sexta-feira, 31 de outubro de 2008

IAPSEB


Centro Administrativo da Bahia, 4ª Avenida, Plataforma A: Secretaria de Saúde do Estado. Trabalhei naquele prédio de 1983 a 1990 e foi ali que desenvolvi outro de meus hábitos estranhos: o uso do sanitário. Já contei, sem o menor constrangimento, que faço os Caixas Eletrônicos de mictório. Xixi é sopa, a gente solta em qualquer lugar. O resto não faço em determinados lugares nem sob tortura!

Eu sou tão maluco...

Quando eu entrava no sanitário da SESAB para lavar as mãos, escovar dentes ou fazer xixi, sempre havia algum engraçadinho que fazia piadinhas com quem estava fazendo coisa séria, e com muito esforço. Às vezes era exatamente o sinal deste esforço que dava motivo às brincadeirinhas de mau gosto.

-"comeu cachorro morto!"

-" pode rezar pela alma que o corpo está podre!"

Eu odiava aquelas pessoas e cada vez que presenciava aquilo , crescia em mim a certeza de que jamais passaria por aquela situação. Mas, trabalhando em tempo integral, como faria numa urgência? Foi quando me ocorreu a saída genial. O medo era apenas que as pessoas fizessem piadinhas comigo, sendo identificado como o personagem esforçado. Se ninguém me conhecesse, não teria problema.

Eu sou mesmo muito maluco.

Sempre que me ocorria uma urgência intestinal, descia o elevador, atravessava o estacionamento, cruzava as duas pistas, outro estacionamento, mais um elevador e ia concentrar meus esforços no ultimo andar do IAPSEB. Lá, ninguem me conhecia e as piadinhas, nem parecia que eram comigo. Aquilo sim, é que era paz de espírito. Hoje toda a família já conhece o dizer, mas na época Vera era minha única confidente e disfarçava quando perguntavam por mim.
E continua a paranóia. Se formos a um encontro, todos conhecidos, encontro dos blogueiros por exemplo e me ouvirem dizer "-vou ao IAPSEB", não me sigam. Nem comentem nada depois!
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foto: secbahiablogspot.com; ex-iapseb

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A volta de quem não foi


Estou me sentindo como aquele imbecil que trancou as meninas no apartamento pra dar um susto, depois foi fazendo merda até não saber mais como voltar e meio mundo de gente ficou do lado de fora berrando: "-saia! saia!..." Fez o que fez.

Olhando bem, fiquei apenas dois dias sem postar! Aeronauta já ficou mais de cinco, Sampa, dois ou três de calundu, Marcus já vi sumir até seis, Jana idem e vcs caem de pau nimim?! Injustos! Tive um ataque de pelanca, sim, mas tenho direito. Vera me chama de mascarado quando ela me pede pra dizer ou fazer alguma coisa e eu me recuso. Agora estou esperando a alcunha: "-Mascarado!" Né nada disso; foi uma crise, braba, mas as brisas a estão afastando de mim. Graças aos bons ventos! Fico emocionado e grato pela força e tentativas de me arrancarem da nuvem má, que estava me levando pra longe, na verdade para além da própria Pasárgada. A partir de agora, escolho minhas nuvens.

Outro motivo, este mais terreno, me afastou do vício. Minha amiga Ioná foi eleita Prefeita de Camamu, derrotando dois coronéis donos de currais e me convocou, sem direito a recusa, para ser seu Secretário da Saúde. Topei e agora estou enrolado no xale da doidia, como diz a prima-gênita. Estou em viagem-relâmpago à Bahia, à cata de recursos para botar nos eixos a saúde daquele lugar lindo. Nas minhas elocubrações já pensei até que, se me aporrinharem muito por lá, chamo a Menina da Ilha, já famosa na Chapada e em Tinharé, para ser também a heroína da Ilha Grande! Levo Maria para Secretária de Planejamento, Marcus de Comunicação, Aeronauta da Cultura e Jana, Secretária de Truques! Ah!, Miro será nosso Secretário de Relações exteriores, Luli do Meio Ambiente...
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ilustração: vivaladesign.com

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Vou voltar?

O texto que teimou em não sair!
Depois que aprendi o caminho pras nuvens, não me arrisco a descer; lá embaixo tá russo! Marcus, ameaçado, se vê na possibilidade de jamais voltar ao Morro, o que é um castigo e tanto. Judith, desesperada, noivou-se sozinha; comprou uma aliança e o noivo, de tão longe, nem pode se defender. Maria se recusa a ler qualquer coisa além de jornal e se queda nos dengos de Juliana; Luli ameaça mudar tudo na vida e isso pode ser perigoso; João foi reeleito; Miro está congelando em Berlin, com Gordon doentinho e deixando-o isolado do mundo; Aeronauta leu meu livro, gostou, fez uma resenha belissima e pede um exemplar pra gente importante ler, um escritor de verdade; Marcus berra de um lado: -quero o meu!, Janaina, a sem-livro, ameaça não falar mais comigo se não receber o dela, lá nas Alagoas ou nas Paraibas; Renata deixa Vestígios que tambem quer o seu; a Menina da Ilha, se a gente não agradar, dá porrada! e eu não sei como atender este povo todo. Vou passar a bola pra Judith resolver - se ela já tiver resolvido o imbroglio noivístico com o galego lá dela; Sei não...acho que vou-me embora pra Pasárgada.
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sábado, 25 de outubro de 2008

Nas nuvens

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Hoje não consigo escrever nada.

Quem quiser ler alguma coisa minha, visite o blog da Aeronauta.

Estou besta.

Hoje quem está nas nuvens sou eu.
foto: dudu mazzocato
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sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Frases perfeitas II

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Meu irmão Eduardo em lua-de-mel em Salvador, passa as duas primeiras noites de núpcias no sítio de Mena, na Estrada Velha do Eroporto. No terceiro dia, vai à cidade visitar meu avô Chimbo. Apresenta a nova esposa. Vô Chimbo pede à Diva que "leve a menina à cozinha para lhe servir uma merenda". Tão logo ficam sozinhos, vem a pergunta, cortante:
- "Já tem amante?"
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Vô Chimbo, lembrado hoje no blogue de Maria.
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Cão baldio *

* sugestão de Nelson Magalhães.

Zulu está de volta. A rede de informações funcionou. Ironicamente quem o localizou foi quem menos queria que o traste voltasse: meu compadre Raul. Me acordou às 6:30 aos berros:

-"o demônio está no Posto de gasolina!"

Demorei uns quinze segundos para concatener as idéias, defenestrar o mau humor e engolir o desejo de retrucar quem era o "demônio". Depois me lembrei que vou almoçar com ele e achei melhor não dizer nada; meu compadre adora envenenar um desafeto.

Acordei Zé, voamos de carro e só quando avistei o meliante me dei conta que estava de cueca mais uma vez! está se tornando um hábito enfrentar problema de cueca. Zulu estava em companhia de um tipo, um cachorrinho destamanhinho mas com uma cara de quem conhece as coisas. Deu pra ver quem era o chefe. Acompanhava-os uma cadelinha digamos, simpática. O cachimbo estava inchado mas uma cara de satisfeitíssima e percebi logo o motivo da fuga em massa. Ela é quase uma Jessica Rabitt canina. Ponto para os meninos. Desfeito o triangulo, caminho de casa. Antes, passamos na delegacia onde o fugitivo foi devidamente identificado e registrado o BO. Depois, um banho, comidinha ( deve estar farto de lixo), um esporro e cama!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Nana


Nana disse...
Incrível pai. O ciclo da vida surpreende. Enquanto uns se vão, levando consigo tristezas e saudades...outros chegam repletos de sonhos e alegrias. Gostei do encaminhamento temporal da história, ficou dez!!saudades...

ps.o resultado do colégio saiu. Sua caçulinha tá de 2º grau completíssimo!
23 de Outubro de 2008 16:04



Minha filhota caçulinha, me faz duas surpresas: comenta com muita personalidade o meu texto e me dá a boa notícia de que está prontinha para o vestibular. O que teremos aqui, uma médica ou escritora?
Parabéns filha, e obrigado pelo comentário.
eu e nana, foto de vera

O fugitivo

PROCURA-SE

Nome: ZULU
Raça: ROTWEILLER
Idade: 1 ANO E SETE MESES,
Desapareceu de sua residência desde segunda feira, cão acima identificado. Foi visto pela ultima vez na casa de meu compadre Raul, onde matou um galo, uma galinha, seis pintinhos, deixou à beira da morte seu desafeto Timão, um Street Dog que meu compadre insiste em chamar de "policial" e ainda tomou a namorada de Doc, um Little Steet Dog baixinho e simpático. Zulu deu-le umas xapuletadas, também. A secretária do lar chamou a polícia mas o meliante evadiu-se do local, fugindo pelas sombras. Informações dão conta que se iniciou uma busca como nunca dantes se viu em Ituberá: eu de carro e Zé de bicicleta. Nem sombra. Meu compadre ficou muito puto, nem sei porque tanto, afinal sobrou um pintinho e dá pra começar uma criação com um pintinho. O "policial" na verdade, recebeu o que merecia: andava atacando as gentes que passam pela rua; Já o Doc, este não merecia nem ser corno. De todo modo, mandei anunciar na rádio uma recompensa para quem o localizar. O cão, apesar de meio louco -não suporta criança, odeia negros, não reconhece Vera sempre que chega de viagem, é meu cão e gosto dele.
Quem avistar, favor ligar para mim.
E PAREM DE ACHAR QUE TUDO QUE ESCREVO É MENTIRA! QUERO MEU CACHORRO!!!

foto de bernardo: zulu

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Interiores


Vida de médico no interior me proporciona o inusitado. Hoje morreu um conhecCor do textoido, mas não tinha intimidade suficiente para ir ao velório. Além do mais continuo achando esquisito, médico comparecer a velório; fica parecendo que foi conferir seu erro, mesmo não sendo. No mínimo todos pedem para medir a pressão. Não escapei. Fui pego pelo braço, na rua, chamado às pressas: o defunto estava respirando! "Podia ser pior", pensei, já que respirando é que não deve estar mesmo! Na dúvida, não levei o tensiômetro. Velório do interior: fora, os amigos bebiam o morto descaradamente, em homenagem ao biriteiro que partia. Dentro, a família louca para me ouvir dizer que, realmente, o morto estava vivo.
- Tá saindo umas bolhinhas pelo nariz, pocando assim: poc...poc...Ajeitei os óculos e conferi: saía, de fato, umas bolhinhas tipo de sabão, do nariz do defunto.
Quem tem sangue fraco, interrompa aqui a leitura.
Havia secreção nasal, que os gases internos, já produzidos em profusão, transformavam em bolhas. poc...poc. Explicação científica dada, uma pelota de algodão em cada narina e, missão cumprida.
Parece mentira de contista, mas tenho dezenas de testemunhas: fui novamente agarrado pelo braço, na porta, por um rapaz desesperado:
-Doutor, minha mulher está parindo! Seis casas depois de uma morte, uma vida chegando. Cheguei a tempo de avistar a jovem de 17 anos, pernas abertas, cara de pavor e uma cabeça pra fora. No instinto segurei a cabeça e ela rodou. Duas manobras e o menino já estava sobre a barriga da mãe. Feliz e aliviada, ela nem sentiu quando tirei a placenta. Deus protege os inocentes: primeiro filho, um casebre de tábuas, sobre uma cama, uma unica lâmpada para toda a casa e um médico na porta. O garoto chorou bonito e a menina não teve uma rotura sequer! Gente pra ver o caco, na porta, metade vinda do velório, esperando o resultado. Quando ouviram o choro, pipocaram a aplaudir. Do Posto de Saude mandei vir o estojo de curativos e terminamos os procedimentos. Na saída ainda tomei uma, com o pai todo orgulhoso. Entrando no carro, recebi o pagamento pela voz trêmula de Leidiane, saindo pela fresta da parede:
-Deus lhe abençoe. Dia ganho.
quadro: lição de anatomia, de rembrandt

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Frases perfeitas I


Ouvida no serviço de som do navio Lobo Dalmada, que fazia o percurso Belém-Manaus, em 1974:

- Atenção senhores passageiros da premêra crasse: dirijam-se ao salão de refeiçãos, onde será servida a referida!


Maria Sampaio é testemunha auricular.

20 de outubro


Há dias para se comemorar e dias para se esquecer. O que fazer com os que nos dão motivos para os dois? Neste dia perdi minha mãe, na mesma data em que comemoramos o nascimento de Meninha. Para quem já conhece as histórias de Mena, a irmã, apresento -lhes a sobrinha, a quem coube receber o nome da outra.


Sobrinha, adotada recentemente como filha, passou o dia ontem todinho preocupada se eu lembraria seu aniversário. Sabendo disso, fiz um misteriozinho, e só à noite bati na sua casa. Uma torta de palmito, outra de chocolate, Fanta Uva - tudo que gosto na vida e todos os presentes descobriram que a comilança era pra puxar meu saco. Na saída, se entregou:


- Ô meu tio, pensei que ia sair no seu blog!


Dei mais uma disfarçadazinha. Amanhã eu posto, hoje não, estou de barriga muito cheia, capaz de só falar da comida, que estava divina. Amanhã eu posso dizer, e ela vai ler bem aqui, que ela é a filha que eu escolhi.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Paraguaçu, 1933


Dou dez contos de réis a quem encontrar uma mulher na foto. Clique na foto para ampliar.


Por que será que não as vemos:

a) não havia mulheres no mundo ainda ( todos com as costelas intactas).

b) mulheres não viajavam de vapor.

c) estavam todas no galpão coberto

d)todas foram lançadas ao rio para servirem de comida de peixe.

e) outras respostas a seu critério.
foto de valter cachaça, 1933: ponte de atracação no rio paraguaçu

sábado, 18 de outubro de 2008

Aeronauta



"Estarei, amigos, na LDM. Escondida na estante onde tem escrito com letras vermelhas: Poesia. Minha roupa é de um azul bem tênue, quase que não se enxerga durante o dia. Meus sapatos vêm estragados pela escapadela de uma nuvem, nessa manhã de chuva, só para conhecer vocês de longe. Me esconderei entre os livros de Hilda Hilst, e os de Clarice, e os de Cecília. Ou então estarei na guarda-volumes, no meio dos objetos que ali não têm moradia: sacolas, sombrinhas, e livros de outros livrarias.
Postado por aeronauta às
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Domingo, 12 de Outubro de 2008

Menino, qual nuvem encontro para me esconder? Olhe, Bernardo, entregue o livro ao vendedor Edilson, tá? E, por favor, lhe peço: não faça perguntinhas a ele.Obrigada. Estou louca pra ler seu livro.(Não se esqueça da dedicatória.)
13 de Outubro de 2008 19:07"


E lá fui eu, com o coração aos saltos, levar a encomenda à nossa heroina misteriosa. LDM localizada, direto ao guarda-volumes tentando localizá-la, e ali vi o primeiro sinal de sua presença: gotinhas de chuva no balcão. Corri os olhos pra dentro da livraria.

-Sr.Edilson, por favor?

-É aquele conversando com aquela moça.

Era ela de novo, procurando um livro de poesia, escutei-a dizer Clarice...Hilda... e se afastou. Me apresentei:

-vim trazer uma encomenda que ficou de lhe ser entregue. E Edilson:

-então você é Bernardo, e a encomenda, um livro, é para dona...

Quase lhe tapei a boca! Não estrague tudo!

...-é a Aeronauta, disse, cúmplice!


Suspirei aliviado. Disse-lhe que queria escrever a dedicatória e ele, já com um sorriso suspeito, gentilmente me levou lá atrás, na sala de leituras. Escolhi a mesa, sentei e nem sei o que escrevi. Quando me levantei, na mesa em frente, ela de novo. Levantou os olhos do livro ( Cecília?) , me olhou suavemente e os cabelos muito longos foram ajeitados com um gesto. Quase percebi o mesmo sorriso do outro. Cumprimentei a Aeronauta e saí, quase correndo. Quando saí, Edilson estava de pé, na porta, encomenda nas mãos, aquele sorriso no rosto, e a cabeça balançava levemente. Ainda tive tempo de olhar para o alto e ver uma ponta de nuvem que sumia por trás do prédio...
foto de bernardo, da LDM-piedade

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Pausa

Peço um tempo técnico! Muita coisa em poucos dias da minha vida, num período em que meu coração está envelhecendo. Nos anos setenta, consultaria o I Ching e lá estaria que "a persistência no caminho certo trás felicidade". Hoje já não tenho tanta certeza assim. Desanimo com as pequenas derrotas, mas uma das vantagens de envelhecer é justamente a tolerância que aumenta na proporção direta. Não, amigos, nada de preocupar, são pequenas queixas.
Amanhã volto pra casa e tudo volta ao eixo. Amanhã Maria já estará melhor ( vai parecer molezinha mas é de dengo pra Juliana lhe paparicar, como se fosse necessário), dou uma trabalhada de dois dias, pego uns exemplares de Morte Abjeta para entregar aos amigos que desejaram, volto para o casamento de meu afilhado em Arembepe e parto para a aventura de entregar o meu livro à Aeronauta sem lhe desvendar a identidade secreta. Alíás, este assunto foi um rebuliço nas hostes blogueanas. Um saucero. Um frenesi.
Depois eu conto tudo.
Longa vida à Maria Sampaio! nós merecemos.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Morte Abjeta




Maria Judith Ribeiro é minha amiga desde os anos 70. Em 72 namoramos e acho que não nos suportamos mais que seis meses e decidimos ficar amigos, que era mais negócio, se bem que ela nunca engoliu a história de Tuca, a namorada que veio em seguida; ficou por aí algo meio que mal resolvido. Até hoje a menção da palavra Tuca lhe causa reações inesperadas, como se mijar em publico ou me esbofetear se minha cara-de-pau (SIC) estiver a seu alcance. Nunca perdemos contato, apesar de serem sempre entremeados de acusações mútuas, recheadas de carinho. Maria* sempre gostou muito de escrever, escrevia cartas de verdade, mandadas pelo Correio e tudo. Depois passou, não sem certa dificuldade devida à baixíssima coordenação motora**, para o teclado e e-mails. Um belo dia recebi um desafio de responder, como se verdade fosse, a um texto que me enviaria no dia seguinte. E recebi. Ela me avisava que, ao retornar de suas férias, teria sido testemunha de um assassinato no seu lugar de trabalho. Respondi com minhas preocupações e a partir daí e por quase dois anos, passamos a nos corresponder até concluir o "caso". Quando recebia seu e-mail, Vera lia e gargalhava com as maluquices em nossa troca de textos e insistia em que devíamos publicar para que outros também pudessem rir. Foi assim que nasceu Morte Abjeta, o livro. E já que seria publicado, chamamos os melhores para trabalharem nele. Capa, projeto gráfico e editoração eletrônica ficaram a cargo de Maria Sampaio, fotos de Célia Aguiar, revisão de Maria das Dores Jonas e Sonia Simon, com apresentação de Alberto Saraiva e orelhas de Pablo Sales e Desirée Dalia. Mil exemplares foram impressos e vendidos na Civilização. Nem sei se ainda tem por lá. Dia desses, por curiosidade, fiz uma busca na internet e apareceu o título à venda em alguma dessas livrarias virtuais. Em todo caso, tenho alguns exemplares em casa que de vez em quando ofereço de presente de grego a algum amigo desavisado. Se tiver alguem aí com interesse, me diga que despacho um. E se não gostar, nem me diga: há uma tradição de desejarmos uma morte semelhante.
* Há três Marias na minha vida: Sampaio, Judith e dos Cocos.
**mal comum a duas delas.

sábado, 11 de outubro de 2008

Ídolos II


Sou tiete de José Carlos Capinan e quando alguém se transforma em ídolo, é temerário o encontro entre o deus e o adorador. Foi assim quando encontrei Maria Bethânia: travei, abestalhei, babei e jurei nunca mais encontrá-la. Com Caetano foi diferente, ele se aproximou, pediu um cigarro e me perguntou sobre a baía de Camamu, como se ele fosse uma pessoa normal e não um deus; não tive tempo de tremer porque ele nem parecia um deus. Fiquei mais fã ainda. Pois um belo dia eu estava de boreste em Nilo e a diretora do ginásio me convidou para participar de um evento cultural no dia seguinte. Eu participaria de uma mesa, ao lado de Capinan e falaria de "Cultura Regional e Oralidade", além de apresentar meu livro Morte Abjeta. Como assim falar de cultura com Capinan ao meu lado? Só se ele falasse de Esquistossomose, mas depois me dei conta de que ele também é médico, e foi meu contemporâneo, a quem via de longe, com medo dele me lançar um raio. Quanto ao meu livro, foi fruto de uma brincadeira que terminou editado e se não fossem a capa e diagramação de Maria Sampaio, jamais poderia se chamar de livro, não tem importância literária. Nada do que escrevo pode ser mostrado na frente de Capinan, sob pena de morte imediata por vexame agudo. Não dormi, mas não fugi. Chegou o dia e o cara veio junto. Nos apresentaram e ele me ouviu atentamente e de uma forma tão calorosa, íntima, amigável que achei que deus era de carne; elogiou minha fala que foi simples mas até eu achei boazinha, também. Ele não falou: cantou e encantou. Me deu um livro seu, Vinte Canções de Amor e um Poema (Quase) Desesperado, autografado com muito carinho. Não tive coragem de fazer o mesmo, podia quebrar o encanto. Uma platéia enorme e na mesa, eu e José Carlos Capinan. Ao final, uma festa. Um estudante comprou um livro meu e pediu que o autografasse; tive meus quinze minutos de fama.
foto de capinan:PROJETOvip

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

É leptospirose!!!


Em 79, recém-casado, morava na esquina da Manoel Dias com Guanabara, e Maria logo ali pertinho na Ubaranas, maison 7. Rara noite em que um não ia à casa do outro. Certa noite Morena atendeu o telefone e disse que devíamos ir urgente à casa de Maria porque algo de muito grave acontecera. Voei as duas quadras, atravessei a porta quase atropelando a imagem de S. Julião que ficava de guarda, levei o vigia da casa nos peitos e encontrei minha prima deitada na cama, lívida, mãos cruzadas sobre o peito, uma das pernas nua e pintada de tinta vermelha do dedão até o joelho, esperando a morte chegar. Com um fio de voz foi me dizendo:
-" primo, tô fudida! acho que peguei a doença do rato, como é o nome? lepsxstossxpisxrose". Já suspirei aliviado, afinal tinhamos nos visto na véspera e ainda não havia nenhuma história de contágio.
-" me conte tudo, desde pequenininha", pedi. O relato veio completo de detalhes como convém à maior das hipocondríacas, daquelas que não tomava um copo de cerveja sem engolir antes ( e depois ) dois comprimidos de Engov comFiorinal.
-"Cheguei em casa agorinha, entrei pela garagem e niqui botei o pé no chão, um rato passou picado por cima do meu pé!" Corri, tomei um banho, passei Merthiolate na perna e chamei meu médico. Tenho escapatória?"
Taí, vivinha da silva até hoje e continua chamando a doença "que teve", de lepsxstossxpisxrose.


quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Caro ouvinte




Participo de um programa da rádio local respondendo dúvidas sobre saúde, principalmente a da mulher. Isto já me deu alguns embaraços ao ser identificado e tratado como por star; fico podre de vergonha. E recebo muitas cartas. Uma delas me chamou a atenção: era de um senhor de 86 anos com o unico desejo de me conhecer. Passei quase seis meses, ou mais, relutando em atender a este caro escrevente e ouvinte, absolutamente dividido. Não queria passar a imagem de estrela, ao tempo em que pensava por que não? mas ele não queria saber nada sobre próstata ou espinhela caída. Só queria me conhecer, não sei se devo atender a isso. Me idealizou pelas ondas do rádio e entezou: "- quero conhecer Dr. Bernardo". Hoje, passando por uma rua sem calçamento para um velório, uma Agente Comunitária de Saúde me apontou a casa do fã secreto, ao lado da casa da defunta. Fui lá. Fiquei mais contrangido ainda com a recepção. Seu Agenor é cego, se levantou de sua cadeira cativa me deu um abraço longo e não largou mais minha mão enquanto conversávamos. Lá pelas tantas arrisquei saber o motivo de querer me conhecer e ele me garantiu que me conheceu menino pequeno na fazenda onde me criei, trabalhando para meu pai, e me falou com a voz ainda forte e a cabeça inclinada e o olhar morto pro outro lado, como os cegos, que falar comigo, estar comigo tantos anos depois, era a melhor maneira de se lembrar de quando era jovem, de quando podia ver. Ao me ouvir no rádio, avisava a todos que aquele doutor que está famoso, que todo mundo admira, ele quase viu nascer. De todas as suas referências, eu era a mais antiga. Não havia nada de tietagem no seu desejo. Seu Agenor ganhou um fã.


terça-feira, 7 de outubro de 2008

Idolos


Canso de dizer que admiro dois personagens, um brasileiro Virgulino Lampião e outro universal, Ernesto Guevera de la Serna. O primeiro, ídolo de infancia, quando as estórias ouvidas se confundiam com as de Jerônimo, o Herói do Sertão. O outro, o Ché, me arrebatou na juventude com sua ideologia, coragem e espírito libertador e revolucionário. Não acredito que alguem de nossa geração não tenha se rendido à sua imagem.

Esses personagens sempre foram, no entanto, distantes, inatingíveis. Minha sorte é que sempre tive um ídolo pessoal, palpável, pertinho de mim: Maria Guimarães Sampaio. Não me lembro quando tive a certeza de sua presença, foi aparecendo assim, devagar. Em nossa primeira imagem juntos, estou nu, sem calção, mijado, segurando sua mão, ela também uma menina já que apenas cinco anos nos separam. Foi minha primeira parenta a entrar na faculdade e começo a ouvir sobre sua militancia política. Nasce o ídolo. Os fins de semana em sua casa, seus laços com os artitas baianos. Veio Ibiuna e ela estava lá. Cresce o ídolo. Primeira mulher piloto de carro numa corrida louca em Salvador. No escritório da Casa Stella no 81 do Campo da Pólvora, nosso quartel general, nossa amizade se estreita. Casamento dela e meu, chamo para ser madrinha de meus quatro filhos. Divórcio dela e meu e nós lá...Carnaval e cinzas. Dançamos Cajuína. Bebemos todas, inventamos muitas e ameaçamos até fundar um bloco de Carnaval: Muitos Carnavais ou Netos de Chimbo? Pierrôs, Arlequins e Colombinas; tudo motivo pra farra. Maison sete na Amaralina. Super-oitos belíssimos dirigidos a quatro mãos. Mais amigos ainda, mais ídolo do que nunca. Na morte de meu irmão, a companhia inestimável dela e Tutu. A idade vem chegando pra nós dois. Maria está cada dia melhor, muito viajante, Oropa, França e África mas sempre volta pra Bahia, pra nós. Breve, vamos juntos a Buenos Aires. Vira escritora de mão cheia. Não há a menor diferença do meu amor pelas outras duas irmãs, Ana Maria e Mena. Eu tenho é uma paixão escancarada por Maria. Meus filhos a Vera me acompanham nesta paixão.
foto de maria, por iracema chequer e sequestrada por mim, da divulação de rosália roseiral-revista muito.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Jacu*



Ontem fiz um texto de gozação a respeito da eleição em que meu candidato perdeu. Hoje, sem gozação nenhuma, posso dizer: dormi a noite toda mesmo depois de ver algumas pérolas da nossa política. A candidata que nos derrotou é esposa do ex-prefeito, inelegível por corrupção; ela é laranja dele, e foi sua Secretária de Saude por dez anos e ambos são responsáveis pela situação em que hoje se encontra o município, entre os piores Indices de Desenvolvimento da Bahia. A renovação da Câmara foi quase nula, ou seja, nada mudou. Minha cidade é apenas um exemplo. Leo Krete da Bahia foi eleita (o) em Salvador. Nada contra tavestis mas ser eleito apenas por ser, e por dar gritinhos no horário político? E Mamãe, foi eleita em Feira? mesmo que não tenha sido, corremos risco com: Lau, Kojack, Binho do Ganso, Ligeirinho, D'lua de Lua da Lua ( é isso mesmo!),Gegê Só Alegria, Carlinhos Zoião e outros menos votados. Estes não foram eleitos mas, e os que foram? que segurança o povo nos dá de que escolheu o melhor para nossas cidades? Fico pensando no comentário que Marcus Gusmão fez da minha zombaria de ontem: -"Estou tentado a achar que o Sábio Edson Arantes é que tinha razão". Caro Marcus: não tenho tanto cuidado quanto você; eu tenho certeza que Pelé está(va) certo e repito com todas as letras: o povo brasileiro não sabe votar! E NÃO APRENDE.
* termo regional que designa quem pede a eleição.


domingo, 5 de outubro de 2008

Domingo negro

Nadei e morri na praia. Um ano lutando feito um feladaputa e perdi a eleição. Meu candidato perdeu por 23 votos. 23!!
Se meta em política, seu imbecil!

Ah! estou salvo, acabo de saber que minha candidata em Camamu ganhou por 250 votos! Ôba! ganhamos a eleição!!!
Toinho também ganhou em Taperoá!!!
Que felicidade!
Adoro política!!

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Faustino


Nos anos 70 surgiu nos muros da cidade da Bahia, uma figuraça: Faustino. Sua vida, seus amores, tudo escancarado aos olhos de seus fãs. Herói udigrudi, fake, simpático, idealizado por milhares de pensamentos, ninguém jamais lhe viu a cara e todos lhe conheciam os hábitos. Numa época de escassos ídolos, Faustino surge para nos aliviar. Por pouco tempo, mas foi ótimo! Brincadeirinha alienante? talvez mas, e daí?
Eis algumas pérolas de sua "biografia":

FAUSTINO...

...USA PATA-PATA.

...FOI NOIVO DE LAURA LACERDA.

...USA CAPANGA.

...CHEIRA O FIO DENTAL DEPOIS DE USAR.

...USA PERFUME LANCASTER.

... É ESCRITURÁRIO DO INPS.

Quem conheceu Faustino? me ajudem a lembrar...




Magritte por lothar woller

A Parteira Bernadete

Em 1980 concluí o Curso de Especialização em Saúde Pública na USP e fui imediatamente contratado pela Secretaria de Saude do Estado para trabalhar no Projeto de Desenvolvimento Rural da Bacia do Paraguaçu. Podia escolher entre quatro municípios onde me fixar e escolhi Maracás. Perto de Jaguaquara, o clima me atraiu, com altitude de 1000 m acima do níel do mar e temperatura média de 16 graus. É na verdade uma cidade com ar condicionado central, perfeita para calorento. Recém formado, fui com mala, cuia, cachorro, meninos e papagaio. Me apaixonei pela cidade e as pessoas me receberam como um filho que voltava. Fiz amizades que preservo até hoje, inclusive uma afilhada que sempre aparece aqui no blog. Ontem mesmo ela apareceu, desta vez como mensageira da morte. Me avisou que Detinha morreu. Bernadete Spínola, a parteira Bernadete, Detinha, minha Gordinha. Desde a Faculdade de Medicina que gosto de fazer parto; fui Aspirina, Aspirante e Interno da Tsylla Balbino e quem sai de lá pega qualquer coisa. Havia dois médicos em Maracás e tentei me destacar nos partos. Devido à minha imodesta destreza, logo a clientela cresceu. Detinha já era reconhecida como Parteira leiga e sua simpatia e amizade a indicaram para assistente, passou a ser minha parceira. Assim que completava a idade gestacional, eu encaminhava a paciente para Detinha que providenciava tudo. Quando chegava a hora, a parturiente a chamava, ela internava, fazia todos os procedimentos pré-parto e duas garrafas térmicas de café e só então me chamava. Quando dava, já deitava meio vestido; não raro acordava de madrugada com temperatura em torno de 10 graus, o saco colado na bunda, fazia um xixi com fumaça e ia devorar o café ou chocolate de Detinha. A gente ficava esperando o parto, conversando, às vezes por toda a noite - por que gostam tanto de parir de madrugada? era um questionamento bem constante entre nós. Era cansativo mas nunca foi enfadonho. Detinha fazia quase tudo e quantas vezes, num cochilo rápido meu, ela mesma não concluiu o trabalho? Era uma parteira segura, Detinha. Minha amiga, saudade de você. Não pude ir ao sepultamento mas não importa, ela sabia o quanto a admirava. Nunca mais fiz um parto mas todos que fiz, depois dela, sempre a tive como inspiração.

xeudizer:

anotações livres, leves, soltas