camargo. Mas na poesia é diferente, ou eu sou mais maluco do que penso: de meus poetas preferidos, não conheço uma só poesia que não goste: Thiago de Melo, Paulo Leminski e Florbela Espanca. Acho que é porque não sei dizer o que sinto; à vezes, só com poesia se consegue, e eles falam por mim. Não tenho a pretensão de comentar uma poeta. Apenas leiam estes versos da que se chama Florbela d'Alma Conceição Espanca, nascida e morta ( por escolha própria) no mesmo dia 8 de dezembro. Em seu diário, as ultimas palavras escritas foram: -e se não haver gestos novos nem palavras novas?

Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só...
Beijá-me as mãos, Amor, devagarinho...
Como se os dois nascessemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...
Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei pra minha boca!...

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver !
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida !

domingo, 7 de dezembro de 2008

Papai Noel


Joãozinho foi meu primeiro amigo. Seu pai morreu quando tia Elza estava grávida de 5 meses e terminou de criar os filhos sozinha, quer dizer, com suas irmãs, as irmãs Ramos, da Escola Ana Nery. Moravam vizinhos a nós, no Caquende, num casarão conhecido como a Casa das Ramos: um monte de tias, seis ou sete, só duas casadas, além de tia Elza, viúva. Os meninos dormiam no mesmo quarto, mais parecido com uma enfermaria, com as camas na ordem: Joel, Jorge, Jomar e João. O sobrado, antiquissimo, de dois andares, assoalho de madeira. As tias, católicas praticantes, transformavam a casa numa extensão da igreja: santuário, altar, incenso, orações e um silêncio monastérico. Todas falavam baixinho. Joãozinho vivia lá em casa. A casa de vô Chimbo merece um texto exclusivo: era uma África! além dos parentes, vivia cheia de aderentes, um quase mangue. Lá as crianças podiam gritar, fingiam tomar banho, comiam fora de hora, dormiam mais tarde e iniciavam nas vivências sexuais com as muitas domésticas em rodízio nas três casas do 235.

Papai Noel existia. Até o dia em que eu e Joãozinho fizemos o trato: vamos ver papai Noel chegar. Mas na noite de Natal eu permaneci na minha casa zonada e ele teve a ceia com as tias, logo depois, cama. Nem preciso dizer que apaguei, só acordando com ele me chamando, feliz com a descoberta.

Como foi domir cedo, acordou assim que ouviu os pasos de Papai Noel no assoalho do sobrado. Os irmãos dormiam. No canto do olho entreaberto, viu tia Elza entrar no quarto com uma enorme bandeja de prata cheia de pacotes, depositando nas camas, por proximidade da porta: Joel, Jorge, Jomar. Quando a pobre se inclinou pra deixar os pacotes nos pés da sua cama , Joãozinho quebrou o silêncio sepulcral aos berros:

-" Aí, hein Elza?!!"

O casarão veio abaixo, com a bandeja prum lado, os meninos correndo sem saber pra onde, tias chegando de camisolão, e tia Elza dando de chinelo na bunda do maldito, que não parava de rir; mais ela batia, mais ele ria!

Papai Noel estava morto, e o canalha, às gargalhadas. Ele sempre soube. Ele sempre sabia das coisas antes de mim.
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foto humorbabaca.com

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Fashion é pouco!


Não gosto e não sei comprar roupa. Vera sempre compra pra mim. Eu acho que é porque não suporto experimentar roupa. Não suporto e pronto. Nem quando a bendita chega em casa. Vai pro armário e no dia que resolvo vestir aquela peça, isso pode acontecer séculos depois, enfio e...nem sempre cabe mais; não passa da coxa ou a camisa fica justa. Onde já se viu que tem buchão usar camisa colada? Tabem não sei combinar nada. Várias vezes fui mandado de volta pro quarto, pra tirar ou a camisa xadrez ou a calça de listas, ou ambas. Vera me chama de Agostinho da Grande Familia mas quando eu me visto, me acho lindo. Semana passada resolvi comprar. Fui com Vera, a fins de duas calças, a minha única está puída. Na arara da loja de departamentos ( jamais gasto mais do que o razoável num produto que detesto!), verifiquei: -46, serve.
-" Vá experimentar!"
-"Não vou!" Na fila de pagar, Vera me chega com um par de sapato.
-"Experimente!".
-"Não; 40, serve". Começou o buxixo de fila:
-"Vixe meu marido é igualzinho". A outra enxerida que não foi chamada na conversa:
-"Pois se o meu fizesse isso, eu é que não comprava; ficava nu!". Fuzilei com os olhos e fui embora.
Dia seguinte voltei decidido a comprar mais roupa. Seis camisas. Rodei, rodei, uma dúvida terrível...Não sei comprar roupa mas resolvi calar a boca da torcida lá de casa. Tomei foi vaia: as camisas, todas, eram rigorosamente iguais. Mas não é isso que se faz quando a gente gosta de alguma coisa?
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foto de agostinho: megafashionist.blogspot.com

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Clovis


Meu pai foi piloto nas décadas de 30 e 40. Teve um aluno, depois colega-amigo-compadre, Milton Pompílio. A amizade dos dois foi até depois de suas mortes. Eles nos criaram na certeza de sermos todos parentes; nós chamávamos de tios Milton e Anita e os filhos destes, Silvio, Clóvis e Tingo, chamavam de tios nossos pais. Primos, ponto. Meu pai era uma espécie de ídolo da família já que, além de tio Milton, todos os tres filhos seguiram a aviação como profissão. Silvinho morreu jovem, de infarto, após sair de uma academia onde se exercitara. Tingo parou de voar após um terrível acidente que lhe seccionou a traquéia, dando-lhe uma voz quase inaudível para sempre. Clóvis continuou piloto; era exímio e fazia o diabo com um avião e cansei de ouvir meu pai dizer, do alto de sua experiência de instrutor, que viajava tranquilo com Clóvis; ele nascera com o dom. A aviação fora feita para ele. Começou em monomotores e chegou a Boeing. Foi pra Vasp, fazendo linhas nacionais.
Dia belíssimo de sol no Morro de S. Paulo, meu pai refestelado na varanda em frente ao mar mas vivia perscrutando o ar, seu eterno ambiente. De repente, um grito:
-"Puta que pariu! este é Clóvis! Clóvis seu filadaputa!" e caiu numa gargalhada seguida de acesso de tosse de fumante, e concluiu: -com esta ele se fudeu!
Do horizonte se via um Boeing enorme, se aproximando de frente, voando quase rente ao mar, balançando as asas no cumprimento entre pilotos. Clóvis saiu da rota do Rio e anunciou aos senhores passageiros que eles iriam conhecer um dos lugares mais belos do Brasil e passariam sobre a casa do maior piloto de todos os tempos. Quase arranca as telhas da Casa Rola.
24 horas depois foi demitido. Sempre que alguem se referia a este episódio ( da sua demisão) ele deixava muito claro que "o que valeu mesmo foi ter cumprimentado tio Carmilton com um Boeing".
Este era Clóvis Revault de Figueiredo e Silva, meu primo, desaparecido no mar de Maraú. Foi pro céu de avião.
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foto: avidaebela.com

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

15 Anos

Entrar de penetra em festa de 15 anos era quase uma profissão para os frequentadores da década de 60. Os principais acontecimentos debutantes se alternavam entre o Hotel da Bahia, a Cabana da Barra e o CIREX ( este EX era de Exército ). Me desculpem os mais jovens mas nem vou contar onde ficavam estes salões de festas, mas era tudo de milico, como tudo neste país nos anos de chumbo. Entrar de penetra era uma instituição, faltando apenas o regulamento. O uso de paletó era obrigatório, portanto, penetra que se prezava, tinha paletó descansando no armário. Gravata fininha. Terno "caneta parker" era quase sempre proibido por sugerir um improviso de penetra-de-meia-tigela. Circulavam estórias formidáveis de penetras bem sucedidas e casos escabrosos de fracassos, uns trágicos e outros tantos, cômicos.
Dois casos merecem registros por acontecerem com amigos próximos.
Caso 1: Raul, sempre acompanhado de Mula Gaza, além de conseguir entrar, tinha de garantir a bebida do fim de semana. Era feita uma aposta e ele ganhou com louvor. Cirex, orquestra se acabando no palco, valendo um engradado de cerveja: dançar com a aniversariante. Nunca foi de bom tom dar mala. Ela aceitou e em poucos segundos percebeu um cheiro terrível que vinha do parceiro. Tentou se soltar mas ele a segurava firme para completar os 3 minutos contratados pela aposta: dançar todo cagado. Levou a cerveja. Mula Gaza nem bebeu porque não conseguia parar de rir tres dias depois.

Caso 2: Salão de festas do Hotel da Bahia. A gangue de penetras calculou tudo para roubar o peru. Nº 1: apaga a luz, o nº 2 : próximo do objeto do furto, pega o peru a arremessa a meia distancia para o nº 3: do lado de fora da janela recebe o lançamento e o nº 4: na rua, com o motor do carro ligado. Ao sinal do nº 2 a luz se apagou. Segundos de suspense, um corre-corre e as luzes são acendidas. Lá fora os canalhas atônitos, se olham antes de disparar noite adentro. No salão, bem juntinho à janela, uma senhora empoada, sentadinha e perplexa, sem saber como aquele peru foi parar no seu colo.

Post em homenagem a meu primo Clóvis, piloto porreta e penetra profissional ( o nº 3 do caso acima ), desaparecido há poucos meses num acidente de avião em Maraú. Seu corpo está sepultado no mar.
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foto: clubedelanacion.net

xeudizer:

anotações livres, leves, soltas